Texto por: Daniel Dystyler, do Wikimetal
- "Você é mesmo fã dessa banda da camiseta que está usando?"
- "Você sabe qual estilo de metal eles tocam?"
- "Fala o nome de uma música..."
Essa insistente sequência de perguntas, rolou no Knotfest Brasil, no Anhembi, no último dia 18 de dezembro.
O questionador era um homem, acima dos 40 anos, "verdadeiro fã de metal."
A questionada era uma jovem, Larissa Catharine Oliveira, jornalista do Wikimetal, carinhosamente apelidada de Dude, que estava fazendo a cobertura do festival para o nosso portal.
Dude, que usava camiseta do Black Pantera, banda que ela não só assistiu ao vivo algumas vezes, como já entrevistou, respondeu com educação as perguntas.
Não precisaria, mas citou 2 músicas do Black Pantera e se afastou do "sabatinador". Ela poderia ter recitado o nome de TODAS as músicas, de trás para frente, tão conhecedora que ela é da banda e de metal em geral. Citou 2 porque é gentil, mas não precisaria ter respondido nada.
Dude e o Black Pantera
Mas isso não é o mais importante. O ponto, que me faz escrever essa coluna, se desdobra, na verdade, em dois:
O primeiro, é que apesar de o diálogo ter acontecido especificamente no Knotfest Brasil e especificamente com a Dude, poderia ter acontecido em qualquer lugar, em qualquer data e com qualquer mulher.
Na verdade, são raras as mulheres que ainda não tiveram que passar por similares constrangimentos de ter que "provar" que conquistaram o "direito" de usar uma camiseta de uma banda. Algo que nunca (ok, "nunca" é um pouco radical: “raríssimas vezes”) acontece com homens.
Ninguém nunca chegou para mim do nada e perguntou se eu sou fã MESMO do Megadeth, se realmente conheço o estilo que o Queensrÿche toca ou se eu sei o nome de duas músicas do Blind Guardian.
@larissacatharineo quando um homem vem questionar se a mina conhece a banda da camiseta dela, só que é um fã de pantera x eu com a camiseta do black pantera #knotfestbrasil #blackpantera #heavymetal #pantera #philanselmo #rexbrown #knotfestbrasil2022 #jornalismocultural #rock #submundodorock #wikimetal ♬ som original - Larissa Catharine Oliveira
Mas isso, quem sabe, é tema para eu desenvolver em outra oportunidade. Quero falar do segundo ponto decorrente da inquisição ocorrida:
Eu fui ao Knotfest, e analisando o público de quase 50 mil presentes no festival, pasmem: a Dude era a regra, e não a exceção! Quem era a exceção, era o tiozão do metal (grupo no qual eu me incluo, de homens, acima de 40 anos, que sempre gostaram de metal desde os anos 70 ou 80) e que se acha o "guardião do metal" (já nesse grupo, eu NÃO me incluo).
Eu, Daniel Dystyler, no Knotfest Brasil
O que eu vi no Knotfest é um verdadeiro mar de uma nova geração que ama o metal. Diferente. Mais aberta. Menos preconceituosa.
Não é à toa que o palco do Bring Me The Horizon estava muuuito mais lotado que o do Pantera. E que o palco do Slipknot estava muuuito mais lotado que o do Judas Priest.
Vejam que eu não estou fazendo um juízo de valor. Particularmente, eu gosto muito mais de Judas que de qualquer banda que se apresentou naquele dia (aliás, o show foi incrível. Rob Halford cantando muito do alto dos seus 71 anos).
Mas eu, agora, sou a exceção. E isso ficará cada vez mais evidente e mais fácil de ser percebido. A cada dia que passa, a nova geração só vai crescer, angariando novos fãs. A cada novo show ou festival, adolescentes e crianças estão descobrindo a magia de ir num show de rock ou heavy metal. E a velha geração só diminui, deixando de ir em shows, deixando de estar presente em eventos, seguindo o curso natural da vida. Como diria o Metallica, "Fade To Black"…
Eu demorei um tempo para perceber. Quando fundamos o Wikimetal - Nando Machado (fundador e baixista do Exhort), Rafael Masini e eu (ex-roadies do VIPER dos tempos de Andre Matos) - no meu imaginário, o nosso público seria "parecido" com a gente: Fãs de Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica, Deep Purple, Led Zeppelin, Slayer, Anthrax, Kiss, Scorpions, Whitesnake, AC/DC, Megadeth e centenas de outras bandas.
Hoje, eu percebo como o público mudou. Não apenas o público do Wikimetal, nem do Knotfest, mas o público que gosta de música pesada em geral.
O fato constatado no Knotfest, da nova geração estar "tomando conta", é algo que percebo nitidamente nas interações diárias no Wikimetal. Como o nosso site "bomba" de audiência e engajamento, quando falamos do Corey Taylor, Oliver Sykes ou Mike Shinoda (dentre tantos outros).
E olha que eles nem são tão "novos" assim... São novos se comparados com Ozzy, Coverdale e Plant (dentre tantos outros). Mas já são meio veteranos se comparados com Architects, Halestorm e The Pretty Reckless (dentre tantos... bom, vocês já entenderam).
E por que isso é relevante?
Porque chega a ser meio ridículo ver esses marmanjos, homens, mais velhos, que se acham os defensores do metal, questionando diariamente as sensacionais mulheres que fazem o Wikimetal.
"O que você sabe sobre Iron Maiden?"
"Você nem tinha nascido quando o Metallica lançou o ‘Black Album’!"
"Por que você está falando sobre esse assunto?"
Esses questionamentos, acontecem quase diariamente nas nossas redes. E a resposta, é o ponto desse texto:
Sabe por que elas falam desses assuntos, mesmo tendo nascido depois, mesmo sendo mulheres? Porque o deslocado aqui é você.
O metal é um movimento, vivo, que cresce, de várias formas, que segue andando. Para frente, para os lados, para cima, para baixo. Não parou no Never Say Die!, nem no Powerslave, nem no Master of Puppets. E nem vai parar.
E por mais importante e relevantes que sejam esses discos e essas bandas que todos nós (de todas as idades e de todos os gêneros) amamos, essas bandas vão parar. Elas vão acabar. Se não agora (algumas já pararam), em alguns anos, porque como diria o Helloween em "March of Time”, "o tempo marcha por cima de todos nós."
E a perpetuação do heavy metal é isso: É a Dude. São os 90% do Knotfest que foram ver Bring Me The Horizon e não Judas Priest. É a nova geração. De bandas, de fãs e de jornalistas de música. Uma geração mais aberta, menos preconceituosa.
Então se você está incomodado de ver a Dude, e todas as outras 15 maravilhosas mulheres do Wikimetal, Bru, Carol, Erica, Fabi, Gab, Joana, Lari, Mafê, Manô, Marcela, Marina, Nina, Simone, Sophie e Val, mulheres que cuidam de todos os aspectos do melhor conteúdo de rock e heavy metal, bem, se você está realmente incomodado com elas, os incomodados que se... (vocês já entenderam).
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