Cena de Cavaleiro da Lua

Créditos da imagem: Marvel Studios/Divulgação

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Cavaleiro da Lua continua flerte do MCU com a estética do horror. Que bom!

Influências do gênero devem finalmente se tornar mais frequentes nas fases 4 e 5 da Marvel

05.02.2022, às 22H07.
Atualizada em 06.02.2022, ÀS 15H16

 Ao contrário do que podem afirmar certos cineastas por aí, a Marvel Studios vem encontrando cada vez mais espaço para incorporar à sua fórmula de sucesso a influência de diversos sub-gêneros do cinema. Da sátira às space operas em Guardiões da Galáxia (2014) e Thor: Ragnarok (2018) à comédia romântica de Homem-Formiga e a Vespa (2018); das tramas de espionagem de Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) e Viúva Negra (2021) à inspiração nos filmes colegiais de John Hughes que norteia Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017): fato é que Kevin Feige e companhia têm conseguido diversificar a entrega do estúdio de forma a engajar cineastas promissores e seguir atraindo as principais estrelas de Hollywood. E, embora a jornada do herói seja a base de tudo, é difícil negar essa variedade quando, por exemplo, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis abre com Tony Leung Chiu-wai protagonizando um balé de artes marciais digno de Herói (2002) e O Tigre e o Dragão (2000), numa história falada quase pela metade em línguas que não são o inglês.

Existe um gênero, entretanto, que segue sendo negligenciado (ou, talvez, temido) pela Casa das Ideias nas telonas, embora perdure como um dos mais influentes e adorados da história da sétima arte: o horror. Com momentos diversos nos quadrinhos que mergulham na estética desse gênero, de conferências de Stephen Strange com demônios interdimensionais a embates do Homem-Aranha com vampiros, os fãs há muito aguardam flertes similares acontecendo nas telonas — e, há muito, saem frustrados. A promessa de escuridão com os Elfos Sombrios em Thor: O Mundo Sombrio (2011) acabou traduzida apenas em uma fotografia feia, de cores dessaturadas. Os teasers sinistros de Vingadores: Era de Ultron (2015), com um James Spader fantasmagórico dando voz a legiões de Ultrons decrépitos, acabaram sendo cortina de fumaça para mais uma performance vilanesca excêntrica e cômica. E nem mesmo a experiência de Scott Derrickson em O Exorcismo de Emily Rose (2005) e A Entidade (2012) permitiram que Doutor Estranho (2016) ousasse muito com imagens perturbadoras (apesar das tentativas).

Entra a Fase 4, e a liberdade criativa que o investimento da Marvel nas séries de TV do Disney+ permitiu. Em WandaVision, os ocasionais vislumbres de um Visão (Paul Bettany) sem vida e decadente, bem como a descoberta da identidade de Agatha Harkness (Kathryn Hahn), renderam uma boa dose de momentos estranhos e inquietantes, sinalizando ao público e/ou a Wanda (Elizabeth Olsen) que algo estava errado em sua realidade paralela. Em Loki, a introdução de uma criatura cósmica tão poderosa e soturna quanto o Alioth, no marcante episódio "Jornada ao Mistério", convidou conceitos de Terror Cósmico próprios da literatura de H.P. Lovecraft, ainda que a direção de Kate Herron tenha encarado tudo sob uma luz mais fantástica que fantasmagórica. Em What If...?, um Estranho de coração partido e o apocalipse zumbi trouxeram outras referências, ainda que leves, do que vem faltando nas telonas. Mas é em Shang-Chi que isso muda, com um terceiro ato repleto de criaturas místicas com tentáculos, almas sendo sugadas de corpos e a promessa de um mal ainda maior vindo do espaço. O primeiro filme com elenco predominantemente asiático do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) abriu as portas para o que deve ser o tão aguardado abraçar da estética do horror nas fases 4 e 5.

Sim, porque com Sam Raimi no comando do encontro entra a Feiticeira Escarlate e o Mago Supremo da Marvel (Benedict Cumberbatch), em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, é de se esperar ao menos alguns momentos dignos de Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (1981) no filme. Se nem em Homem-Aranha (2002) e Homem-Aranha 2 (2004), o cineasta deixou de deixar assinaturas claras de um mestre do terror, não será num mergulho no multiverso com dois dos personagens mais místicos e obscuros do MCU que ele fará diferente. Como a própria Olsen já afirmou que o filme tem a ambição de ser o mais assustador da Casa das Ideias até hoje, e o roteirsta Michael Waldron confirmou que o filme levará a história em uma direção "levemente mais assustadora", parece que agora é a hora. E o trem não para por aí.

What If...? tem tudo para seguir ousando ainda mais em sua segunda temporada, não só repetindo o sucesso sempre certeiro dos zumbis no MCU como, quem sabe, apresentando mais histórias de tom levemente assustador. Na vindoura série do Disney+ Cavaleiro da Lua, prevista para 2022, a natureza conturbada do protagonista Marc Spector (Oscar Isaac), bem como suas influências místicas guiadas por divindades egípcias (muitas vezes refletidas em seus inimigos), certamente abrem espaço para a exploração do oculto pela Marvel Studios. E, claro, Blade irá inaugurar a Fase 5 com vampiros tomando as telas e se revelando parte relevante desse universo compartilhado. Se considerarmos o crescente interesse pelo multiverso, as implicações cósmicas das introduções feitas por Eternos e Quarteto Fantástico, bem como as muitas versões de Kang (Jonathan Majors, que estará em peso em Homem Formiga e a Vespa: Quantumania), não faltarão oportunidades de pincelar diferentes estilos de terror nas mais variadas e insanas narrativas.

Cavaleiro da Lua, inclusive, já pode ser considerado aposta certeira no que diz respeito ao horror no MCU. Em entrevista concedida ao The Playlist, os diretores da série do Disney+, Justin Benson Aaron Moorhead (Arquivo 81), falaram abertamente da influência do gênero na produção. "O nosso telefone não está tocando para que façamos Two and a Half Men. São coisas que são similares ao que já fazemos. Arquivo 81 partilha de muito do DNA de nossos filmes anteriores, O Culto (2017) e Resolution (2012). Você verá a mesma coisa em Cavaleiro da Lua", afirmou Moorhead.

Finalmente é seguro afirmar que nunca foi tão promissor ser um fã de horror e da Marvel Studios. Que deliciosa maldição!

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