Guardiões da Galáxia | Como James Gunn tornou a trilha sonora em protagonista do filme

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Guardiões da Galáxia | Como James Gunn tornou a trilha sonora em protagonista do filme

Primeiro filme de 2014 foi um divisor de águas na Marvel

26.04.2017, às 17H35.
Atualizada em 10.03.2020, ÀS 18H56

Os filmes da Marvel são conhecidos pela ação frenética, boas histórias e especialmente o humor irreverente. Apesar de ser um dos maiores Universos do cinema e constantemente ser elogiado pela crítica, a grande maioria das produções deixa a desejar em um ponto específico: a trilha sonora. Com a exceção de Os Vingadores (2012), os longas do estúdio nunca prestaram muita atenção na trilha, sempre trabalhando com algo mais simples. Contudo, tudo mudou com o lançamento de Guardiões da Galáxia (2014)– um filme que fez a música tornar-se parte fundamental da jornada de Peter Quill e seus companheiros. James Gunn mudou a maneira de trabalhar com a trilha em seus filmes e fez algo completamente diferente de qualquer outro diretor do Universo Marvel.

Um estudo publicado no canal Every Frame is a Painting detalha como os filmes dão pouca liberdade aos compositores, utilizando trilhas que por vezes ficam escondidas e comumente não arriscam, apenas servindo de um complemento para as imagens. Por exemplo, se temos uma cena triste, a trilha é triste. Se é cômica, é uma trilha cômica, não causando nenhuma surpresa ao espectador. Ao contrário de franquias como Star Wars, Indiana Jones e Harry Potter,que trabalham grandes momentos do filme com canções específicas, a Marvel sempre deu menos espaço para trilha, seja ela exclusiva ou músicas já existentes. Essa dinâmica só foi mudar em 2014, quando a produtora viu uma de suas principais apostas se tornar um sucesso não apenas nas telonas, mas também em aparelhos de som ao redor do mundo.

Desde o início, James Gunn planejou o filme em volta da Awesome Mixtape criada pela mãe de Peter Quill e, assim, certificou-se que a trilha sonora não seria apenas mais um componente do longa e sim um dos principais motores da história. Por conta disso, ele começou a ler a lista da Billboard com todos os principais hits dos anos 70 e decidiu baixar centenas de músicas da época. “Eu ouvia a playlist no meu som em casa e algumas vezes ela me inspirava para fazer uma cena em volta de uma música, e outras vezes eu tinha uma cena que precisava de música e eu ouvia a playlist para tentar encontrar qual funcionaria melhor”, afirmou James Gunn ao Vulture.

Sendo assim, Gunn finalizou o roteiro com todas as músicas no papel, indicando qual clássico entraria em cada cena. Não bastando, o diretor pediu para o compositor Tyler Bates compor as músicas com orquestra do longa antes mesmo de começar as filmagens para utilizá-las no set. “Ao contrário da maioria dos filmes, Tyler escreve a trilha para que eu grave com a música. Durante as cenas de ação e grandes momentos dramáticos, eu tocava a trilha no set para que o elenco, a equipe e o câmera pudessem se mover em harmonia com a música”, explicou ao Screenrant.

Assim, a música tornou-se quase um novo personagem. Gunn brincou com a trilha, usando-a inclusive para mostrar a ironia em várias situações. Na cena onde o grupo é mandado para prisão, por exemplo, ele tocou "Hooked on a Felling" ao invés de uma trilha sonora heroica ou triste. Gunn decidiu colocar uma música alegre e divertida e, com ela, enfatizou o estilo do grupo logo em sua primeira grande cena. “As músicas reforçam a positividade que Meredith Quill [mãe de Peter] quer que Peter encontre nessas situações”, afirmou.

A exceção das músicas de David Bowie e dos Jackson Five, a grande maioria das canções eram sucessos do passado pouco conhecidos pelo grande público, pois o diretor queria passar uma sensação de familiaridade para audiência – ou seja, queria que as pessoas reconhecessem as canções mas, ao mesmo tempo, tivessem dificuldade de lembrar o nome da música. A estratégia não apenas funcionou, como se tornou um dos maiores trunfos do primeiro longa. Guardians of the Galaxy: Awesome Mix Vol. 1, que conta com as 12 músicas da mixtape de Peter, chegou ao topo da Billboard 200, tornando-se a primeira trilha sonora na história com canções previamente lançadas a realizar tal feito.

Para o novo longa, o cineasta aplicou o mesmo processo. “Fox On The Run”, do grupo Sweet, chegou pela primeira vez no topo da lista de rock do iTunes após ser exibida no trailer e o diretor promete músicas conhecidas e, ao mesmo tempo, canções nunca ouvidas pelo público geral. Gunn, inclusive, arriscou-se em compor uma canção inédita – “Guardians Inferno”, composta ao lado de Tyler Bates. Para dar vida a música, o diretor manteve-se fiel aos personagens do longa e chamou David Hasselhoff para cantar, uma vez que o ator seria um dos heróis de infância de Quill.

James Gunn provou que as canções podem ser mais do que um pano de fundo. O diretor mudou a percepção dos fãs a respeito de determinadas cenas, criou uma trilha especial e deu para franquia mais um protagonista.

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