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Crítica

Dona Flor e Seus Dois Maridos | Crítica

História de Jorge Amado volta aos cinemas com primor e um pouco de safadeza

06.12.2017, às 12H14.
Atualizada em 06.12.2017, ÀS 19H30

O cinema brasileiro é vasto. As comédias costumam ganhar mais destaque por conta da alta bilheteria, mas o país produz também dramas, filmes de ação, suspense, infantis e mais uma quantidade enorme de gêneros. É um mercado que cresce a cada dia e todos se beneficiam. Dentro dessa diversidade, estreia nos cinemas o ousado Dona Flor e Seus Dois Maridos, uma nova leitura da obra de Jorge Amado.

Quando chegou aos cinemas pela primeira vez em 1976, a história de Dona Flor chamou a atenção e gerou controvérsias. Afinal, envolve muito sexo, nudez e uma libertação do desejo feminino que era novidade até então. As coisas estão diferentes hoje, mas o novo filme também tem suas polêmicas para criar.

Não há spoilers sobre essa história: Flor é casada com Vadinho. Como o próprio nome diz, ele é um vadio, que vive em festas, baladas e jogatinas. É um leão na cama e faz Flor feliz, mas também a mata de preocupação e vergonha com suas bagunças pelo mundo.

Um dia, sem nenhuma explicação, Vadinho morre e a pobre Flor fica viúva. Depois de algum tempo sozinha, ela tenta o casamento novamente, dessa vez com Teodoro, o farmacêutico da cidade que é o oposto de Vadinho: calmo, trabalhador, dedicado e um amante questionável. Com saudades dos momentos de amor intenso, Flor chama por Vadinho e o morto volta como um espírito para completar a mulher que ama.

O diretor e o elenco do novo filme afirmam que não assistiram ao antecessor e se basearam apenas no livro de Jorge Amado. Apesar disso, as duas produções possuem cenas bem parecidas, que repetem até mesmo alguns ângulos de câmera. Isso não é um demérito, afinal são bons planos para serem repetidos, mas é interessante ver como o livro foi interpretado de forma tão semelhante pelas duas equipes em épocas tão diferentes. As diferenças ficam por conta principalmente na fotografia quente do nordeste, que evidencia muito bem o cenário, os protagonistas e ajuda a estabelecer o clima da história que é contada.

Um dos grandes acertos de Dona Flor e Seus Dois Maridos é sua protagonista Juliana Paes. Veterana de novelas, ela expressa com uma exatidão dolorosa as dúvidas morais de Flor sobre ter seus dois maridos e a vontade de se sentir completa com aqueles homens. Assim como muitas jovens, Flor foi criada para ser uma mulher “direita” e se deixar levar pelo desejo físico é uma falha em seu caráter. Ou pelo menos é isso o que o mundo quer que ela pense.

Sobre os demais protagonistas, Marcelo Faria reprisa o papel que fez por anos no teatro e convence como o homem que gosta de curtir a vida, mas ama a mulher que lhe espera todos os dias. Vadinho não é santo e o filme não diminui seus defeitos, mostrando inclusive uma cena forte e injusta do marido com a esposa. Ainda assim, com todos os seus erros, ele é muito carismático e conquista o público assim como conquistou Dona Flor. Leandro Hassum tem muitos momentos de humor - talvez alguns que não precisassem existir - e faz um Teodoro calmo, apaixonado, mas apagado demais. Ao lado de Vadinho e Flor, ele fica em segundo plano.

Como na adaptação original, Dona Flor acerta ao falar abertamente sobre o desejo sexual da mulher e tratar disso sem rodeios ou piadas. Flor gosta de sexo e sexo bom. E não há problema nenhum nisso. É possível dizer que em 2017 as mulheres possuem mais liberdade do que em 1976, quando o primeiro Dona Flor chegou aos cinemas. Porém, o recente retorno do puritanismo mostra como é importante ter essa história novamente nos cinemas. Quando percebe que será feliz realmente com seus dois maridos, Flor dá um tapa na cara da sociedade e em nós também.

O novo longa provavelmente não terá o impacto de seu antecessor, mas levanta questões importantes. Por que três pessoas não podem ser felizes em um relacionamento? Aliás, o que os outros têm a ver com isso? Essa é a mensagem que Dona Flor passa com louvor: a vida é curta para se ter medo de ser feliz. Sempre haverá alguém para apontar o dedo e ditar o que é um relacionamento “certo” ou “errado”, mas não vale a pena ser infeliz por isso. Dona Flor e Seus Dois Maridos faz o que o cinema faz de melhor: usa fantasia para enxergar a realidade. E tudo isso sem medo de ser um pouco safado.

Nota do Crítico
Excelente!
Dona Flor e Seus Dois Maridos
Dona Flor e Seus Dois Maridos

Ano: 2016

País: Brasil

Classificação: 16 anos

Duração: 95 min

Direção: Pedro Vasconcellos

Roteiro: Pedro Vasconcellos

Elenco: Juliana Paes, Marcelo Faria, Leandro Hassum

Onde assistir:
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