Jennifer Connelly, Daveed Diggs e Sean Bean na 2ª temporada de Expresso do Amanhã, série de TV de Snowpiercer

Créditos da imagem: Expresso do Amanhã/Divulgação

Netflix

Crítica

Crítica: 2ª temporada de Expresso do Amanhã acerta com conflito intenso e caos

Com diferentes trens e líderes em disputa, série cresce e mostra que encontrou sua voz

31.03.2021, às 13H03.

Em 2020, a série de TV de Expresso do Amanhã começou de forma curiosa ao unir a HQ francesa O Perfuraneve, e a estética do filme de Bong Joon Ho, em um mistério policial. Por sorte, a trama foi se ajeitando ao longo dos 10 episódios, com bons personagens e uma grande dose de caos. Na segunda temporada, o programa deixa claro que encontrou sua voz em uma intensa guerra fria entre tripulações.

Pouco após o detetive Layton (Daveed Diggs) emplacar sua revolução e unir todas as castas do Snowpiercer, o trem é atacado por uma locomotiva rival. Atracada na traseira como um parasita, a máquina chamada de Big Alice é comandada por ninguém menos que Joseph Wilford (Sean Bean), o enigmático engenheiro responsável por ambos os comboios que abrigam o restante da humanidade no apocalipse glacial. Ex-Fundista, Layton preza pela igualdade e harmonia entre todos do Snowpiercer, tentando unificar os povos sob o lema de um único trem em que todos têm voz. Já Wilford é autoritário, valoriza a ordem, o controle e, claro, um culto à sua imagem. Com os líderes forçados a cooperar, a temporada mergulha a fundo nas diferentes visões de comando que estão em jogo.

O grande acerto é não se deixar levar por um conflito de Bem vs. Mal. Por mais que Wilford seja pintado como um vilão, a série deixa claro que há desafios em ambos os lados. Depois da revolta, o arco de Layton poderia facilmente se acomodar e focar na ameaça externa, mas o revolucionário não tem um minuto de descanso. Na recém-conquistada posição de liderança, ele pena bastante para aliviar as tensões de classe e conciliar as demandas do povo, ao mesmo tempo em que não sabe lidar com inquietações e os seguidores de Wilford. Toda sua tomada de poder foi motivada por criar um sistema diferente do imposto por Melanie (Jennifer Connelly), então há uma certa desesperança quando ele se vê forçado a utilizar as mentiras e técnicas de controle a que se opôs. Nenhuma mudança enorme vem sem repercussões igualmente grandes, e nem todo líder consegue lidar com o peso do movimento que lidera.

Na oposição, Wilford é um vilão terrivelmente marcante. Por trás de toda sua elegância, há um homem amargurado, impiedoso e tomado por um desejo de vingança contra Melanie e os demais que roubaram o Snowpiercer de suas mãos, lhe deixando à mercê do frio. À primeira vista, sua administração no Big Alice parece equilibrada, mas logo fica evidente como sua tirania resultou em uma tripulação enxuta e esfomeada. A série não cai no maniqueísmo de colocá-lo como errado pela sua forma de governo, mas o estabelece como antagonista por sua personalidade desprezível e manipuladora, o que acaba sendo uma decisão muito mais rica para a narrativa.

A trama toda ganha camadas quando não só coloca líderes em conflito, mas sim pessoas que ocupam posições de poder apesar de todos seus defeitos, preconceitos e decisões questionáveis. Ajuda muito que, para isso, o programa conta com duas presenças tão fortes quanto Daveed Diggs e Sean Bean. O primeiro passa a sensibilidade de alguém empático, que não perde a cabeça por mais estressante que a situação fique. Já Bean traz um ar extremamente sarcástico e antipático à Wilford, que sabe muito bem como manter as aparências na frente do público, e apunhalar seus oponentes pelas costas.

Outra boa decisão da produção foi criar arcos secundários que realmente complementam a narrativa principal. O elemento policial, que soou meio deslocado lá no começo da série, retorna com a inspetora Bess (Mickey Sumner) investigando crimes de classe e se deparando com os seguidores de Wilford no Snowpiercer. Ou o drama de Melanie enfim reencontrar Alex (Rowan Blanchard), sua filha perdida - apenas para descobrir que ela foi criada e manipulada por Wilford, para se tornar a condutora de Big Alice. Mesmo as subtramas que mais parecem irrelevantes, como o tráfico entre trens e o submundo do crime, ajudam a dar dimensão ao caos e incerteza dos habitantes em meio à guerra fria dos líderes. É melhor ainda quando, na reta final, o programa reúne tudo que desenvolveu em uma empolgante sequência final, repleta de motim, traição e violência.

A primeira temporada de Expresso do Amanhã demorou um pouco para engatar. É completamente justificável, visto que o seriado passou anos no limbo de desenvolvimento, com saída de showrunners por diferenças criativas e até trocas de emissora. Isso tudo ficou no passado. O segundo ano é a prova de que a produção entende a riqueza de seus personagens e sabe como posicioná-los em situações complexas e intrigantes. É um pouco irônico que mesmo em uma ambientação tão restritiva, esse universo parece cada vez maior, interessante e perigoso.

Nota do Crítico
Ótimo
Expresso do Amanhã (2020)
Em andamento (2020- )
Expresso do Amanhã (2020)
Em andamento (2020- )

Criado por: Josh Friedman e Graeme Manson

Duração: 2 temporadas

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