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Mulher-Maravilha | Superman de 1978 e Indiana Jones dão o tom do filme de Patty Jenkins

Conversamos com a diretora e vimos trechos do longa, que promete adicionar leveza e humor para o universo cinematográfico da DC

06.03.2017, às 14H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Desde a sua estreia em Batman Vs Superman, a Mulher-Maravilha de Gal Gadot pode ser considerada um dos grandes acertos do ainda confuso universo cinematográfico da DC. Seu filme solo, porém, nasceu cercado de rumores, começando pela saída da diretora Michelle MacLaren por diferenças criativas (um problema já comum no estúdio - entenda). Patty Jenkins - que por sua vez havia deixado a direção de Thor: O Mundo Sombrio pelas mesmas "diferenças"- entrou para o projeto e Geoff Johns, chefe criativo da DC, se tornou o supervisor de todos os longas do selo, mas a produção continuou a ser vista como incerta, com Jenkins vindo a público para defender seu filme (veja aqui). Agora, na reta final da pós-produção, a Warner decidiu esclarecer de vez todos os boatos, convidando um grupo de jornalistas, incluindo o Omelete, para visitar a ilha de edição de Mulher-Maravilha em Londres e ver de perto qual será o tom do primeiro filme estrelado por uma heroína dos quadrinhos.

Ainda é hilário para mim que [em Hollywood] você pode fazer filmes sobre um caracol, um orangotango ou um cachorro e fazer deles personagens universais, mas quando você tenta fazer uma mulher ser um personagem universal escuta, ‘hum, não sei, não sei’”, brinca Jenkins sobre o desafio de levar para as telas a heroína, que desde 1979, quando Lynda Carter aposentou seu laço da verdade na série de TV, não ganhava uma versão de carne e osso. Essa universalidade da Mulher-Maravilha, que a torna acessível para todos os gêneros, está no centro da visão da cineasta: “A minha grande contribuição é que não estou pensando nela como uma mulher, ela é apenas uma pessoa para mim. Como resultado, me sinto mais livre de coisas que seriam mais difíceis para um diretor do sexto oposto. Não preciso pensar se a roupa dela é muito reveladora. Estou livre dessas preocupações”.

Nas duas cenas exibidas - a primeira mostrando a viagem de Diana e Steve Trevor de Temiscira para Londres e a segunda com Mulher-Maravilha assumindo a frente de uma batalha na Primeira Guerra Mundial - o humor mostra ser um dos pontos fortes. A principal fonte de piadas está no contraste entre o idealismo da amazona e as regras sociais em uma época ditada exclusivamente pelos homens. “Ela não é feminista, pois nunca ocorreu a ela que alguém seria tratado diferente, o que por si só é uma declaração poderosa”, explica Jenkins. É o que, ao mesmo tempo, torna a personagem um símbolo na busca por igualdade: “Fico aborrecida quando ela se torna o centro de controvérsias sobre ser ou não um ícone feminista. Ela é. Ela tem sido por muito tempo, ninguém pode decidir se ela deveria ser ou não. Ela é, para muitas mulheres e homens que se identificam com ela”.

O conceito do filme nasceu da fotografia apresentada em Batman vs Superman, feita entre o final da pós-produção do filme de Zack Snyder e o início das filmagens de Mulher-Maravilha. A partir daí, Patty Jenkins estava livre para contar a sua história, construída em parceria com Geoff Johns: “O longa se sustenta sozinho, é uma história de origem. Há pequenos ajustes para incluí-lo em um universo maior, mas não existe uma realidade complexa, afinal é 1917. O que amo sobre isso é que, tecnicamente, o primeiro super-herói da história nesse universo é a Mulher-Maravilha. Ela é a primeira na cronologia”.

Como influências, a diretora cita Casablanca (1942), a franquia Indiana Jones e Superman: O Filme (1978). O clássico estrelado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman dá o tom da história de amor entre Diana e Steve Trevor, o arqueólogo vivido por Harrison Ford estabelece o clima aventureiro para a amazona que descobre um novo mundo e a visão de Richard Donner para o Homem de Aço tem combinação necessária de ingenuidade e força - e já ganhou um easter egg visto nos trailers. “Esse filme abalou meu mundo. Antes de começar a trabalhar em Mulher-Maravilha, revi com meu filho, que tinha 6 anos na época, e fiquei chocada. Esse menino, que já viu um milhão de filmes, no momento em que o pequeno Kal-El levanta o carro, meu filho ficou em pé no sofá, parado. E eu fiquei ‘Meu deus! Todos esses anos depois e olha isso. Isso é o quanto esse filme é puro’. Foi isso que o filme fez comigo quando eu tinha 7 anos e todos esses anos depois e continua a ter o mesmo efeito. ‘Eu sou Superman. Eu poderia ser Superman!’. Esse é o filme que eu queria fazer para todo mundo”.

