À primeira vista, Creature Commandos – uma animação violenta e engraçada sobre um “Esquadrão Suicida de monstros” – não parece o tipo de coisa que pede para ser a primeira produção do novo Universo DC (DCU). É claro que o verdadeiro pontapé inicial do DC Studios virá em 2025 com o Superman de James Gunn, mas a série, que estreia nesta quinta (5) na Max é nosso primeiro contato com a nova empreitada.
A estranheza, porém, é diluída em apenas alguns minutos. Primeiro porque fica muito claro que essa já era uma produção em andamento antes de Gunn, que criou Creature Commandos e escreve todos os episódios, ser nomeado o “Kevin Feige da DC” – uma terceira peça numa trilogia informal com O Esquadrão Suicida e Pacificador – e segundo porque a história, recheada de criaturas com origens trágicas e corações de ouro, é a cara de seu criador. Gunn, o homem que nos fez chorar por Rocket Racoon e rir de Doninha, está em casa aqui.
Se passando um ano depois da primeira temporada de Pacificador (que,com exceção da aparição da Liga da Justiça, é inteiramente cânone ao DCU. O Esquadrão Suicida, portanto, também é), Creature Commandos talvez seja parecido demais com a Força Tarefa X. Criada por Amanda Waller (Viola Davis) após os eventos de Pacificador, quando o Esquadrão Suicida é exposto ao mundo e então proibido, as aventuras dos monstros da Força Tarefa M envolvem viagens a outros países, líderes que podem, ou não, ter intenções perigosas para o resto do mundo e até um Rick Flag.
Flag Senior, no caso. O personagem é vivido por Frank Grillo, o líder do time que inclui a Noiva Frankenstein (Indira Varma), Dr. Fósforo (Alan Tudyk), Nina Mazursky (Zoë Chao) e a dupla de personagens dublados por Sean Gunn: Doninha e o MVP de toda a série: G.I. Robot. Eric Frankenstein (David Harbour) faz aparições momentâneas, e junto com G.I. oferece as melhores risadas da história, que também emociona ao contar os passados de figuras como Nina e Doninha.
Com exceção do primeiro episódio, todos os capítulos da série contém flashbacks para as origens dos monstros. A escolha limita Creature Commandos já que estas lembranças têm graus variados de sucesso, sofrendo aqui e ali tanto por uma montagem frequentemente picotada que não os deixa respirar quanto por desequilíbrio tonal. Alguns, envolvendo os personagens destacados no parágrafo anterior, são genuinamente comoventes, e hilários.
Isso pode sugerir que Creature Commandos é uma história fechada, e de fato os acontecimentos da série não parecem destinados a ditar, digamos, o que vai rolar em Superman. Mas Gunn não tem medo de colocar o pé nas águas do DCU, e inclui vilões e heróis famosos da editora em participações especiais. Alguns nem falam, já que não têm um ator escalado (no DC Studios, quem interpretar um personagem em animação reprisará o papel nos projetos live-action), mas a presença deles ali nos dá a primeira grande verdade sobre este novo universo.
Isto é, o DCU não está começando do começo. Gunn não vai se dar ao trabalho de fazer algo estilo a Fase 1 do MCU. Entramos num mundo que já tem heróis, vilões e aventuras. Talvez nem todos sejam publicamente conhecidos, mas eles estão em atividade. É uma escolha apropriada, já que Creature Commandos inaugura o novo DCU depois de duas décadas e meia de filmes e séries de heróis. Somos uma sociedade familiarizada com a ideia.
A atitude de Creature Commandos – assim como o uso de animação para dar um gostinho diferente, e em total sintonia com monstros, criaturas e robôs – se revela, então, como refrescante. Pulamos de cabeça na história, que por vezes é apressada demais e de fato é semelhante ao que James Gunn já fez na DC, mas também reforça (em especial no ótimo finale) sua melhor qualidade como roteirista. Ninguém na Marvel ou DC entende melhor a essência de seus personagens.
Criado por: James Gunn