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Em show-tributo, Charlie Brown Jr. mostra que músicas passaram no teste do tempo

Público conectado, atento e interessado foi o destaque do show gratuito em São Paulo

Omelete
5 min de leitura
26.01.2019, às 10H14.
Atualizada em 05.09.2023, ÀS 18H24

Possivelmente o Charlie Brown Jr. foi uma das últimas grandes bandas de rock do Brasil. Com a pegada praiana, as guitarras saturadas e o vocal marcante de Chorão, o grupo que estourou no final da década de 90 conseguiu se manter relevante até o encerramento das atividades, em 2013, após a morte do vocalista.

Agora, quase seis anos após o fim abrupto da banda, o filho de Chorão, Alexandre Abrão, junto com os músicos Marcão Britto e Thiago Castanho (guitarras), Heitor Gomes (baixo) e Pinguim Ruas (bateria), integrantes de algumas das fases do CBjr., estão de volta com um show tributo para comemorar o 25º aniversário do grupo. O primeiro show da turnê, que deve passar por algumas cidades do Brasil, aconteceu nesta sexta-feira (25) no Vale do Anhangabaú (SP) e contou com a participação de nomes como Supla, Di Ferrero, Projota e Panda - vocalista do La Raza, que deve acompanhar o grupo nos próximos shows.

O tempo não estava favorável, já que poucas horas antes a cidade acabava de ser atingida por uma das comuns tempestades de verão. No entanto, muitas pessoas estavam aguardando a entrada do grupo no palco montado em um dos espaços mais democráticos da cidade.

Dava para sentir a expectativa no ar, nem mesmo a lama e a chuva - que não deu trégua -, foram capazes de dissipar essa sensação. E essa mistura entre o palpável e o intangível deram a tônica para o início do show, embalado por uma faixa instrumental, imagens de Chorão e Champignon em um telão no fundo do palco, até Panda fazer as honras e soltar “Tamo aí na Atividade”.

Acompanhado por um público intenso e que em sua maioria não aparentava ter mais de 25 anos, o show-tributo deixa em evidência a longevidade da obra criada pela banda durante seu tempo em atividade. Nem mesmo a chuva, a falta de telões nas laterais do palco e a visibilidade limitada pela quantidade de guarda-chuvas foi capaz de conter a empolgação de quem estava ali. A apresentação seguiu com as já clássicas “Tudo que Ela Gosta de Escutar” e “Proibida pra Mim”, com o público cantando e reagindo o tempo todo. A conexão das pessoas com a música era realmente muito forte.

No entanto, nesse momento ficou claro que a pressa em viabilizar a apresentação acabou gerando alguns tropeços para a banda, com o instrumental ainda ganhando forma e algumas atravessadas. Porém, nada que fizesse as pessoas deixarem de cantar e pular. Di Ferrero foi o segundo convidado a entrar no palco. Tão feliz e empolgado quanto a plateia, confessou: “Tô aqui representando todos vocês aí embaixo, como fã. Hoje vai ser uma noite histórica”, e abriu sua participação com “Ela vai voltar (Todos os defeitos de uma mulher perfeita)”, “Só por uma Noite” e “Lutar Pelo Que é Meu”.

Com o público se aproximando cada vez mais do palco, à medida que o show foi ficando mais quente, ficou claro que o apelo sonoro do Charlie Brown se mantém forte. Pode até parecer surpresa para alguns, mas, sem dúvida, a onda saudosista em conjunto com a força musical da banda santista ainda gera interesse e reverbera nas mentes de um bom número de pessoas.

Como confirmado por Maria Sampaio, 19, uma das fãs presentes no show: “Eu tenho 19 anos e não pude assistir o Charlie Brown antes. Meus irmãos iam para o show e minha mãe não deixava eu ir, porque eu era muito pequena”. E segue, “Quando eu tinha idade para ver a banda, o Chorão morreu, e aí agora ter a oportunidade de vir, ouvir as músicas deles, é uma coisa extraordinária. Incrível!! Eu adorei”. E essa parecia a sensação de quase todo o público que dançava na lama do Anhangabaú.

A apresentação também contou com a participação de Supla, e a sua marcante energia de palco juvenil, e Projota. Dinho Ouro Preto, anunciado como um dos participantes do tributo, havia anunciado poucas horas antes - por meio de uma postagem em seu Instagram - que não iria participar da apresentação, pois “o clima entre eles (os integrantes da banda) estava muito ruim”. Também chamou a atenção que, ao contrário do anunciado previamente, Digão, vocalista do Raimundos, não compareceu.

Ao final do show, com a chuva ainda caindo, e depois de pouco menos de 1h10 de apresentação, o que se notava era a sensação de realização dos fãs, que sorriam, se abraçavam e comemoravam. Outra fã da banda, Thamires Venas, 21, que aprendeu a ouvir o grupo com os pais, fez questão de ressaltar o quanto gostou da ideia de terem convidado vários vocalistas para interpretar as faixas da banda. Algo que deve permanecer durante o restante da turnê.

Homenagens a Chorão e Champignon

Além dos convidados para cantar algumas das músicas mais famosas do Charlie Brown Jr., o show ainda contou com imagens de arquivo de Chorão que serviam de apoio para que a voz do vocalista embalasse, em alguns momentos, a performance da banda. Uma escolha arriscada, mesmo se tratando de um show-tributo, mas que acabou por dar ainda mais força para os fãs que acompanhavam as faixas a plenos pulmões. A filha mais velha de Champignon, Lulu também foi convidada a subir ao palco como forma de homenagem ao baixista e um dos primeiros integrantes do grupo.

Por fim, o show acabou rápido. De repente todos se despedem e deixam o palco. Os fãs vibram e deixam claro que o som do grupo santista conseguiu romper as barreiras do tempo, apesar do fim inesperado das vidas de Chorão e Champignon, a arte que eles criaram ainda impacta e reverbera na rotina de pessoas e gerações diferentes.

Por isso, caso você tenha uma pontinha de vontade de ouvir o que o Charlie Brown Jr. produziu e confraternizar com outras pessoas que também têm isso em perspectiva, vale a pena ficar de olho nos locais onde os próximos shows devem acontecer. Afinal de contas, apesar de simples, essa pode ser uma das poucas oportunidades para sentir o que eles foram/são capazes de fazer e como suas músicas ainda carregam significado para um número incontável de fãs em todo o Brasil.

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