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Numa mistura entre o documentário e a ficção, Robert Altman (Cenas da Vida, Assassinato em Gosford Park) pegou um projeto desenvolvido pela atriz Neve Campbell (da trilogia Pânico e da série de TV Party of five) e transformou num filme que mostra o dia-a-dia de uma companhia de balé. O resultado vai além das apresentações. Mostra também o rigoroso treinamento, o processo de escolha de elenco e produção e execução de uma apresentação.
O elenco é quase inteiramente formado por bailarinos (que inclusive usam seus próprios nomes) da companhia Joffrey Ballet, de Chicago. As exceções são Campbell, Malcolm McDowell (Laranja Mecânica) e James Franco (Harry Osbourne, de Homem-Aranha). Ela interpreta Ry, uma bailaria que começa a despontar e que, além de treinar duro, tem de trabalhar à noite em um bar. McDowell é Sr. A, o diretor artístico (personagem inspirado no verdadeiro manda-chuva, Gerald Alpino), um homem que sabe o que quer e não gosta muito de discussões. E Franco é Josh, novo namorado de Ry, único do filme que não tem nada a ver com as rotinas de pliés e sapatos de ponta.
De volta às aulas
Bailarina desde os seis anos, Campbell chegou a estudar na National School of Ballet do Canadá, mas uma série de lesões a forçou a trocar a carreira de dançarina pela de atriz. Como produtora, co-roteirista e atriz principal deste projeto, ela conseguiu voltar aos tablados depois de um hiato de nove anos. Para não destoar do restante do grupo, ela trabalhou arduamente por dois anos ao lado dos bailarinos da Joffrey Ballet. Talvez pela montagem final, talvez pela minha ignorância total no assunto, não consegui notar nada nas suas coreografias que me parecesse falso.
Aliás, falar da beleza das danças chega a ser uma covardia. Por mais avesso que uma pessoa seja a esta arte, é impossível não ficar de boca aberta (e não estou falando de bocejos sem fim) ao ver o trabalho de coreógrafos como Lar Lubovitch e Robert Desrosiers, que também aparecem interpretando eles mesmos. As câmeras muito bem posicionadas mostram o que o público vê e também os detalhes que só o olho mecânico capta. Mas se esta não é sua praia, não precisa ficar com medo. Os números são sempre intercalados com o que está acontecendo fora do palco, seja a preocupação do Sr. A com seus dançarinos, ou a tensão de substituir alguém que se contundiu.
Se você estiver procurando por um filme no estilo mais tradicional, este roteiro desenvolvido por Barbara Turner (Pollock) em cima do argumento de Campbell é talvez o ponto mais frágil do projeto. Quase não há tempo para desenvolver os dramas pessoais dos personagens. Ry, que descobre que seu antigo namorado está saindo com outra bailarina, não fica chorando pelos cantos, e mesmo o poderoso Sr. A, que poderia ser um chefe do estilo "estrela" e autoritário, prefere deixar quem discorde de suas opiniões falando sozinho a se envolver em um conflito. Logo, presume-se que Turner e Altman preferiram mostrar várias peças, de diversas coreografias, de estilos dos mais variados e, nos intervalos, contar como funcionam os bastidores da Joffrey Ballet e a montagem de uma peça temática e grandiosa, a Cobra Azul.
E quem espera aquele diretor contestador de outros tempos, também pode ter uma decepção. De corpo e Alma mostra muito pouco das guerras de egos que devem haver neste seletíssimo grupo de artistas. O momento que chega mais perto disso é a festa de Natal, quando os próprios participantes do balé tiram sarro de si mesmos e de seus chefes, caricaturando os personagens de suas vidas.
No cinema feito por Altman, é assim. O que uns chamam de defeito, outros podem chamar de estilo.
Ano: 2003
País: EUA
Classificação: 12 anos
Duração: 112 min
Direção: Robert Altman
Roteiro: Neve Campbell
Elenco: Neve Campbell, Malcolm McDowell, James Franco
