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Entrevista

O Hobbit - Uma Jornada Inesperada | Omelete entrevista Richard Armitage

"Nunca pensei que eles iam querer um cara de 1,88m de altura para interpretar um anão", diz Thorin

12.12.2012, às 21H05.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

No papel de Thorin Escudo-de-Carvalho, o líder do grupo de anões que acompanha Bilbo em sua jornada, Richard Armitage tem uma grande participação em O Hobbit - Uma Jornada Inesperada. Em maio deste ano, tive a oportunidade de visitar o set na Nova Zelândia. Logo depois de ter finalizado as filmagens do dia, Armitage sentou conosco para uma entrevista em grupo. Ele falou sobre como foi contratado, seu personagem, sua reação ao primeiro trailer e o Bolsão, a relação de Thorin e Gandalf, 3D e 48 quadros por segundo, o humor do filme e muito mais. Confira:

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Hoje eu usei minha própria barba durante as filmagens. Foi bem melhor.

Você costuma usar uma barba maior?

Não, é só isso mesmo.

Então quer dizer que você é o sortudo do elenco?

É. Acho que quando a gente decidiu como a barba seria, eu percebi que podia deixar a minha crescer. Começamos com apliques, mas na hora da ação, principalmente quando tinha água ou muita movimentação envolvida, o aplique começava a descolar. Assim fica mais natural, eu acho.

Como você acabou envolvido no projeto? Você foi atrás do papel ou vieram atrás de você?

Não, vieram atrás de mim. Eu sabia que estavam rodando O Hobbit, mas eu nunca me imaginei como um anão. Nunca pensei que eles iam querer um cara de 1,88m de altura para interpretar um anão. Na verdade, eu fiquei com minhas malas prontas para ir embora por pelo menos as três primeiras semanas de filmagem.

Mas quanto mede seu personagem?

Thorin mede 1,58m, ele não é tão baixo assim. Acho que a maior parte das pessoas que têm esse tamanho se sentiriam ofendidas se fossem chamadas de anãs. Mas eles ainda colocaram um saltinho nos meus sapatos pra que eu ficasse um pouco mais alto que Dwalin. O mais engraçado é que, depois que você está caracterizado, você acaba se sentindo ainda maior do que realmente é. Então tenho andado por aí pelo último ano me sentindo um gigante.

Provavelmente é assim que os anões se sentem.

Exatamente. O mais legal é que eles ainda têm de lutar por seu reino, por sua existência. Eles são compensados pelo fato de serem uma raça marginalizada que quase foi destruída, enquanto os elfos são privilegiados. Eles se provam quando engrandecem seu ambiente para protegê-lo.

Você treinou muito para cenas de ação durante sua participação na série de TV britânica Spooks. Isso ajudou nas filmagens de O Hobbit?

A primeira vez que eu realmente me senti na pele do personagem foi quando lutei como Thorin. Foi naquele momento que eu senti como realmente o conhecia. Mas o engraçado é que demorou pra chegarmos nas lutas, levamos de quatro a cinco semanas. Acho que é porque existe toda uma preparação para que ele se torne um guerreiro. É bem interessante isso, por eles serem de uma raça diferente, conforme os anões vão ficando mais velhos, eles vão ficando mais fortes. É por isso que se usa um exército de anões e os mais velhos serão os mais experientes. De uma maneira ou de outra, o escudo de Thorin representa exatamente isso. É como um pedaço velho de madeira que foi ficando mais duro ao longo do tempo. Mas como eu também interpreto o jovem Thorin, eu decidi que uma das diferenças entre eles seria o modo como eles lutam. Quando jovem ele é muito mais louco e frenético e, conforme ele vai ficando mais velho, se torna mais eficiente para que não gaste tanta energia. Fica muito mais disciplinado. A luta ajudou muito a moldar e construir o personagem.

Além de ser o líder dos anões, Thorin também tem um lado sombrio. Como foi adicionar isso à sua atuação?

