Os extras da edição especial em Blu-Ray de Vingadores: Guerra Infinita contam com uma mesa redonda com 7 dos diretores do Marvel Studios: Jon Favreau (Homem de Ferro, Homem de Ferro 2), Ryan Coogler (Pantera Negra), James Gunn (Guardiões da Galáxia, Guardiões da Galáxia Vol. 2 - o especial foi gravado antes das polêmicas que levaram a sua demissão), Peyton Reed (Homem-Formiga, Homem-Formiga e a Vespa), Joe e Anthony Russo (Capitão América: Soldado Invernal, Capitão América: Guerra Civil, Vingadores: Guerra Infinita, Vingadores 4) e Joss Whedon (Os Vingadores, Vingadores: Era de Ultron). Apesar de não estar presente por conta das filmagens de Jojo Rabbit, Taika Waititi (Thor: Ragnarok) faz uma participação especial na conversa.
Tecnologia
Jon Favreau entrou para a lista de possíveis diretores para Homem de Ferro por conta de Um Duende em Nova York (2003), que teve um bom desempenho nas bilheterias. Na época, não existia um roteiro, apenas ideias. “Não sabia o que faria com o filme, mas achei que o conceito era legal. Transformers estava sendo feito na época e estava confiante que superfícies metálicas ficariam boas em computação gráfica”, conta o diretor. Para Joe Russo, “A ascensão da Marvel coincide com o desenvolvimento dos efeitos visuais, que se tornaram mais fotorrealistas”.
Robert Downey Jr.
“É uma combinação da tecnologia e da narrativa e, claro, a coisa mais importante foi Robert Downey Jr. A contratação dele o tornou a espinha dorsal de toda essa jornada, influenciando o tom da direção de muitos filmes e da escalação de outros personagens”, comenta Favreau. Na época, o diretor precisou lutar para ter o ator no papel, já que Downey Jr. era considerado uma contratação de risco - entenda.
Fantasia + Realidade
Ryan Coogler estava no primeiro semestre da faculdade de cinema quando Homem de Ferro estreou e participou dos eventos da estreia do filme. “Homem de Ferro acertou em cheio com os verdadeiros fãs dos quadrinhos. Nunca vou esquecer, estava lá com os meus colegas na noite em que [Jon Favreau] e Robert [Downey Jr.] percorreram os cinemas. (...) Estávamos tão felizes e aliviados e prontos para aquilo. (...) Nunca vou esquecer esse momento e o quanto daquele filme se tornou parte do nosso processo criativo. (...) Era um momento em que os efeitos visuais estavam levando a fantasia para outro nível, enquanto os personagens seguiam em direção oposta, com algo realista, relacionável e tangível”.
O diálogo entre os cineastas revela um pouco dos bastidores da Marvel no cinema, com curiosidades interessantes sobre o processo criativo do estúdio:
Colaboração
“[Ryan] estava filmando e Taika estava filmando ao mesmo tempo, vocês dois estavam lá [em Atlanta]. [Ryan] construindo um universo e Taika estava dando um novo tom [para Thor] enquanto também estávamos filmando. Estávamos tentando absorver [essas visões]. Acho que todos fazemos histórias únicas. O que é fascinante sobre a Marvel é essa nova forma de narrativa. É um grupo gigante de pessoas brincando, passando instrumentos e negociando. Tentamos coisas diferentes com tom, humor, drama em uma grande tela cultural de uma forma que nunca foi feito antes”, conta Joe Russo.
“Escrevemos a nossa historinha e depois passamos para frente”, explica James Gunn, “dei o roteiro de Guardiões da Galáxia Vol. 2 [para os irmãos Russo] muito antes e eles disseram ‘oh, isso é perfeito para nós, onde Nebulosa está, com o que queremos fazer com a história’. (...) Essa é a natureza fluida do Universo Cinematográfico da Marvel, é passar de história para história, deixar um filme dos Irmãos Russo ser um filme dos Irmãos Russo, um filme do Ryan ser um filme um filme do Ryan, um filme do Peyton ser um filme do Peyton, sendo ao mesmo tempo fiel à natureza diferente dos personagens e prestando atenção ao que veio antes. Você precisa respeitar o que veio antes de você”.
Experimentação
“Provavelmente uma das coisas mais interessantes é que universo cinematográfico da Marvel é um experimento narrativo. É um mosaico gigante de histórias contadas por pessoas diferentes. E acho que o público também ganhou a habilidade de entender como a linguagem muda rápido, como existem vozes diferentes, como o tom pode mudar dramaticamente de um filme para o outro e isso é uma vantagem, pois você está sendo constantemente surpreendido”, garante Joe Russo.
Adaptação
“Há uma crença de que, de alguma forma, ao longo de todos esses anos, nos sentamos em uma sala e criamos essa longa, grandiosa história que culmina neste momento único, e não é assim”, diz James Gunn. “Não é assim, mas tudo funciona de uma forma estranha”, rebate Favreau. “há uma constante: Kevin [Feige]. Havia um mapa no final de Homem de Ferro 2 que mostrava Wakanda. Sempre pensei que fossem apenas easter eggs, algo divertido para os fãs, mas ele devia estar anotando tudo para ser a pessoa que não é apenas um executivo, mas alguém com um ponto de vista criativo, com que você pode conversar. Não são ordens - você precisa fazer isso - mas existem coisas que ele questiona ou coisas em que ele insiste, e acho que, em parte, isso cria a consistência de, pelo menos, sabermos o que todos os outros [diretores] estão planejando”.
