Inspirado em uma história real, Oye Lucky! Lucky Oye! começa com um repórter policial anunciando a fantástica prisão do ladrão Lucky Singh (Abhay Deol). A câmera passeia pela galeria de pertences furtados; tem até cachorro no meio. De repente, o cão foge dos policiais. Um deles pergunta a Lucky como recuperar o animal, e o ladrão responde: "Tem que chamá-lo com amor".
O filme do diretor indiano Dibakar Banerjee, que a Mostra de Cinema de São Paulo diz ser um dos expoentes do cinema independente de seu país, começa adotando esse formato tão comum hoje em dia: adianta o suposto final da história do protagonista e, a partir daí, volta no tempo para mostrar como chegou-se lá. A diferença é que o começo de Oye Lucky! Lucky Oye! não tem gancho climático típico - Lucky não está a ponto de morrer, nem nada assim. A informação essencial, implícita na fala sobre o cão, é que estamos diante de um clássico bom ladrão.
oye lucky
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E como Banerjee visivelmente adere à linguagem do cinema pop enlatado - em detrimento das situações musicais que normalmente se espera de Bollywood - Lucky é não só um bom ladrão como também um ladrão cool. É apresentado de costas, debaixo de um facho de luz, depois caminha em câmera lenta enquanto o enquadram em contra-plongeé (de baixo para cima). A embalagem se completa com muita trilha sonora cobrindo diálogos, de novo em câmera lenta.
É como um Caminho Perigosos, mas, em vez de tocar Rolling Stones, na boate só dá os indianos se requebrando.
Se o espectador conseguir relevar o problemático mimetismo da estética hollywoodiana, é possível atentar para a lição engajada que Banerjee está tentando aplicar. Porque Lucky representa os pobres. Era humilhado em restaurantes e hoje veste jaquetas importadas. Pilota motos descalço. Passa a perna no esnobe que fala inglês. Rouba para ser amado e respeitado, e quando não o amam nem o respeitam, rouba mais.
Chega a ser de extenuante como Banerjee gasta duas horas de projeção (de Bollywood ele conserva o gosto por metragens longas) para reiterar a imagem de Lucky como síntese da minoria incompreendida de um país de ricos emergentes. Mas em um momento ou outro há elementos (no texto, na imagem) bem sacados que evidenciam bem essa cultura da ostentação, como a mania das pessoas dizerem às outras "então fique com esse dinheiro para construir seu Taj!" ou os presentes que Lucky tem que dar constantemente a seu poderoso chefão.
No fim, ainda que emule modismos estrangeiros, Oye Lucky! Lucky Oye! tem aqui e ali toques que são tipicamente indianos.
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Ano: 2008
País: Índia
Classificação: 10 anos
Duração: 125 min
Direção: Dibakar Banerjee
Roteiro: Dibakar Banerjee, Urmi Juvekar, Manu Rishi
Elenco: Abhay Deol