Alice Braga e Joel Edgerton em Matéria Escura (Reprodução)

Créditos da imagem: Alice Braga e Joel Edgerton em Matéria Escura (Reprodução)

Séries e TV

Crítica

Matéria Escura usa o multiverso para falar sobre escolhas

Série do Apple TV+ pega ideias - e vícios - emprestados do scifi e dos quadrinhos de super-herói

Omelete
3 min de leitura
26.06.2024, às 06H00.

Quem acompanha as histórias em quadrinhos há algum tempo está acostumado ao conceito de multiverso. Utilizado para "zerar" a linha do tempo de um personagem, dando aos criadores a liberdade para contar histórias sem se preocupar com o que era canônico, esse recurso acabou servindo recentemente no cinema para casar fan service e nostalgia por um passado não tão remoto assim. Em Matéria Escura, o multiverso tem uma finalidade dramática oposta à integração: justamente o drama de fazer escolhas. 

Na minissérie, os momentos em que uma decisão é tomada formam os nós das infinitas timelines da vida de qualquer um - seja em um relacionamento, seja no trabalho ou no simples ato de pegar ou não uma blusa ou um guarda-chuva na hora de sair de casa. Tudo pode mudar a partir de uma simples decisão. É isso que percebe Jason (Joel Edgerton), um promissor cientista que descobre que sua namorada está grávida. As opções naquele momento são: acreditar no amor entre eles e formar mais uma família classe-média em que ele deixa de lado sua pesquisa e vira um professor universitário e Daniela (Jennifer Connelly), uma vendedora de arte; ou seguir os estudos que o levam à criação de uma empresa de sucesso, riqueza e luxo, e ela a uma renomada carreira como artista plástica.

O que poderia ser um drama pessoal ganha ares de ficção científica quando o Jason que optou por terminar seu relacionamento com Daniela resolve correr atrás do que perdeu enquanto estava afundado nos estudos e no trabalho. Mas ele não faz isso indo atrás da Daniela da sua linha do tempo - ele vai atrás da Daniela que deu à luz seu filho, sequestra o Jason daquela timeline e o coloca em seu lugar.

Desde o início, com o sequestro, Matéria Escura se organiza como uma narrativa policialesca de noir, com mortes, perseguições e traições. A luz da esperança surge no papel da brasileira Amanda (Alice Braga), uma psiquiatra que tinha um relacionamento com o Jason2 (o que optou pelos estudos e trabalho) e acaba ajudando Jason1 a buscar sua linha do tempo original. No caminho, os dois passam por cenários em que nosso mundo foi destruído pelas catástrofes climáticas que já estão visíveis na nossa timeline atual - uma forma de devolver a essa história sua natureza de ficção científica hard, com implicações da ação para toda a humanidade.

A série é bem didática em mostrar quando estamos em cada timeline e quem é cada Jason, Daniela ou Amanda, com diferentes ambientações, figurinos, cabelos e, claro, variações em cada atuação. Ainda assim, parece pecar no excessivo número de cenários. Os nove episódios de quase 60 minutos têm cenas longas, algumas bastante contemplativas, mas esta é uma história que poderia ser contada em seis horas tranquilamente. Ao fim do episódio 7 eu já estava bastante satisfeito com a trama contada por Blake Crouch, que além de ter escrito o livro em 2016 também foi o showrunner da adaptação para o Apple TV+. É como se o Blake1 (autor) tivesse viajado à timeline do Blake2 (showrunner) com um monte de ideias. São boas ideias, mas que não precisavam estar ali - principalmente aquele final. Excesso é a palavra.

Se a ideia é olhar para o que já aconteceu e aprender com o passado (ou, neste caso, com múltiplas linhas do tempo), os filmes e séries estão fazendo exatamente o contrário ao repetir os erros que tornaram os quadrinhos americanos de super-heróis um gênero "batido" e restrito a um nicho. Matéria Escura tem muitas ideias boas, tem o coração no lugar certo, mas não soube a hora de acabar. Exatamente como as HQs de heróis.

Nota do Crítico
Ótimo
Matéria Escura
Encerrada (2024- )
Matéria Escura
Encerrada (2024- )

Criado por: Blake Crouch

Duração: 1 temporada

Onde assistir:
Oferecido por

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