Depois de sucessivos adiamentos, Morbius finalmente chega aos cinemas com Jared Leto interpretando o Vampiro Vivo da Marvel Comics. Se você nunca ouviu falar nele até esse momento, fique tranquilo. Embora tenha sido criado nos anos 1970, depois que o código de censura foi revisto e personagens sobrenaturais passaram a ser permitidos nas HQs, este é um vilão menor dentro do hall de adversários do Homem-Aranha. Então, antes de tudo, um breve contexto: o Dr. Michael Morbius é um cientista e médico premiado, cujo grande objetivo é encontrar uma cura para uma doença sanguínea rara que tem desde pequeno. Um dos seus experimentos, porém, dá errado e ele se transforma em uma criatura sedenta por sangue.
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Como você bem deve saber, esta não é a primeira adaptação de quadrinhos que Leto estrela. Em 2016, em Esquadrão Suicida, ele deu vida a uma versão controversa do vilão Coringa, mais comparável a uma espécie de gangster moderno do que uma visão mais clássica — ou até mais familiar — do personagem. Tanto a caracterização, quanto a performance do ator foram bastante divisivas, e o resgate dessa figura no Snyder Cut, no ano passado, voltou a dar o que falar. Quer dizer, Leto lança Morbius já bastante ciente de como os fãs de quadrinhos podem ser apaixonados e/ou apegados ao material-base desses filmes. Dessa vez, porém, ele tem uma vantagem: o Vampiro Vivo da Marvel nunca foi adaptado para os cinemas; ficou apenas no quase em 1998, em Blade.
"Minha abordagem é a única até o momento, o que torna tudo um pouco mais fácil. E é muito divertido dar vida a um personagem pela primeira vez”, contou em entrevista ao Omelete. “É algo raro, porque muitos desses personagens já foram adaptados antes, e sou grato por ter essa oportunidade. Dei o meu melhor e trabalhei muito para não decepcionar o público. Espero que eles gostem do filme e de conhecer o Dr. Michael Morbius".
Apesar de ter estrelado Belas Maldições, série baseada no livro adorado do Neil Gaiman, a atriz Adria Arjona é novata quando o assunto é adaptações de quadrinhos de super-heróis. Ela é apresentada a esse universo como a cientista Martine Bancroft, parceira de laboratório e interesse amoroso de Morbius — e fique tranquilo, ela sabe o quanto esses personagens significam para os fãs do Vampiro Vivo. Segundo suas próprias palavras, os leitores das HQs podem esperar uma “personagem feminina bem construída” da sua Martine. “Gosto muito dela por ser incrivelmente inteligente, independente e forte, além de ser uma cientista e uma médica segura de si. Ela é uma espécie de âncora para o Dr. Morbius, o apoio que ele precisa na sua jornada de transformação”, continuou.
Nos quadrinhos, Martine eventualmente se transforma em uma vampira. Será que vem aí? “Seria muito interessante. Quem é que não quer se transformar numa super-heroína? Parece bem divertido!”, disse ao Omelete antes da estreia do filme. Vale pontuar, porém, que nas HQs ela acaba morta pelas próprias mãos de Morbius, que tentava impedi-la de atacar Peter Parker, ou seja, talvez seu futuro no universo cinematográfico da Sony possa não ter um “felizes para sempre” com o médico renomado.
[Atenção: spoilers de Morbius a seguir] Quem já assistiu ao filme sabe que Martine Bancroft acaba, sim, se transformando em vampira. Depois de ser atacada por Milos (Matt Smith), a médica parece condenada à morte e, por isso, Morbius bebe seu sangue para ficar mais forte e enfrentar o ex-melhor amigo. No entanto, nos minutos finais, revela-se que ela sobreviveu e agora é dona de um par de olhos vermelhos — uma cena que surpreendentemente lembra a transformação de Bella (Kristen Stewart) em Crepúsculo. Não há qualquer indício do que o estúdio planeja para a personagem, porque as cenas pós-créditos são focadas no Abutre e seu acordo em potencial com Morbius. Então, é possível que Martine tenha uma sobrevida maior do que seu destino nas HQs leva a crer [fim dos spoilers].
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Ainda que esteja fazendo sua estreia como personagem da Marvel Comics, Arjona teve uma prévia das reações emocionadas que poderiam vir com o lançamento do filme quando contou ao irmãozinho que conseguira o papel — e essa história a gente ouviu dela em maio de 2019, quando a Sony Pictures nos convidou ao set da produção.
