South of Midnight não precisava de tanto assim para me conquistar. Tenho contato com a cultura do sul estadunidense, ao menos digitalmente, há alguns bons anos — aos que gostam de futebol americano, infelizmente escolhi torcer pelo New Orleans Saints — e a ambientação já era suficiente para ao menos me interessar. Some isso a uma gameplay minimamente competente e não há muito mais que eu possa pedir.
O novo game da Compulsion, mesmo estúdio que acertou na premissa, e não no gameplay, com We Happy Few, protagoniza Hazel, jovem que viu sua mãe ser levada por uma tempestade brutal forte o suficiente para arrastar sua casa. Buscando reecontrá-la, a garota parte em uma aventura que fica cada vez mais mística.
A convite da Microsoft, o The Enemy teve acesso a uma demonstração de aproximadamente 90 minutos do título, que tem lançamento marcado para 8 de abril no Xbox Series X|S e PC. A build consistia no capítulo 3 do jogo, sem muita contextualização prévia ou indícios do que está por vir.
Até por isso, é difícil saber exatamente o que aconteceu com Hazel até aquele momento da história, ou entender o que são os monstros assustadores que entram em seu caminho. Ignorando essas dúvidas, fui surpreendido com um jogo de ação que beira o nostálgico em seu combate.
Há algumas gerações, o gênero não se apoiava tanto assim em mecânicas afiadas, parries e chefões implacáveis. Claro, um Devil May Cry da vida pediria para você exaurir sua criatividade em combos malucos, mas o hack 'n’ slash era muito mais presente na época do PlayStation 2, e South of Midnight evoca um pouco dessa sensação.
Minha percepção pode estar defasada, já que faz um bom tempo desde a última vez que encostei nesse jogo, mas Alice: Madness Returns pipocava muito em minha mente enquanto jogava. Talvez por ser um game que ocupa o mesmo espaço de ambientação excelente com jogabilidade simples, mas eficaz.
Hazel não tem tantas ferramentas assim para enfrentar seus inimigos: ataques com o X são o básico, e há algumas habilidades com tempo de recarga, como puxar os inimigos usando fios ou atordoá-los com um emaranhado de linhas. Tudo gira em torno das habilidades de "costura” da protagonista, que "desata” seus adversários após derrotá-los.
Fora do combate, encontramos um universo bastante linear, mas que premia os pequenos desvios no caminho com pontos para upgrades em suas habilidades. Ainda assim, a exploração não é uma prioridade — não à toa, pressionar o analógico direito faz surgir uma linha que te mostra exatamente o caminho a ser seguido.
Mesmo sem ser expansivo, o mundo de South of Midnight não deixa de ser interessante. A mistura de magia e destruição constrói cenários únicos; a caminhada por eles tem seu ritmo ditado pelos poderes de Hazel, muito bem aproveitados para criar pequenos e variados desafios de plataforma.
Ainda é cedo para tirar conclusões sobre o enredo, mas o capítulo 3 dá um pequeno gosto do que o roteiro reserva. Uma pequena história secundária, que acompanha dois irmãos, já é extremamente interessante e tem seu final em uma cena com trilha sonora digna de colocar o volume no máximo.
É difícil enxergar South of Midnight como um blockbuster, mas ainda há muito de especial sobre o novo jogo da Compulsion. Aprofundando-se em uma cultura que mal é abordada nos games, ele conquista com um lado artístico impecável, ainda que combate ou exploração não sejam extremamente complexos — e considerando quem levou o prêmio de Jogo do Ano em 2024, é fácil dizer que a simplicidade está em alta.