Desde que o episódio "San Junipero" estreou na terceira temporada de Black Mirror em 2016, nenhum outro romance na série foi o mesmo. "Hang The DJ" até se mostrou fofo no ano seguinte, mas é a história de Yorkie (Mackenzie Davis) e Kelly (Gugu Mbatha-Raw) que continuou sendo referenciada e usada como easter egg até anos depois.
Agora, o terceiro episódio da sétima temporada, "Hotel Reverie", talvez seja o único que realmente chegue perto de ser uma continuação espiritual do legado deixado pelo casal. Aqui, vamos acompanhar a estrela de Hollywood Brandy Friday (Issa Rae) que, cansada de ser renegada a papéis secundários por ser uma mulher, aceita participar do remake de um filme antigo, pegando o papel protagonista que antes era masculino.
A pegadinha aqui é que ela é a única novidade da regravação. Através de uma nova tecnologia ajustada por Kimmy (Awkwafina), Brandy é inserida digitalmente no ambiente do longa, atuando, inclusive, ao lado da atriz daquela época, Dorothy Chambers (Emma Corrin). Todos ali acreditam estar vivendo uma vida real, mas ela começa quando o título do filme aparece e acaba quando os créditos finais rolam.
Já no começo, é fofo acompanhar o primeiro encontro das protagonistas, com uma mudança no roteiro já que Brandy não sabe tocar piano e causa estranheza – e não admiração – em seu par romântico. Mas a protagonista consegue transformar a estranheza na peça que faltava da comédia romântica e a usa de pretexto para se conectar de outras formas com Dorothy, em sua interpretação de Clara Rice-Lechere.
Tudo muda quando um erro no sistema faz com que ele trave e prende Brandy ali dentro, onde o tempo passa de forma diferente. Cada segundo do lado de fora equivale a sete horas na simulação, fazendo com que ela passe o equivalente a meses ao lado de Dorothy.
As duas vivem momentos fofos, sensuais e, até, dramáticos juntas durante esse período, com ajuda de muita química entre Rae e Corrin. O segundo episódio mais longo desta temporada, com 1 hora e 16 minutos de duração, é muito centrado em diálogos e eles ajudam a dar profundidade para o romance que cresce ali. Com ótimas pitadas de humor nos bastidores que apenas Awkwafina é capaz de proporcionar.
O final é agridoce, afinal, Dorothy é apenas uma simulação que tem hora para começar a acabar, mas ainda deixa o coração quentinho e, apesar de provavelmente não superar San Junipero, constrói um romance lésbico bom o suficiente para servir como um presente para os fãs depois de nove anos.
ok...