A ganância pelo ouro é como uma doença que afeta grande parte dos anões, foi o que causou sua perdição. Por saber que seu pai e seu avô sofriam disso, Thorin sempre fica com a ideia martelando sua cabeça de que um dia ele pode ficar assim. Também acho que o fardo de ter que levar seu povo de volta à sua terra natal acaba atormentando-o, tornando Thorin uma pessoa solitária. Saber que seu pai e seu avô fracassaram amplifica sua responsabilidade. Se ele não conseguir, não há mais membros em sua família para o suceder. Desta forma ele ficará marcado na história como o rei que fracassou. É isso que o motiva, mas também o preocupa. Não faltam oportunidades para ele fracassar nessa jornada, mas nós ainda não chegamos de fato na montanha, ainda não tivemos que lidar com o dragão... Também pesquisei muito sobre as drogas e o vício, os efeitos que isso tem no corpo e na mente, mas acho que, por ele ser um personagem pesado e melancólico, o ouro pode mudar isso. Vai trazê-lo de volta à vida, fazer dele o rei que ele deve ser. Mas isso tem um preço.

É clara a existência de um tema nos filmes de O Senhor dos Anéis, com Frodo como o portador do Um Anel. Vai existir algum paralelo entre a jornada de Thorin e Frodo?

Isso é bem interessante, eu não tinha pensado nisso. Acho que existe um paralelo, sim. Talvez Thorin possa ser considerado um mercenário. A Pedra Arken é algo que ele almeja. Ele sabe que, sem ela, nunca será verdadeiramente o rei. É como um talismã pelo qual ele está obcecado, muito parecido com o Um Anel. Existem momentos durante a jornada em que ele sai do presente e é projetado no futuro, assim como no passado, por causa de todo o trauma causado pelo dragão na montanha. Muitas pessoas com ele na jornada nunca viram Erebor, não passaram pela tragédia que Thorin presenciou.

Como foi gravar no Bolsão? Cantar aquela música? Como foi sua reação ao ver aquela cena no trailer?

Eu vi o trailer há uns dois dias. A minha reação foi a de querer regravar aquilo tudo. Pelo fato de termos rodado as cenas do Bolsão logo na primeira semana, eu tenho uma percepção diferente do personagem do que tinha no começo. Mas acho bom que existiu uma sensação de estranheza, de deslocamento, por causa do ambiente. Anões não pertencem em uma situação acolhedora, eles pertencem a grandes salões, a campos de batalha. Então estar em um lugar estranho e acolhedor para acompanhar um pequenino desconhecido em uma jornada é monumental para eles.

Na história, o grupo precisa de um ladrão e Gandalf sugere Bilbo. No filme, Thorin chega a questionar Gandalf sobre a escolha de um hobbit para o papel?

Eles usaram muito dos apêndices [escritos por J.R.R. Tolkien]. Se não me engano, existem duas versões do encontro entre Thorin e Gandalf que acontecem ainda antes desta história. Nós discutimos o hobbit e por que devemos levá-lo conosco. Mas em termos de história, precisamos de um hobbit por causa da Pedra Arken. O dragão não reconhece o cheiro de um hobbit, mas ele conhece muito bem o cheiro de um anão. Ainda assim, Thorin tem dificuldade em aceitar a participação de Bilbo. Acho que ele precisa que Gandalf vá na jornada com eles, e, se mesmo assim ainda for necessário que o hobbit acompanhe, tudo bem. Por Gandalf ter o mapa e a chave, eles não podem fazer nada disso sem ele, mas é engraçado ver a relação de conflito entre Thorin e Gandalf. Acho que Thorin fica tentando provar que Gandalf está errado o tempo todo, ele acha que Gandalf está tentando lhe tomar a liderança. E de fato quando ele [o mago] não está por perto, Thorin se torna um verdadeiro líder.

Você ficou surpreso quando foi contratado para viver Thorin? Pergunto isso porque, mesmo você vivendo uma versão mais jovem, o personagem parece ser muito mais velho do que você é nas histórias originais e em desenhos.

