Donkey Kong Country Returns é, acima de tudo, um jogo que a Nintendo está usando para ganhar tempo com o Switch.
Há mais de um ano, a produtora vem recuperando títulos de sua era 3D para encorpar a sua lista de lançamentos, enquanto seus estúdios internos preparam os jogos que devem vir com o Switch 2, que deve ser anunciado em questão de dias e lançado daqui a alguns meses. Por mais que seu catálogo seja robusto, as opções estão começando a acabar, especialmente levando em conta os títulos estrelados por seus personagens mais famosos.
Esse é o melhor jeito de explicar por que este game, que saiu em 2010 para o Nintendo Wii, ganhou um port para 3DS três anos depois e passou duas gerações de consoles sumariamente ignorado em favor de sua continuação, Donkey Kong Country: Tropical Freeze, finalmente está recebendo uma remasterização em alta definição fora da China, onde o game ganhou versão para o NVIDIA Shield.
E, ao jogá-lo (pela primeira vez, inclusive), a única pergunta que vinha na minha cabeça era: por que a Nintendo esperou tanto tempo para fazer isso?
Donkey Kong Country Returns carrega alguns significados históricos importantes. O jogo encerrou um hiato de 11 anos em que a Nintendo não lançava jogos de plataforma da franquia, muito em parte pelo fato de a Rare, desenvolvedora responsável por revitalizar o personagem nos anos 1990, ter sido adquirida pela Microsoft.
Coube ao Retro Studios, de Metroid Prime, recuperar o personagem em uma versão que carrega o legado dos jogos do Super Nintendo, mas também trouxe novidades à fórmula.
DKC Returns continuou a ideia de um gameplay que usa dois personagens ao mesmo tempo, mas em vez de revezar os integrantes da dupla aproveitando as habilidades de cada um alternadamente, foi possível unir suas forças em um único conjunto. Isso significa que Diddy Kong pode subir nas costas de Donkey Kong e dar ao jogador o poder de estender seu tempo no ar com uma mochila a jato.
Ao mesmo tempo, o sistema de vida dos personagens mudou - cada um passou a ter corações, que se esvaem à medida que tomam dano nas fases.
Tudo isso é apresentado de uma maneira muito mais palatável e amigável ao jogador em DKC Returns do que seu sucessor, que é de fato melhor, em grande parte por seu excelente design de fases, mas também é um jogo que já espera de você estar um pouco acostumado com o que mudou.
Com o lançamento de Donkey Kong Country Returns HD, a Nintendo oferece a opção de começar essa fase mais recente do personagem a uma audiência mais ampla, e que provavelmente não acompanhou de perto essa evolução.
Em DKC Returns, Donkey e Diddy têm seu estoque de bananas roubado pela tribo Tiki Tak, o que faz os dois vasculhar toda a ilha onde moram para recuperar sua preciosa comida. A ambientação é bastante similar a do primeiro Donkey Kong Country do Super Nintendo, e a associação fica ainda mais óbvia por meio da trilha sonora, que rearranja o excelente trabalho do compositor David Wise.
Mas o jogo não sobrevive só de ideias recicladas, aproveitando a ambientação 3D para criar um senso de profundidade que não era possível nos jogos do Super Nintendo, ou criar um toque artístico próprio, como nas incríveis fases em que vemos apenas a silhueta dos integrantes da família Kong enquanto passeiam por cenários também sombreados, como na belíssima Sunset Shores, quarto nível do primeiro mundo.
A nova versão também reúne as melhorias e conteúdos que foram adicionados no port de 3DS, lançado em 2013, incluindo a opção de não utilizar controles de movimento, ao contrário da versão original do Wii. Para completar, há também algumas novidades visando acessibilidade, como o modo Moderno, que garante um coração extra e um total de itens a mais no inventário.
Sem nenhum jogo de sua série principal à vista (quem sabe isso não muda com o Switch 2?), DKC Returns HD recupera um elo perdido entre as duas principais eras da franquia. Mesmo com um sucessor que o supera em quase todos os aspectos disponível há mais tempo, esse jogo faz uma apresentação mais adequada aos jogos mais recentes do personagem e suas novidades de gameplay.