Na coluna mensal MELHORES HQs, o Omelete seleciona o que há de mais interessante entre os lançamentos nas histórias em quadrinhos nas bancas e livrarias nacionais (e, eventualmente, internacionais).
(ku)š!
Neufundland
Fierro Brasil
Dora
Aventuras de Menino
Chegada
Caramba
NoBrow
A CHEGADA
Shaun Tan
128 páginas, 20,5x30,5cm, colorido
Edições SM
R$ 48,00
A Chegada concorre com poucos à vaga de melhor lançamento em quadrinhos do Brasil... do ano passado. Ou seria de 2012? A grande e importante obra de Shaun Tan apareceu em algumas livrarias em meados de 2011, mas só ganhou distribuição à altura há pouco tempo. Devia ter recebido bem mais alarde. Vencedora do prêmio máximo do Festival d'Angoulême em 2008, a graphic novel trata da experiência de ser imigrante, de chegar a um lugar estranho onde tudo - a língua, a arquitetura, a fauna, a flora, as roupas, os costumes - é diferente, e tentar se adaptar. Para representar esta tensão, Tan não usa palavra alguma. Assim transforma a estranheza em metáforas visuais belíssimas, que conseguem traduzir nossa ideia abstrata de "estranho" em algo visível. A Chegada é, enfim, uma das melhores HQs da história - daquelas para tirar da estante de tempos em tempos e reler.
AVENTURAS DE MENINO
Mitsuru Adachi
(tradução: Adriana Kazue Sada)
216 páginas, 11,5x18cm, preto e branco
L&PM
R$ 15,00
A entrada da L&PM nos mangás, com este Aventuras de Menino e Solanin (também ótimo), é excelente em três aspectos: seleção de material, distribuição (é difícil não encontrar pockets da L&PM) e preço. Só peca, porém, em repetir prática de muitas editoras de mangá nacionais: o material originalmente colorido sai em preto e branco (ou, em tons de cinza, só para dar um gostinho). Se você consegue não prestar atenção nisto, vai ver o brilhantismo nas histórias de Mitsuru Adachi - mangaká famosíssimo no Japão, com quarenta anos de carreira. São pequenos contos morais, desenhados de forma belíssima, sobre adultos que encontram paralelos entre sua vida madura e algum fato da infância. E não é somente aquela lógica clichê de "voltar a ser criança", mas aprendizados inteligentes, com profundidade e criatividade. É uma pena que a leitura termine tão rápido.
FIERRO BRASIL 2
vários autores (organização de Claudio Martini e Juan Sasturain)
(tradução: Claudio Martini)
160 páginas, 21 x 28cm, colorido
Zarabatana
R$ 59,00
É um tanto absurdo - para não dizer "burro" - pensar que a inimizade histórica entre Brasil e Argentina foi um dos fatores que manteve as duas culturas de quadrinhos afastadas por tanto tempo. Para quem não sabe, os argentinos, apesar de terem uma indústria de HQs menor que a nossa em termos econômicos, cultivaram e cultivam quadrinistas que têm a HQ europeia como referência - de traço rebuscado e aspirações literárias. A Fierro - que representou esta força nos anos 80 e que voltou a ser editada há pouco mais de cinco anos - é o cartão de visitas para o quadrinho argentino atual, com imensa variedade de temas e estilos de HQ. E a edição brasileira, em seu segundo volume (anual), representa com perfeição o que sai mensalmente nas bancas do país vizinho; palavra de quem acompanha a original. Agora faltam duas coisas: que esta amostra sirva de estímulo para uma antologia de quadrinhos brazuca, representando o melhor do quadrinho brasileiro atual (a Fierro BR já dá a dica convidando alguns autores nacionais); e a entrada do quadrinho brasileiro na Argentina, onde ainda é praticamente desconhecido.
DORA
Ignacio Minaverry
(tradução: Claudio Martini)
172 páginas, 21x28cm, colorido
Zarabatana
R$ 55,00
Dando continuidade a esta aproximação com os quadrinhos argentinos, a Coleção Fierro da Zarabatana lança álbuns completos que saem em versão serializada na revista original. Dora, de Ignacio Minaverry, é um destes casos. Em três histórias, acompanhamos a adolescente do título em missão inesperada: caçar ex-dirigentes nazistas que se escondem do mundo e das autoridades no período logo após a Segunda Guerra Mundial. Os contos atravessam Alemanha, França e, claro, a Argentina - não só pelo quadrinho ser argentino, mas porque é sabido que o país vizinho foi refúgio de muitos nazistas em fuga. O traço é marcantemente anos sessenta, cheio de referências ao design gráfico e industrial da época, sendo o maior atrativo da HQ. Mas Minaverry também tem domínio de narrativa, com páginas cuja diagramação não só é atraente, mas também contam a história com economia. O último atrativo é que a edição nacional - assim como acontece com a Fierro Brasil e as coleções de Macanudo - é maior e bem melhor impressa que a coletânea original.
LÁ FORA
NOBROW 6
128 páginas, 22x31cm, £15 (com envio: ~R$ 45 - compre aqui)
(ku)š! #10
148 páginas, 10,5x14,8cm, US$ 12 (com envio: ~R$ 25 - compre aqui)
NEUFUNDLAND MAGAZINE
72 páginas, 23x30cm, €10 (com envio: ~R$ 40 - compre aqui)
¡CARAMBA! #2
1 rolo de papel com 0,3x5m, €10 (com envio: ~R$ 60 - infelizmente esgotada)
Por falar em antologias, estas quatro recomendações englobam quatro países diferentes: a NoBrow é inglesa, a Neufundland é alemã, a (ku)š! é letã (divertidíssimo receber uma correspondência que diz LATVIA - seria uma carta do Doutor Destino?) e a ¡Caramba! é espanhola. Apesar das procedências, todas, com exceção da última, são em inglês e reúnem quadrinistas de diferentes partes do mundo, embora próximos ao país de origem. As três buscam um tema a cada edição: a NoBrow só tem histórias com o tema "o duplo", a (ku)š! tem histórias sobre o mar, os colaboradores da Neufundland tinham que fazer HQs de 2 a 4 páginas com o tema "o sentido da vida" e os da ¡Caramba! fizeram um daqueles exercícios de "cada um faz um quadro da história". Mas o mais importante é que elas são pensadas como produtos para um público internacional - têm atrativos únicos (como ser uma HQ em rolo de papel), convidam autores internacionais e, no caso da (ku)š! e da Neufundland, optam pela língua franca do inglês (também no caso destas duas o frete internacional é extremamente em conta). Explico tudo isso só para perguntar: por que ainda não temos uma vitrine de quadrinhos brasileira que nem essa? Sim, as gráficas não ajudam; sim, o correio é caro; e sim, quem é que quer organizar quadrinistas? Mas, enfim, é um investimento. E não falta quadrinista brasileiro bom para fazer os gringos pirarem.
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