Música

Crítica

Yeezus - Kanye West | Crítica

Rapper se mostra mais contido e sombrio em seu sexto álbum

20.06.2013, às 12H05.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

Muito se espera quando um novo trabalho de Kanye West chega, afinal, um dos maiores rappers da atualidade ao lado de grandes nomes da música, como Daft Punk, Justin Vernon (Bon Iver) e Frank Ocean, só pode estar fazendo algo muito bom, certo?

Nem tanto. Em Yeezus, lançado nessa semana, West aparece mais contido, com canções menos melódicas e bastante sombrias. Em contrapartida, segue com traços de genialidade na escolha de rimas, samples e parceiros.

O disco começa com "On Sight", produzida em conjunto com o duo francês Daft Punk, muito celebrado nos últimos dias depois do lançamento de Random Access Memories - leia a nossa crítica. O estilo de Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter fica evidente logo nos primeiros segundos da faixa, que apresenta um som futurista, marcado por sintetizadores e batida eletrônica. Kanye mostra a força de sempre no vocal - definitivamente, um bom começo.

Esta parceria já acontece há algum tempo e tem dado bons frutos para os dois lados. Em 2007, Kanye lançou "Stronger", canção que usa "Harder, Better, Faster, Stronger" como sample, chegando ao primeiro lugar das paradas no Reino Unido e nos Estados Unidos.

Para Yezzus, o Daft Punk interrompeu as gravações de seu álbum e colaborou com rapper em quatro faixas. Além de "On Sight", os franceses marcaram presença em "Black Skinhead", "I Am a God" e "Send It Up". "Black Skinhead" foi divulgada oficialmente em uma apresentação de Kanye West no programa norte-americano Saturday Night Live e é protagonizada por uma bateria alternada com instrumentos distorcidos. "I am a God" conta com a participação de Justin Vernon, da banda folk Bon Iver, que também canta em "Hold My Liquor" e "I’m In It".

"New Slaves" é uma das melhores faixas do álbum. É bem sombria, com letra com crítica e participação de Frank Ocean. "Todos vocês negros querem as mesmas coisa (...) Gastar todo dinheiro no Alexander Wang. Novos escravos”. Uma música bem poderosa, com inserções de elementos eletrônicos entre as principais estrofes e um grave que cria um clima tenso.

A seguir, "Hold my Liquor", que tem um andamento mais lento, boa harmonia e feita com camadas de sintetizadores. Um coro no final, liderado por Vernon, seguido de um solo de guitarra com muitos efeitos, deixa a música com uma pegada envolvente e emocionante - essa é uma daquelas músicas que vale a pena ser ouvida com fones de ouvido com o volume alto.

"I'm In It" é mais uma destas canções sombrias que Kanye West apresenta em Yeezus. A letra, em contrapartida, é um tanto quanto explícita, tratando de uma relação sexual, descrita bem detalhadamente. O lado melódico do cantor norte-americano reaparece em "Blood on the leaves", quando ele usa o sample de "Strange Fruit", na voz da inigualável Nina Simone. A mescla do piano, com a voz de Nina e Kanye é muito boa e harmoniosa, fazendo desta a faixa mais “orgânica” do disco.

"Guilt Trip", por outro lado, parece uma piada. É uma música que traz referências a Star Wars, citando o Chewbacca, e fala de tiros, usando uma sonoplastia feita com sons de pistolas. Apesar de ter um tom de comédia nas primeiras audições, com o passar do tempo "Guilt Trip" se mostra um bom trabalho.

A penúltima canção de Yezzus é "Send it up”, que conta com a colaboração na letra e nos vocais do rapper King L e produção do Daft Punk. A batida eletrônica aparece mais uma vez, de uma forma mais lenta, acompanhada de uma harmonia em loop um pouco enjoativa. Fica cansativo depois da segunda estrofe.

"Bound 2" encerra o mais recente álbum de Kanye West em grande estilo. Para a alegria dos fãs do cantor, podemos vê-lo em uma bela atuação. Os samples usados são muito bons e Kanye rima com muita classe, quase que respeitando os vocais das canções usadas de fundo. Grande potencial para se tornar música de trabalho nos próximos meses.

No geral, Yezzus é um álbum razoável. Não chega a ser inovador, tampouco surpreende, apesar dos colaboradores de peso. Kanye continua tendo seus momentos de genialidade e, assim conseguirá manter seus shows épicos e super produzidos, para a alegria dos fãs.

*Julião Pacheco é jornalista e escreve sobre música no Blog do Julião e no Twitter @JuliaoPacheco

Nota do Crítico
Bom

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.