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Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban, adaptação do terceiro livro da série literária escrita por Joanne Rowling, chega às telas com novo diretor e produção impecável - a melhor dos três filmes até aqui.
Fotografia, efeitos especiais, elenco, cenários, tudo beira a perfeição técnica. Nada mais coerente, entretanto, se considerarmos o orçamento da produção: 130 milhões de dólares. Dá pra errar com uma verba dessas, mas é difícil.
A diferença na direção já pode ser sentida logo de cara, nos primeiros minutos. O mexicano Alfonso Cuarón (E sua mãe também) desenvolve um clima bastante diferente das aventuras dirigidas pelo "certinho" Chris Columbus (Harry Potter e a pedra filosofal e Harry Potter e a câmara secreta). Ele arrisca algumas sacadas de humor negro, transições estilosas entre as cenas (Dumbledore surgindo do meio de um coral de estudantes, por exemplo), alguns ecos do expressionismo alemão (Potter frequentemente é envolvido por fade-outs na forma de máscaras, como os utilizados por Fritz Lang) e prefere as tomadas externas, carregadas de clima sombrio, em detrimento aos grandiosos cenários dos dois primeiros filmes. As opções parecem refletir melhor os temas fantásticos de Harry Potter, como a seqüência em que o menino bruxo voa maravilhado nas costas de um Hipogrifo (uma mistura de cavalo e águia).
Seria uma diversão irretocável, não fosse um defeito colossal: Azkaban tem o pior roteiro da série. Algo injustificável, já que o terceiro livro de J.K. Rowling tem uma das melhores histórias dos cinco volumes já lançados nas livrarias.
Se nos dois primeiros filmes já havia uma certa aura de "adaptação pra quem já leu o livro", pela falta de certas explicações cruciais, O prisioneiro de Azkaban simplesmente parece esquecer a audiência não familiarizada com a obra de Rowling. Elementos importantes da história são desconsiderados, deixando uma sensação de cenas soltas, sem amarração narrativa. Assim, o público que não teve contato com o romance deve perder boa parte - pior... a parte realmente inteligente - da diversão. Afinal, qual a vantagem em se produzir uma adaptação que precisa do material-base para se sustentar? Dessa forma, o filme não passa de uma espécie de livro ilustrado modernoso.
Claro que isso é um mero detalhe para os fãs do livro. Certamente, eles não devem se importar, afinal, conhecem os detalhes da história de trás para frente e podem desfrutar do que a produção tem de melhor: a atmosfera.
Trio adolescente
Cuarón caprichou no clima da aventura. Pra começar, tirou os pesados uniformes dos estudantes de Hogwarts e deixou os atores vestindo roupas normais durante boa parte do filme. Dessa forma é mais divertido observar como os protagonistas cresceram e deixaram de ser aquelas crianças dos primeiros filmes para tornarem-se adolescentes. A mudança também é refletida na personalidade dos personagens. Harry (Daniel Radcliffe), Ron (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) não levam mais desaforos para casa. Estão "respondões" e dão o troco até mesmo em Draco (Tom Felton, exageradamente afeminado) e seus asseclas. Aliás, é esse novo comportamento de Harry que dá o empurrão inicial da história, ao fazê-lo fugir da casa dos tios logo no começo do filme, depois de um incidente com a irmã de seu tio. Sem rumo, Harry acaba resgatado pelo Nôitibus Andante, um ônibus que transporta bruxos e bruxas perdidas, numa das seqüências mais divertidas do filme.
É justamente nesse veículo que o ex-menino, agora adolescente, descobre que Sirius Black (Gary Oldman), um temido e odiado bruxo assassino, conseguiu um feito inédito: escapar da prisão de segurança máxima de Azkaban. Acontece que o criminoso tem um certo interesse em Harry Potter, o que faz com que o Ministério da Magia tome as devidas precauções para aumentar a segurança da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts: um destacamento de Dementadores - os implacáveis guardas de Azkaban - é enviado para a instituição a contragosto do diretor Dumbledore (Michael Gambon, substituindo sutilmente o falecido Richard Harris).
Cercados pelas encapuzadas criaturas negras - cuja realização foi muito feliz, já que as diferenciou bastante dos Espectros do Anel de O Senhor dos Anéis - os estudantes continuam o seu ano letivo até que surgem evidências da entrada de Sirius na escola. Mesmo ameaçado pelo assassino, Harry decide encontrá-lo para resolver assuntos pendentes, algo que ele descobriu durante uma excursão clandestina ao povoado de bruxos colado à Hogwarts. Contudo, o jovem feiticeiro não desconfia que a divisão entre o bem e o mal não é mais aquele preto e branco contrastante das suas aventuras anteriores. Agora, como nas paisagens sombrias registradas por Cuarón, há uma gama de cinzas que mudará sua vida para sempre.
A ameaça também criará uma forte ligação entre Harry e Lupin (David Thewlis), o novo professor de Defesas contra as artes da trevas. Aliás, outro dos pontos fortes do filme é a série de aulas particulares de Potter com o novo mestre - mérito de Thewlis, que convence como o atormentado professor.
Sem espaço para grandes atuações, resta aos demais integrantes do elenco principal - Gary Oldman (Sirius), Emma Thompson (a professora de Adivinhação) e Timothy Spall (Pedro Pettigrew) - apenas duas ou três cenas importantes, um mero prenúncio do que virá pela frente nos próximos filmes. Com um roteiro melhor, esperamos.
Ano: 2004
País: EUA, Inglaterra
Classificação: LIVRE
Duração: 0 min
Direção: Alfonso Cuarón
Elenco: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Gary Oldman, David Thewlis, Alan Rickman, Michael Gambon, Robbie Coltrane, Tom Felton, Josh Herdman, Emma Thompson, Maggie Smith, Bonnie Wright, Pam Ferris, Richard Griffiths, Geraldine Somerville, Julie Walters, James Phelps, Matthew Lewis