Os comentários do presidente Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de extinguir a Agência Nacional do Cinema (Ancine) repercutiram não apenas entre atores, produtores e cineastas brasileiros, como também entre a própria classe política.
Para Bolsonaro, o órgão oficial estaria usando recursos federais para patrocinar produções que fazem o que ele chama de "ativismo" e, por isso, seria necessário aplicar um filtro no que é aprovado pela Ancine. Um dos títulos usados como exemplo por ele foi Bruna Surfistinha, lançado em 2011. Dirigido por Marcus Baldini, o longa narra a história real de Raquel Pacheco, antiga garota de programa que ganhou fama ao desenvolver um blog sobre seus clientes.
A atriz e produtora Deborah Secco, a própria Raquel Pacheco e outros nomes do cinema nacional e da política se manifestaram contrariamente às posições do presidente. Confira a seguir algumas reações:
Deborah Secco
A protagonista e produtora de Bruna Surfistinha lamentou ao F5 os comentários de Bolsonaro. "Fico um pouco chocada com o 'Bruna' ter sido colocado nesse lugar, porque o filme retrata uma história real não só da Raquel, mas de outras milhares de mulheres que se encontram nessa situação".
Para Secco, um dos objetivos da arte é gerar debate e, por isso, não se pode fingir que temas como a prostituição não fazem parte do Brasil. "Queria muito que nenhuma mulher estivesse nessa situação, que tivesse que se vender para sobreviver, mas essa não é a realidade do nosso país. A gente precisa falar sobre isso".
Atores, cineastas e produtores
A atriz Sônia Braga, assim como o cineasta Kleber Mendonça Filho e o produtor Rodrigo Teixeira destacaram nas redes sociais o impacto econômico de Bruna Surfistinha.
"A indústria do cinema nacional movimenta 20 bilhões por ano, sem contar os setores indiretos como estacionamento, gastos em bombonière e restaurantes pré e pós uma sessão de cinema. Vamos falar sobre isso na #Expocine19?", escreveu Braga.
"Numa Democracia, qualquer tipo de filme pode ser feito", afirmou Mendonça Filho.
Raquel Pacheco
A empresária e escritora Raquel Pacheco, cuja história inspirou Bruna Surfistinha, também criticou a postura de Bolsonaro. Para ela, os comentários do presidente foram "infelizes".
"Antes de fazer juízo de valor sobre os outros, ele deveria cuidar da moral da própria família. E ainda do nosso país. Afinal, ele está cuidando demais do que não precisa e fazendo pouco o dever dele principal: que é ser presidente", disse à Folha de S. Paulo.
Alexandre Frota
O deputado Alexandre Frota (PSL-SP), do mesmo partido do presidente, afirmou que o filtro proposto por Bolsonaro "parece com censura". “Bruna Surfistinha foi uma boa produção que empregou muitos profissionais. Não tenho nada contra. Mas o Jair tem a opinião dele. Eu, por exemplo, não assistiria Superação: O Milagre da Fé e ele gostou. São gostos diferentes”, disse à colunista Mônica Bergamo da Folha de S.Paulo.
Sérgio Sá Leitão
Ao contrário do que tem sido falado, “Bruna Surfistinha” não é um filme erótico. Trata-se de um drama baseado na autobiografia de uma ex-garota de programa que aborda questões relacionadas à prostituição. Um tema atual que obviamente pode e deve ser tratado livremente pela arte.
— Sérgio Sá Leitão (@sergiosaleitao) July 19, 2019
O antigo diretor da Ancine e atual secretário de Cultura e Economia Criativa de SP, Sérgio Sá Leitão, também se manifestou no Twitter.
"Bruna Surfistinha também é um produto cultural. Sua realização gerou renda, emprego e desenvolvimento no Brasil, assim como sua comercialização. Um produto bem-sucedido, que teve um público de 2 milhões de espectadores e foi uma das 10 maiores bilheterias no ano de lançamento", escreveu em outro tweet.