Cena de O Mensageiro (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de O Mensageiro (Reprodução)

Filmes

Entrevista

O Mensageiro resgata tortura na ditadura e “traça paralelos” com Bolsonaro

Lúcia Murat, Valentina Herszage e Shi Menegat falaram do novo filme ao Omelete

Omelete
3 min de leitura
15.08.2024, às 06H00.
Atualizada em 15.08.2024, ÀS 11H52

Lúcia Murat fez O Mensageiro porque o momento político do Brasil despertou memórias da ditadura militar. Ex-integrante da luta armada contra ao regime ditatorial, Murat ficou três anos e meio encarcerada, período no qual sofreu torturas e interrogatórios parecidos com aqueles vividos pela personagem Vera (Valentina Herszage) no seu novo longa. A família de Murat, enquanto isso, só ficou sabendo do paradeiro dela porque um dos soldados da prisão onde ela era mantida aceitou levar uma mensagem clandestina para a mãe da futura cineasta - exatamente como faz Armando, personagem de Shi Menegat em O Mensageiro.

Ele foi fundamental naquele momento, porque minha família achava que eu só estava desaparecida”, comentou Murat em entrevista ao Omelete. Lembrando dessa história, me veio a ideia de trabalhar todos esses temas que estamos vivendo hoje: primeiro, a importância da memória, de não esquecer o horror que foi; segundo, a importância de mostrar que, mesmo em meio ao horror, você tem momentos de humanidade; e terceiro, se perguntar o que fazer agora”.

A cineasta lembrou que 58 milhões de brasileiros votaram pela reeleição de Jair Bolsonaro no segundo turno da última disputa presidencial, em 2022: “São 58 milhões de pessoas que votaram em uma proposta que glorificava a ditadura militar. Como você vai lidar com isso? São perguntas que eu tava me fazendo, e que eu acho que o filme faz”.

Curiosamente, O Mensageiro é protagonizado por dois atores que não viveram o período da ditadura militar - Valentina Herszage nasceu em 1998, e Shi Menegat em 1994. E ambos concordam que as gerações mais novas precisam de um lembrete do que aconteceu durante o regime.

A nossa geração é muito descolada deste período da história - e de muitos outros, também. Na escola, pelo que me lembro, a ditadura foi passada de uma maneira muito rápida, pelo que me lembro da escola, como um fato histórico - não se traz essa questão das histórias humanas daquele momento, o que o cinema por outro lado faz muito bem”, refletiu Herszage na conversa com o Omelete.

Na preparação para o filme, que começou ainda durante a pandemia de covid-19, ambos mergulharam em leituras e relatos de pessoas que viveram as dificuldades daquela época - mas também tentaram entender como ela se aproxima do que vivemos hoje. “Por estar vivendo um momento politicamente emblemático, não foi tão difícil se aproximar da ditadura. Falávamos muito sobre como a ideologia do Bolsonaro era de certa forma uma atualização do que existia naquele regime, então conseguimos nos conectar com isso”, apontou Menegat.

Herszage completou com um aviso: “O Bolsonaro não se reelegeu, mas a gente tem eleições vindo aí de novo... é muito importante entender de onde o Brasil está vindo para enxergar para onde ele vai.

O Mensageiro já está em cartaz nos cinemas brasileiros.

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