Versão musical de Matilda traz frescor à história e valoriza seus pontos fortes

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Crítica

Versão musical de Matilda traz frescor à história e valoriza seus pontos fortes

Adaptação da Netflix tem protagonista forte e Emma Thompson brilhante como diretora vilã

Omelete
4 min de leitura
27.12.2022, às 12H10.
Atualizada em 27.12.2022, ÀS 12H24

A sequência inicial já dá o tom do que vem pela frente. Matilda: O Musical não é um simples remake. No longa recém-estreado na Netflix, a história criada pelo escritor britânico Roald Dahl e já conhecida do público chega para conquistar novas gerações com muitas cores e coreografias, que trazem frescor à narrativa e valorizam seus pontos fortes. Tudo isso sem trair a memória afetiva de quem cresceu assistindo ao filme de 1996, estrelado por Mara Wilson e dirigido por Danny DeVito.

A trama continua na medida para agradar os pequenos, com elementos cômicos e toques de fantasia, como as travessuras da menina de inteligência extraordinária contra o pai e a descoberta de seus poderes telecinéticos, em seus primeiros dias na escola Crunchem Hall, conduzida com mãos de ferro pela temida diretora Agatha Trunchbull (Emma Thompson). Mas também há espaço reservado para tons mais sombrios.

O drama é sublinhado pelas músicas, que nos oferecem um mergulho mais aprofundado nas emoções da menina - um exemplo é o número de "I’m Here", em que Matilda se coloca no lugar da personagem que criou em sua história. A atriz Alisha Weir, que vive a personagem-título, dá conta do recado com louvor. Além disso, o fato de o elenco infantil ser um pouco mais velho permite que a discussão sobre bullying no colégio tenha um peso maior no fim das contas.

No longa, que tem texto de Dennis Kelly, direção de Matthew Archus e canções de Tim Minchin (trio responsável também pela versão musical que ganhou os palcos em 2010), a protagonista é filha única. O convívio com os pais, no entanto, continua difícil. Apesar de essa parte ser mais enxuta na narrativa, é o suficiente para entender em que tipo de lar foi criada e com o que a menina precisa lidar diariamente: ela não tem com quem contar.

Um ombro amigo é a Srta. Phelps (Sindhu Vee), e uma mudança bem-vinda em relação ao filme dos anos 90 é a maior participação da personagem. Agora ela é uma livreira itinerante, que não só fornece as obras de que Matilda tanto gosta como serve de plateia para suas histórias inventivas, como o caso de amor entre uma acrobata e um escapólogo. É fofo o jeito com que ela se apega às narrativas da menina, mas também cumpre seu papel de amiga e ouvinte atenta. Afinal, Matilda lhe conta pequenas mentiras sobre o quanto seus pais a amam e querem por perto - algo em que a própria garota precisa acreditar. Mas a protagonista não consegue esconder por completo quem é, sua ficção transborda sentimentos verdadeiros, que deixam a Srta. Phelps preocupada com o que pode estar acontecendo no lar dos Wormwood.

Outra importante aliada da menina prodígio, Miss Honey (Lashana Lynch) também ganha uma conexão mais forte com a protagonista, com quem sua história se entrelaça de maneira curiosa nessa versão. À primeira vista, ela é o porto seguro de Matilda, é quem acredita nela e lhe oferece estímulo e proteção. Mas essa amizade tem mais a oferecer à professora, que é frágil e medrosa em um primeiro momento, mas se transforma ao longo da narrativa.

Já a diretora Agatha Trunchbull construída brilhantemente por Emma Thompson é assustadora mesmo nos momentos mais contidos. Basta um olhar ou uma mudança na postura ou no tom de voz para aumentar a tensão. Aqui, como no filme clássico, ela é apresentada como uma ameaça terrível e monstruosa antes mesmo de ser vista por completo em cena. Quando Matilda fica cara a cara com ela, já ouviu histórias horrendas sobre o quanto gosta de humilhar e torturar crianças. Mas a versão musical permite que o espectador veja Trunchbull além do olhar dos alunos. Em números como "The Hammer" e "The Smell of Rebellion", conseguimos acessar um pouco de seus delírios e de sua visão distorcida de si mesma e do mundo, com direito à sequência hilária em que ela imagina um mundo sem crianças e a si mesma com um visual mais angelical.

As canções também dão o merecido destaque ao grupo escolar, seja mostrando os desejos mais profundos de cada aluno na singela "When I Grow Up" ou a força coletiva das crianças em "Revolting Children", que se encaixa perfeitamente no clímax da história. Depois de tamanha intensidade, o final grandioso e colorido transforma a Crunchem Hall em um lugar de sonho. Mas é em um momento bem mais intimista que Matilda sente que já não está só, porque encontrou seu lugar no mundo real.

Nota do Crítico
Ótimo
Matilda: O Musical
Roald Dahl's Matilda the Musical
Matilda: O Musical
Roald Dahl's Matilda the Musical

Ano: 2022

País: Reino Unido, EUA

Direção: Matthew Warchus

Roteiro: Dennis Kelly

Elenco: Emma Thompson, Alisha Weir, Lashana Lynch

Onde assistir:
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