Nem hits salvam show cínico do The Strokes no Lollapalooza

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Nem hits salvam show cínico do The Strokes no Lollapalooza

Falta à banda coragem de abraçar cada música como ela é

Omelete
2 min de leitura
25.03.2022, às 23H07.
Atualizada em 26.03.2022, ÀS 10H41

Se você saiu do show do The Strokes no Lollapalooza 2022 com a impressão que Julian Casablancas não queria estar aqui, você não está sozinho. Cheio de piadinhas cínicas desde o começo do show ("Não consigo ver se tem rostos familiares na plateia, porque estou de óculos escuros à noite"), ele não parecia nem interessado em fazer seu trabalho - ou seja, em cantar.

Os problemas na voz de Casablancas chegaram ao ápice em "The Adults Are Talking", canção retirada do disco mais recente da banda, The New Abnormal; e no hit "Reptilia", que veio logo depois. Perdendo a deixa em alguns versos e deixando seu tenor possante desandar para um grunhido desafinado em outros, Casablancas não apresentou o seu melhor (talvez nem o seu razoável) aos fãs brasileiros.

Como resultado, nem "Reptilia" agradou como deveria. Na ausência conspícua de "Last Nite", este foi o maior hit da banda na setlist, mas no público só se via celulares para o alto, gravando o momento, sem pular ou gritar com o vocalista - mesmo porque seria difícil acompanhá-lo nos erros.

Uma pena, porque o som da banda ao redor dele é potente. Nikolai Fraiture, Nick Valensi, Albert Hammond Jr. e Fabrizio Moretti encarnam bem o apelo do rock de garagem, que brilha quando confrontado com uma arena do tamanho do palco principal do Lolla. Por essa virtude, as canções mais "barulhentas" da banda passavam perto de empolgar - "Hard to Explain", do disco de estreia Is This It, foi tranquilamente o auge do show.

O problema era que, mesmo cercado por neon multicolorido e cantando pérolas glam como "Eternal Summer", o Strokes insistiu em não abraçar um público que poderia estar em pleno delírio de pista de dança com eles. Ao invés disso, a banda (e Casablancas, em particular) manteve a postura blasé de quem faz show por obrigação, na força da ironia.

As brincadeiras depreciativas do vocalista, que pediu para o colega de banda Moretti falar algo que "o faria ser cancelado" (no finalzinho do show, o baterista brasileiro soltou um "fora Bolsonaro" por conta própria) e questionou para que servia o autódromo de Interlagos fora do Lolla ("Nós só estivemos aqui 17 vezes antes"), cansam rápido. Um bom show de rock cansaria muito menos.

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