Esse planejamento leva a certas mudanças, como a presença de Vespa em Vingadores, ou a apresentação de Wakanda em Era de Ultron, o que pode ser estressante durante a produção (como algumas falas de Whedon deixam transparecer), mas o processo do Marvel Studios parece ser mais de adaptação do que de imposição - o que também explica algumas inconsistências na linha do tempo da Marvel.
Empatia
Taika Waititi conta como fez Thor se tornar um personagem mais próximo do público em Ragnarok: “O que amo em [Os Aventureiros do Bairro Proibido] é que a única coisa que Jack quer é o seu caminhão de volta, algo tão simples no meio de tanta coisa louca. Não sei se já viram isso, mas alguém reuniu no Youtube um vídeo de todas as perguntas que Jack faz. Tem cinco minutos de duração e são basicamente todas as perguntas que o público está fazendo: O que é isso? O que eles estão fazendo? Onde está meu caminhão? Quem é aquele cara? Com Thor, com a morte do pai dele, pensei que ainda é difícil se relacionar com esse moleque rico do espaço, então você quer que ele faça as perguntas que você está se fazendo. E esse era o meu foco principal naquele filme, Thor está sempre com um pé atrás, fazendo as perguntas que você está fazendo”.
Humor + Drama
“Acho que a Marvel não sabia que Homem de Ferro seria engraçado. Lembro da primeira vez que mostramos o filme para Kevin Feige e ele disse surpreso: foi bem engraçado!”, conta Favreau. “A Marvel desenvolveu essa espécie de Cavalo de Troia em que você pode contar essas histórias que parecem reais, com raízes na ficção científica e nos quadrinhos, mas que escondem um lado que diz muito sobre a condição humana e que são capazes de andar entre o drama intenso e a comédia”, conclui Peyton Reed.
Assinatura
A saída de Edgar Wright, que deixou a direção de Homem-Formiga por diferenças criativas, não parece ser uma constante dentro do estúdio. Mesmo Joss Whedon, que teve alguns conflitos durante as filmagens de Era de Ultron, defende que a Marvel está interessada na assinatura dos seus diretores: “Uma coisa em que a Marvel é brilhante é que nenhum de nós aqui tinha necessariamente o ‘currículo’ para fazer o próximo grande filme de ação. Eles não estavam interessados nisso, não estavam interessados em alguém que só fizesse o básico. Eles queriam trazer cada um de nós para o filme. E você pode ver quem é quem, por mais que exista uma linha unindo tudo”.
Waititi concorda: “Me vi surtando e disse para mim mesmo ‘há uma razão para terem chamado você’. Obviamente não foi pela sua experiência com explosões e cenas de ação. (....) Eu conheço a minha força. É por isso que estou aqui, para fazer Chris [Hemsworth] contar histórias ridículas sobre todas as vezes que Loki tentou matá-lo”.
Trabalhar até o último segundo
A história da cena pós-créditos de Vingadores é um bom exemplo de como os filmes da Marvel seguem um sistema de produção diferente de outros estúdios de Hollywood. “Fiz uma piada sobre como deveríamos ver os heróis comendo shawarma por 30 segundos e então, dois meses depois, Kevin Feige disse: acho que podemos fazer”, conta Joss Whedon. “Filmamos durante a divulgação para a imprensa, depois da prèmiére. Havia um lugar de shawarma umas três quadras de distância do hotel. Kevin levou todos para lá. Chris Evans está com uma barba grande, então colocaram uma espécie de queixo gigante, meio como Warren Beatty em Dick Tracy, para cobrir e ele ficou disfarçando com as mãos”.
Para Ryan Coogler esse sistema é um fardo e uma bênção:“Você escuta histórias de que vai trabalhar até o último segundo, mas é uma faca de dois gumes: tudo é possível, você pode ter uma ideia quando está quase terminando tudo, mas você não vai dormir por quatro meses”, brinca.
Confiança
James Gunn conta que um conselho de Joss Whedon foi essencial para o sucesso de Guardiões da Galáxia: “Entreguei a primeira versão do roteiro e estava com muito medo, pois gostava do que tinha feito, mas estava achando que estava muito engraçado. E o que [Whedon] disse para mim, e conto isso para todo mundo, foi para tornar o filme ‘mais James Gunn’. Fui para casa e fiz isso. Foi nessa noite escrevi a cena [em que Star Lord tenta convencer a todos que tem um plano]”.
Encarar o desafio
Sobre a tarefa de unir dez anos de história cinematográfica em um único filme, Anthony Russo garante que Vingadores: Guerra Infinita foi assustador, mas também uma oportunidade “Você precisa ir para um lugar inesperado, não existe um mapa. É aí que está a diversão”. “O incrível e único sobre isso é que são artistas unidos, todos se apoiando. O que a Marvel fez foi contratar pessoas apaixonadas e passar desafios de conceitos . Você recebe as coisas e pensa ‘posso fazer algo isso’. Isso é uma forma diferente de contar uma história linear”, completa Joe Russo.