Sim, fiquei bem surpreso. No livro, quando Thorin chama Gandalf de Mestre Mago, ele parece ser até mais velho que o próprio Gandalf por causa da escolha de palavras, o que é estranho. Nós ainda brincamos um pouco e o fizemos falar e andar mais lentamente, mas pensei que se eles realmente quisessem que ele parecesse mais velho, contratariam um ator com mais idade. Eu queria que ele parecesse mais jovial e heroico no campo de batalha, alguém que ainda tem potencial. Foi algo difícil para mim durante o desenvolvimento do personagem, mas depois foi no embalo.

Como foi o seu primeiro dia de filmagens? Você já era fã da franquia? Como foi entrar nesse novo universo?

Eu definitivamente tive alguns momentos de descrença. Estar no Bolsão, olhando nos olhos de Ian [McKellen]... Não sei se já tinha sentido isso antes, como se não estivesse em um filme, mas sim no universo de O Senhor dos Anéis. Isso ajudou muito com o personagem, a ambientação. Mas não foi só o Bolsão, todos os lugares a que íamos geravam essa sensação. Não era um trabalho árduo, ali era o local.

Vocês estão inovando o cinema com os 48 quadros por segundo, rodando tudo com a câmera Red Epic e em 3D. O que você acha dessas novas tecnologias?

Eu não sou um grande fã do 3D. Já vi coisas muito boas no formato, mas também já vi coisas muito ruins. Acho que se um filme for criado puramente para existir com o efeito do 3D, então é um tipo de filme pelo qual eu não me interesso. Neste caso, as coisas não foram desenvolvidas para ficar pulando para fora da tela. Aqui o 3D dá textura, mostra a Terra-média de uma forma tangível para que você sinta como se realmente estivesse ali. Sobre os 48 quadros por segundo, acho que eles diminuem a diferença entre criaturas de computação gráfica e os personagens reais. Não posso dizer muito porque ainda não vi muita coisa no formato. Vi umas cenas feitas de um helicóptero e o detalhamento é incrível. O embaçado nas cenas de ação desapareceram. Fiquei fascinado com o grande passo dado no quesito evolução do cinema. Acho que os cinemas devem oferecer algo ao público que ele não consegue em nenhum outro lugar e talvez este filme seja aquele que ultrapasse essa barreira.

Pelo que ouvimos dos outros atores, parece que a jornada dos anões não é mais sobre conseguir o ouro, mas sim retomar sua terra natal.

Eu acho que sim. Os anões são, por natureza, seres gananciosos e teimosos, além de desejarem ouro, não há como fugir disso. Eles não enxergam isso como uma coisa ruim - para entender como eles se sentem, deve-se remover da equação o sentimento humano sobre ganância e acumulo de riquezas. Mas apenas 13 anões decidiram seguir nessa jornada, todos os outros deram as costas. Na realidade, esses anões vão fazer algo que outros anões foram dissuadidos a fazer. Mas vale apontar que nós ainda não entramos em contato com o ouro, então vai ser interessante ver o que vai acontecer com esse grupo de pessoas quando eles entrarem na montanha.

Um ponto de vista interessante é que essa jornada é mais sobre orgulho anão do que uma caça ao tesouro.

Sim. Thorin não está atrás do ouro, e sim tem toda uma agenda pessoal. Ele quer honrar seu povo, além de vingar a morte de seu avô contra Azog. Ele também tem uma rixa com Smaug, que tomou a terra que era dos anões. Eu cheguei a usa Hiroshima como inspiração para os acontecimentos que fizeram com que eles deixassem aquele local.

Como ficou definido o tom do filme? O fato de O Hobbit estar ambientado em uma época diferente daquele universo de O Senhor dos Anéis deixou tudo mais leve?

O filme é bem engraçado, talvez pelo fato de anões serem criaturas estranhas, gananciosas e rudes. O único lugar onde eles realmente se sentem relaxados é no Bolsão, antes da jornada começar. No entanto, assim que ela começa, eles não têm mais tempo para relaxar. Mas todos conseguem encontrar circunstâncias incríveis que geram um momento de humor. Dwalin e Thorin são como melhores amigos, então existe um sentimento de camaradagem entre eles.

Seu personagem tem algum momento que pode surpreender o público?

