De alguns anos para cá, o público já se habituou com as comédias nacionais que tratam o dia a dia do brasileiro de um ponto de vista da oportunidade econômica. Mesmo com a crise, a ascensão social continua no cinema, e o diretor de Até que a Sorte nos Separe, Roberto Santucci, volta a esse tema em Um Suburbano Sortudo.
Com foco na cultura da periferia, o longa conta a história de Denílson (Rodrigo Sant'Anna), um camelô que descobre ser herdeiro de uma grande fortuna deixada pelo pai que nunca conheceu. Imerso em um mundo de riquezas, festas e carrões, ele precisa lidar com os outros membros da família, que não ficaram nada felizes com sua chegada, e com sua paixão por Sophie (Carol Castro), enteada de seu falecido pai.
Além de interpretar o protagonista, Sant'Anna faz o papel de todos os outros membros da família, cada um carregando consigo um estereótipo: a tia que cuida de todo mundo, o tio idoso e encostado, o rapaz que tem uma banda de pagode e sonha em fazer sucesso e a adolescente que vive na academia. Se você reconhecer tais clichês pode dar uma ou duas risadas. Do contrário, talvez ache forçado esse esforço de Sant'Anna de ser o Eddie Murphy brasileiro.
Ao humor de caricatura que Sant'Anna já exercitava na televisão, como um dos principais nomes do elenco do Zorra Total, o filme acrescenta um repertório específico, o da música popular que também atravessou diversas classes sociais desde os anos 1990, do pagode ao funk carioca (Um Suburbano Sortudo não perderia a oportunidade de fazer piada com a surra de bunda). De novo, é uma aposta num humor e em referências que parecem de nicho popular, mas talvez estejam já plenamente disseminados.
A trama também tenta ir além do humor com a história do pai de Denílson, que construiu um império dos móveis vendendo para pessoas humildes - algo que se assemelha muito à trajetória de algumas lojas brasileiras. Nessa parte, o diretor segue para a seriedade e coloca uma cena mais dramática com Sant’Anna, que não vai mal, mas também não parece muito à vontade.
De todos os elementos de ascensão social e econômica presentes em Um Suburbano Sortudo, só faltou tomar um pouco de coragem e levar em consideração que, na prosperidade, o público também pode crescer culturalmente. Com tantas produções do gênero sendo realizadas no Brasil, fica a vontade de ver um humor mais elaborado que não precise apelar para os gases e fezes de sempre.
Ano: 2015
País: Brasil
Direção: Roberto Santucci
Elenco: Carol Castro