No caminho para se tornar uma cantora com status de diva – título que a sua voz é mais do que merecedora – Ariana Grande inevitavelmente deslizará e flutuará em diferentes estilos. Muito por isso, Sweetener, seu quarto trabalho de estúdio, é um álbum com grandes altos e alguns baixos. Em 15 faixas, a cantora entregou algumas de suas melhores músicas, mas também algumas de suas mais esquecíveis.
Ariana Grande Sweetener
Um dos movimentos mais certeiros na carreira de Ariana Grande veio no lançamento do primeiro single de Sweetener, “No Tears Left To Cry”. A faixa era o primeiro material inédito desde o ataque terrorista na Manchester Arena e chegou após um hiato da cantora, causado pela experiência traumática. No hit, Ariana fala sobre recomeçar, em um clima agridoce e fundamentalmente otimista. Mas além da temática sensata, a faixa pareceu ter encontrado o encaixe perfeito para Ariana; um pop sombrio e com toques sacros, que remetem à Madonna, mas se aproveita de sua voz doce do melhor modo.
Infelizmente, o quarto disco de Ariana Grande não seguiu este caminho. Ele traz algumas das referências encontradas no primeiro single, mas passeia por diversas outras batidas, algo que, em 15 faixas, torna de Sweetener um álbum pouco coeso. Parte do problema pode ter vindo da produção de Pharrell Williams, que parece ter brincado com os limites do cargo e exercido uma influência pesada no disco, entregando batidas e melodias que poderiam fazer parte de sua própria carreira. Por isso, algumas músicas acabam escondendo o talento real da cantora, que deveria chamar mais atenção do que a produção. Um dos maiores exemplos disto vem logo na segunda, “Blazed”, mas arranjos menos autênticos marcam também “R.E.M” ou “Succesful”.
O disco abre com uma das melhores performances vocais de Ariana. "Raindrops", uma bela versão de "An Angel Cried", do The Four Seasons, é a música mais poderosa e emocionante do disco, e tem menos de 40 segundos. A partir daí, Ariana demora para se sobressair novamente em seu próprio disco, mas quando isto acontece, sua voz vem com a relevância necessária. O meio de Sweetener, quando chega na ótima “God Is A Woman”, é onde brilha mais forte, e a faixa-título é onde o arranjo recua apropriadamente, e dá espaço para que Ariana cante mais forte, ainda combinando perfeitamente o som do pop atual com um clima do estilo nos anos 80. Isto acontece apenas mais uma vez, em “Goodnight n Go”, onde ela abusa das ondulações e agudos e consegue demonstrar todo o seu talento vocal. Fechando os destaques, Ariana também impressiona em “Get Well Soon”, canção que vem na onda do pop com arranjo minimalista, e ainda encerra o disco com uma duração de 5:22, fazendo referência à data do ataque de Manchester, em 22 de maio.
No final das contas, Sweetener deixa a impressão de que poderia ser mais curto, ainda mais considerando que "R.E.M" surgiu de uma demo de Beyoncé e "Borderline" era uma faixa de Missy Elliot. Em uma entrevista à Variety, o produtor executivo do disco, Scooter Braun disse que Sweetener seria o disco que entregaria as músicas que Ariana merece: “É hora para Ariana cantar as músicas que a definam. Whitney, Mariah, Adele – quando elas cantam, a música é delas. É hora de Ariana ter a dela”. Infelizmente, Sweetener não teve este resultado. Mas ele é um passo necessário para este caminho, que rendeu aos fãs algumas faixas que marcarão a carreira da cantora de modo positivo.
Ouça Sweetener: