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Crítica

A Nona Vida de Louis Drax | Crítica

História de formação juvenil recua até Vertigo para investigar o mundo de perversões dos adultos

19.10.2016, às 19H09.
Atualizada em 15.02.2017, ÀS 19H51

Típico filme que se revela melhor do que o trailer, A Nona Vida de Louis Drax (The 9th Life of Louis Drax, 2015), suspense baseado no livro homônimo de Liz Jensen, tem muito mais o perfil de uma fábula de formação do que mistério e conspiração, como davam a entender as prévias, concentradas do triângulo amoroso adulto que orbita o jovem narrador do filme.

A trama acompanha Louis Drax (Aiden Longworth), menino de nove anos que nos reconta, com graça, já nos minutos iniciais, como sua vida sempre foi marcada por acidentes. Quando no seu aniversário de nove anos ele cai de um penhasco e entra em coma - incidente difuso que envolve seus pais e alimenta o mistério central do filme - Louis passa a nos narrar a sua história com as cores e as formas de um sonho, enquanto um médico, o Dr. Allan Pascal (Jamie Dornan), especialista em teorias de comunicação com crianças em estado de sono profundo, tenta salvar Louis e entender o que aconteceu.

Conhecido pelos filmes de terror, o diretor Alexandre Aja constrói a partir dessa estrutura de whodunit (que culpa tem o pai de Louis? Que segredo esconde a mãe?) um misto de noir e conto de fadas que envolve o espectador pela harmonia com que combina esses gêneros, com um elenco bem escalado de atores-tipos. Jamie Dornan nunca poderia se sair melhor no papel do idiota charmoso que se apaixona pela loira insuspeita, função que Sarah Gadon exerce muito bem (e na qual sempre encontra algum tipo de variação discreta, como David Cronenberg bem sabe e valoriza). Vem da dinâmica dos dois o lado noir de Louis Drax, com a mãe fragilizada tragando o respeitado médico para um mundo de perversões sobre o qual nenhum dos dois tem muito controle.

De perversões, no mais, se faz o mundo dos adultos, e é a partir da consciência desse fato que o filme começa a se diferenciar. A criança em coma assiste à distância a uma espécie de Um Corpo que Cai (o clássico de Hitchcock que também envolve quedas livres e se passa em San Francisco, o que talvez não seja uma coincidência) cuja estética enevoada de sonho (também presente no filme de 1958) se justifica pela condição de Louis. A luz da cidade californiana banha os personagens como miragens, projeções de si mesmos, e ao adotar o viés das fábulas (com direito a criaturas do mar), Aja acondiciona seu filme dentro de certos limites, e não deixa que a adaptação se torne um exercício macabro de voyeurismo, como Vertigo.

As perversões estão lá, porém, e são importantes dentro do filme para que a história de formação juvenil se consuma. Tudo se resume à perda da inocência; a criança em coma no fundo está decidindo se desperta ou não para se tornar um desses adultos cheios de problemas, desejos, censuras e remorsos. Vemos em A Nona Vida de Louis Drax como o mundo dos adultos pode ser vertiginoso de fato, com suas trocas e suas consequências, e o clímax do filme não seria outro senão a ponte entre um extremo e outro, o menino falando através do homem formado, personagem que no fundo preserva os mesmos intintos primários de um filho que se apaixona incondicionalmente pela própria mãe.

Nota do Crítico
Ótimo
A Nona Vida de Louis Drax
The 9th Life of Louis Drax
A Nona Vida de Louis Drax
The 9th Life of Louis Drax

Ano: 2015

País: Canadá, Reino Unido, EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 109 min

Direção: Alexandre Aja

Roteiro: Max Minghella

Elenco: Jamie Dornan, Sarah Gadon, Aaron Paul

Onde assistir:
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