“Ele é muito fã do Homem-Aranha, então a conversa foi um pouco complicada, porque ele não entendia se Morbius era bom ou mau e era tudo o que importava para ele. Ele dizia ‘você não vai ser amiga de um cara mau’, e eu: ‘não, não! Eu prometo’. ‘Mas ele é um vampiro!’”, disse, rindo. “Demorei um pouco para convencê-lo, mas quando expliquei o que era um anti-herói, ele achou a coisa mais legal. Não fala de outra coisa na escola, mas as criancinhas não acreditam nele. Então tirei fotos e mandei para ele provar que a irmã está nesse filme”.
Na ocasião, inclusive, Arjona já demonstrava interesse em ajudar a expandir o mundo de Morbius nos cinemas, como também já dava pistas bastante precisas do tom do filme. “É sombrio e quase me lembra dos filmes de herói originais, que são os que eu amo e os que eu cresci assistindo. Então, estou muito empolgada de fazer parte de Morbius e continuar fazendo parte”.
Os segredos que descobrimos naquele maio de 2019
Na nossa visita ao set de Morbius, não conversamos apenas com Adria Arjona, mas também com o diretor Daniel Espinosa e o diretor de segunda unidade, Gary Powell, ambos fãs declarados das HQs do Vampiro Vivo e, claro, do Homem-Aranha. Lógico que não perdemos a oportunidade de fazer perguntas sobre como as publicações da Marvel Comics influenciaram o filme; confira abaixo:
Qual é a relação pessoal deles com os quadrinhos do Morbius?
No caso de Gary Powell, que é disléxico, os quadrinhos foram importantes não apenas como entretenimento, mas também para que aprendesse a ler. Morbius era um dos seus personagens favoritos, assim como o Teioso e os X-Men.
Embora diga que tenha lido “tudo o que a Marvel já publicou”, Daniel Espinosa não se considera um grande colecionador. “Dei todas as minhas coleções para um bom amigo que gosta de fumar muita maconha e não tem muito mais coisa no apartamento além de HQs”, disse, rindo. Piadas à parte, ele contou que é especialmente fã da versão dos anos 1990 do Vampiro Vivo. “Eu era adolescente, sabe? E era aquele momento pós-moderno, em que o Muro de Berlim caía e você tinha esse personagem meio Kurt Cobain, que dizia para as pessoas vazarem. Quando essas HQs chegaram até mim, parecia bom demais para ser verdade”.
Mas, além disso, ele também reconhece um pouco da própria história no arco de Morbius. “Morbius é alguém que vive às margens. Ele cresceu em um hospital para crianças doentes, não tem pais e, mais tarde, se dá conta de que tem uma deficiência, mas também ótimas ideias. Ainda assim, ele é alguém que as pessoas não querem estar perto. E, como um refugiado, consigo entendê-lo, sabe?”, disse o diretor nascido na Suécia, mas cujos pais, chilenos, foram perseguidos pela ditadura Pinochet. “Esse sentimento de raiva e ódio, essa vontade de vingança que faz parte da mitologia de Morbius, mas também o outro lado mais altruísta, porque você foi parte dos mais fracos. Então quer protegê-los”.
Morbius traz a história de origem clássica?
Não exatamente. “O que eu gosto no modo como a Marvel contou essas histórias de origem ao longo dos tempos é que toda vez eles renovam alguma coisa, como o que fizeram com o Universo Ultimate, sabe? Você seleciona diferentes partes da jornada tortuosa do Morbius e tenta reuni-las em um pequeno segmento. Então, não foi só o Morbius dos anos 1970 ou o dos anos 1990. Foi uma combinação de todos”, contou Espinosa.
Qual fase inspirou o visual do Vampiro Vivo?
“Revisitei os vários visuais que o Morbius teve ao longo da história dos quadrinhos e ele passou por muitas transformações, porque é um personagem menor que não teve muito espaço nas HQs. Ele foi reinventado radicalmente em diferentes [publicações]”, explicou Espinosa. “E então escolhi o que eu gosto mais [risos] e espero que as pessoas gostem também. Sabe, foi uma escolha puramente emocional e instintiva. Espero que seja surpreendente e empolgante assistir à transformação dele”.
As HQs influenciaram diretamente as cenas de ação?
Segundo Powell, não. “Obviamente eles são uma grande influência para nós, mas tentamos criar coisas que fossem beneficiar a história”.