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Lembra quando a imprensa internacional usou o gancho "cuidado, atores de carne e osso!" para falar de Final Fantasy, totalmente gerado em computador, com a última tecnologia em representação do "real"? S1m0ne (idem, de Andrew Niccol - 2002) vai um passo à frente e pergunta o que acontecerá quando este tipo de tecnologia realmente existir e convencer o público, substituindo atores por construções virtuais.
Mas não é tão sério quanto parece. Aliás, é uma comédia. Al Pacino interpreta Viktor Taransky, um diretor hollywoodiano que se esforça para fazer cinema de arte mas tem de lidar com aquelas estrelas e suas mil exigências, tratamentos especiais e outros esnobismos. Cansado dos estrelismos, e pressionado pelos produtores - entre eles sua ex-mulher, Elaine (Catherine Keener) - Taransky tem sua última chance em um presente dos céus. Às portas da morte, um de seus atores e grande admirador lhe entrega o software de manipulação que ele mesmo desenvolveu: o Simulation One.
Simulation One vira Simone. É o sonho de Taransky: uma atriz virtual, totalmente sob seu controle. Expressão, vestuário, voz - tudo perfeitamente como ele imagina, ao alcance de cliques. Seguem-se sucessos de bilheteria, Oscars, glamour, fãs ardorosos e a mídia impaciente por cavar fundo a vida da nova estrela.
A partir daí, o filme segue apenas este último aspecto, retratando a obsessão da mídia e de fãs que não vão descansar até conseguir um pedaço da nova carinha de Hollywood. Taransky trata-a como uma atriz real (e para quem está se perguntando: ela é de verdade, sim, e é interpretada pela modelo Rachel Roberts), mas tem de inventar diversas maneiras de mantê-la escondida - não só da mídia, mas também dos produtores de seu estúdio e dos atores com quem "contracena".
Andrew Niccol, diretor e roteirista de S1m0ne, vinha com um currículo promissor. Escreveu e dirigiu Gattaca, uma das melhores ficções-científicas já produzidas em Hollywood, e é o roteirista do polêmico O Show de Truman. Depois de duas obras tão importantes, S1m0ne desaponta. A crítica social e à manipulação da mídia, forte e inteligente em O Show de Truman, aqui perde a força e dá lugar a soluções arroz-com-feijão, tornando o filme previsível demais.
E ainda piora no final. Niccol resolve que tem de seguir a cartilha spielberguiana do drama familiar que dá ritmo à história, retratando a situação de Taransky com sua ex-mulher e filha, mas só consegue deixá-la exagerada e sobrepondo-se ao tema que deveria ser principal, o da mídia sedenta por uma atriz que não existe. O roteiro não consegue jogar bem com as duas linhas da história e acaba criando confusão ou minando suas expectativas. Por essas e outras, S1m0ne passou batido nos Estados Unidos, esquecido pelo público e rejeitado pela crítica, e chega ao Brasil com meio ano de atraso.
Por fim, mas não menos importante: Al Pacino está possivelmente no pior papel de sua vida.
Ano: 2002
País: EUA
Classificação: 16 anos
Duração: 117 min