Tem, principalmente nas cenas de luta. Eu corri através de chamas. Eles puseram fogo em um dos estúdios e eu corri em câmera lenta pela floresta, que estava pegando fogo. Outro momento bem legal é quando os anões saem da montanha de armadura.

Você não se preocupou em ter que correr através de fogo com aquele cabelo todo?

Quer saber? Se ele pegasse fogo, alguém sairia correndo e jogaria um balde d'água em mim. Tive que fazer e ponto. Mas é legal fazer essas coisas, você sabe o que o diretor quer, aí eles treinam com o dublê e depois você vai lá e faz a cena você mesmo. Outro dia nós fizemos uma cena em uma plataforma elevada onde eu estava dentro da boca de um Warg, sendo chacoalhado. Peter sempre encontra uma maneira de elevar o nível de tudo, tanto que chegamos ao ponto em que eu estava sendo violentamente chacoalhado, mas quando você assiste àquilo no playback a 125 quadros por segundo, fica maravilhoso. Ao ponto de pensar "ok, me põe lá de volta e vamos fazer de novo. Agora chacoalha mais". É gratificante.

Quanto pesa toda a vestimenta do personagem?

Acho que eu cheguei a carregar uns 30 kg, mais ou menos 1/4 do meu peso. É bem difícil, fica muito quente e cansativo. Por tudo estar ampliado, seu movimento acaba parecendo reduzido, então quando assistimos ao playback daquilo que acabamos de fazer, dá a sensação de não estar fazendo o suficiente. É aí que você se dedica ainda mais para fazer tudo parecer mais dinâmico - aí eles te diminuem e tudo parece ainda menor. Não sei. É um desafio constante.

Não é raro acontecerem alterações no roteiro durante as filmagens. As coisas mudaram muito para vocês?

Acho que não restou sequer uma página no roteiro que não foi alterada. Tudo aconteceu durante o processo de filmagem, conforme se desenvolviam os personagens. É disso que eu gosto em Phillippa [Boyens], Fran [Walsh] e Peter; eles escrevem para o ator. Conforme eles ouvem sua voz, mudam coisas de acordo com a sua interpretação do personagem. Todas as cenas de ação também mudaram muito, se desenvolveram e sofreram alterações. Peter sempre chegava com algo novo ao set, sempre algo melhor do que aquilo que estava no roteiro. Mesmo que seja frustrante receber suas falas na noite anterior, também é incrível. Ficamos acordados até às quatro da manhã para aprender os diálogos, mas é maravilhoso no dia seguinte.

Você chegou a ser dirigido por Andy Serkis nas cenas de segunda unidade? Como é trabalhar com ele?

Ele é brilhante. Ele conhece a visão de Peter e tem um repertório grande sobre ele e sobre os demais atores. Por ele também ser parte do elenco, ele entende o processo pelo qual estamos passando. Nós temos uma cena do prólogo, quando os anões estão invadindo Moria, a mina cheia de orcs, uns ventiladores gigantes, sangue pra todo lado... Foi um ótimo dia. Andy cria uma ótima energia no set de filmagem. A única dificuldade é que Peter quer dirigir as cenas de ambas as unidades, então temos de esperar por sua aprovação - o que é incrível, pois ele não deixa absolutamente nada passar. Teve um dia em que eu bati com o escudo na minha boca e ela começou a sangrar, meu lábio inchou e ficou todo roxo. Peter virou e me diz "ok, podemos tentar só mais uma vez agora?". A cena ficou linda, o sangue pingando do meu rosto... [A artista de maquiagem e próteses] Tami Lane vai receber muito elogio por isso!

Você tem alguma recomendação para quem possa vir visitar Wellington?

O museu Te Papa é incrível. Também tem alguns bons bares que posso indicar; Mighty Mighty é ótimo, Matterhorn também.

Você está preparado para ser reconhecido nas ruas daqui a alguns meses?

Sem a barba? O personagem não parece muito comigo e isso é bom. Veremos.

O Hobbit - Uma Jornada Inesperada estreia em 14 de dezembro.

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