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Jogos Mortais III (Saw III) custou por volta de 10 milhões de dólares para ser feito, ninharia para os padrões de Hollywood. Na tela, percebe-se.
Em 107 minutos de filme há uma única externa. Tomadas de interiores exigem recursos mínimos, e talvez não haja na produção um único set com mais de 100 metros quadrados. São, essencialmente, dois espaços: o QG do maníaco Jigsaw (Tobin Bell) e o complexo em que é mantido Jeff (Angus Macfayden).
Na trama, o sádico torturador desapareceu. Descobrimos que ele está em estado terminal quando, certa noite, após terminar seu turno no hospital, a doutora Lynn Denlon (Bahar Soomekh) é sequestrada e levada ao galpão abandonado onde Jigsaw está à beira da morte. A ela é ordenado que mantenha-o vivo tempo suficiente, até que Jeff, a vítima citada acima, complete o jogo em que está enclausurado. Se Jigsaw morrer antes do tempo, Lynn também morre.
Era muito comum, nos filmes B dos anos 40, assistir a cenas fechadas em pequenos set sem que nos fosse dado conhecer o espaço todo. Em outras palavras: produção barata não se dá ao luxo de construir uma casa inteira, apenas a sala-de-estar onde transcorre a ação. O problema de Jogos Mortais III começa aí. Dominar a encenação em um espaço mínimo exige talento. E o diretor Darren Lynn Bousman (Jogos mortais II), educado na era do videoclipe, com sua câmera-na-mão tremida, cortes rápidos com flashes e enxertos nervosos, se enche de artificialismos para dinamizar o espaço, por medo de não dominá-lo.
É um desperdício - boa parte dos 10 milhões são empenhados na construção das armadilhas de Jigsaw (o crucifixo levou três semanas para ser feito) e Bousman não tem a coragem de manter um plano fixo no equipamento, na tortura, por mais do que cinco segundos. Imagens têm um tempo mínimo para serem registradas pelo cérebro do espectador. E com a edição vertiginosa que impõe a Jogos Mortais III, o diretor anula o potencial das cenas. A seqüência das correntes seria muito mais eficiente - plástica e psicologicamente falando - se o diretor elegesse uma perspectiva frontal e se afiançasse nela por, digamos, mais uns dez segundos.
Parece muito difícil para a geração MTV entender: manter a câmera estática num ponto por algum tempo não é sinônimo de aborrecimento. Pelo contrário, se a intenção é despertar o horror no público, nada melhor do que impor a visão incontornável de um objeto medonho por um tempo maior. Imagine se a operação com a furadeira fosse filmada em um único take, o close do crânio... Isso sim é tortura cinematográfica.
Para fazer justiça, os malabarismos de Bousman dão bom resultado quando é preciso fazer a transição de uma cena a outra. Há uma variedade de pulos temporais no filme, indo e voltando na linha cronológica até antes mesmo da trama do primeiro Saw, e a maneira como o diretor mistura elementos não-lineares em um mesmo plano - Amanda (Shawnee Smith) atravessando um corredor e saindo num acontecimento de meses antes, por exemplo - são um maneirismo que funciona, especialmente para mascarar as limitações de espaço.
As referências aos filmes anteriores, aliás, são frequentes e é indispensável saber o que veio antes para compreender globalmente a história dos personagens. Falou-se aqui de muita técnica, das escolhas do diretor, mas o fato é que Jogos Mortais III está cheio de guloseimas para os fãs, como a reconstituição do banheiro do primeiro filme. Se o que você procura são esses paliativos, esbalde-se. Mas se você espera um pouco além do que a clicheria e a covardia visual de sempre, então vai ter que esperar mais.
Ano: 2006
País: EUA
Classificação: 18 anos
Duração: 107 min
Direção: Darren Lynn Bousman
Elenco: Tobin Bell, Angus Macfadyen, Dina Meyer, Kim Roberts, Shawnee Smith, Bahar Soomekh