A cineasta também vê conexões com Monster: Desejo Assassino, seu filme sobre uma serial killer que rendeu um Oscar para Charlize Theron: “O que quero na minha carreira é contar histórias poderosas, fazer ótimos filmes dramáticos sobre emoções universais. Para mim, trata-se de uma pessoa passando por uma situação excepcional, onde é preciso encarar como lidar com aquilo. No caso de Monster, era se tornar a pior coisa possível que você pode imaginar. Mulher-Maravilha é o inverso. Essa é uma mulher que percebe que tem todo esse poder, que pode fazer o bem com isso (...). Esse filme não é tão diferente de qualquer outra coisa que tenha feito pois é sobre o ponto de vista de um personagem, a sua jornada”.

Visual

Os trechos exibidos ainda não estavam finalizados, mas já é possível perceber a assinatura estética de Jenkins, que escolheu rodar o filme em película para dar uma grandiosidade clássica ao longa e optou por usar o maior número possível de locações - “Não sou uma fã da tela verde”. Assim, Temiscira ganha vida na soma de partes do litoral italiano, enquanto as ruas de Londres são adaptadas para voltar a 1917. 

No campo de batalha, o trabalho de câmera mostra o tom épico almejado pela diretora, aproveitando todos os ângulos para explorar os poderes da Mulher-Maravilha, que desvia balas com seus braceletes, como já visto nos trailers, bloqueia tiros de metralhadora com seu escudo (em um trecho belamente filmado de cima), quebra armas e dá saltos poderosos. A única ressalva seria a licença poética com que Diana deixa as suas roupas civis para aparecer com seu uniforme, com uma tiara e um escudo que surgem quase como mágica enquanto a câmera a mostra de costas. É um momento que, graças ao clima de aventura pulp estabelecido, ganha certa graça e não chega a tirar o impacto da ação que vem a seguir.

Além dos quadrinhos e do trabalho de pesquisa para se manter fiel à época, a cineasta cita o pintor John Singer Sargent como influência visual, mantendo a paleta de cores entre pretos, brancos e vermelhos. “Assim adicionamos algo que lembra uma pintura para criar uma terceira realidade, próxima a nossa, mas não exata”.

A Mulher-Maravilha

No coração do filme, é claro, está Gal Gadot, que Jenkins descreve como sendo a personificação da princesa amazona: “Há poucas pessoas que conseguem acessar um leque de emoções de forma honesta. Gal Gadot não é vaidosa, não é fútil, é profundamente bondosa, profundamente cuidadosa, muito otimista, muito forte, com uma pureza genuína no seu sorriso. Ela cresceu em Israel e tem esse entendimento complexo de ver conflito de verdade ao seu redor e ainda é capaz de manter essa esperança e pureza. E isso é tão Mulher-Maravilha! É exatamente isso que a Mulher-Maravilha precisa ser. Seria um desafio enorme ter alguém fútil...Alguém sem caráter não saberia agir como a Mulher-Maravilha. Já alguém que é assim, é apenas automático, vem naturalmente. Ela é uma ótima atriz e fez um ótimo trabalho, mas ela também é essa pessoa que exala amor, bondade, bravura e consideração e todas essas coisas”.

Futuro

Penso em um segundo filme o tempo todo, e mais. Não tenho interesse em fazer um filme sobre um personagem completamente sem mudanças. A vida não é assim. Nesse caso, estava extremamente interessada no contraste entre a sua confiança e ingenuidade com o mundo, como é essa jornada e o que é decidido no final. No próximo filme acho que haverá uma nova jornada, diferente, mas que precisa ser tão vulnerável e complicada como essa primeira”, explica Jenkins sobre seus próximos passos no universo da DC.

Ao menos nas mãos entusiasmadas da cineasta, o filme parece longe das incertezas dos rumores, pronto para apresentar novamente para o mundo uma das personagens mais importantes e significativas dos quadrinhos. Pelas cenas apresentadas, esse é certamente um filme com potencial para ser um divisor de águas, tanto para a DC no cinema, quanto para as heroínas na tela grande.

Mulher-Maravilha estreia em 1º de junho nos cinemas. Depois, uma Diana mais madura aparece em Liga da Justiça, que estreia em 16 de novembro no Brasil.

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