A franquia Divertida Mente é um verdadeiro fenômeno da Pixar Animation Studios. Depois do sucesso do filme original, lançado em 2015, sua continuação estreou nos cinemas este ano e arrebatou a bilheteria mundial, tornando-se o oitavo filme mais lucrativo da história. Diante deste cenário, Produção de Sonhos, primeira série derivada deste universo, teria a enorme responsabilidade de manter o alto nível conquistado pelos seus antecessores - e o resultado é extremamente positivo.
Idealizada por Mike Jones, o co-roteirista de Soul e Luca, Produção de Sonhos nos leva de volta ao mundo dentro do interior da cabeça de Riley com o foco em outro grupo de personagens: saem as emoções que lideram a franquia nos filmes, como Alegria e Tristeza, e entra a equipe responsável por cuidar dos sonhos da jovem. Para situar os espectadores, a trama se passa antes dos eventos de Divertida Mente 2 e reencontramos Riley prestes e entrar na puberdade.
No centro da história está Paula Persimmon (Paula Pell), aclamada diretora responsável por produzir diversos sonhos de sucesso que a jovem teve durante a infância. No universo de Divertida Mente, o sucesso de um sonho é contabilizado quando ele se torna inesquecível para Riley. Além de Paula, vários outros cineastas trabalham nesta área, que é acionada quando Riley precisa processar algumas de suas memórias por mais tempo. O problema é que há algum tempo a garota não tem um sonho tão marcante, e Paula é escolhida para criar o projeto que será o próximo fenômeno das lembranças.
Diferente dos filmes, Produção de Sonhos é um projeto que se apoia diretamente na comédia. A série se inspirou em títulos como The Office e Parks and Recreation, que utilizam o formato de mocumentário (documentário falso) para criar as mais hilárias e imprevisíveis situações, e coloca Paula e seus colegas para apresentar esta área pouco explorada nas telonas. É um conceito com bastante potencial e oportunidade para criar o mesmo tipo de humor introspectivo que tornou a franquia icônica para fãs de todas as idades, e a série faz um trabalho decente de abrir seu próprio caminho no mundo de Divertida Mente (e dentro de Riley) que se torna divertido do começo ao fim.
Por ser uma produção que explora as nuances e os detalhes de um projeto cinematográfico, Produção de Sonhos às vezes erra ao não inteirar o espectador sobre o mundo ao qual pertence. Quem não é familiarizado com os bastidores de um filme, principalmente o público infantil, pode não entender algumas piadas envolvendo Paula e os outros personagens. O fato de Xeni (Richard Ayoade), seu jovem novo assistente de direção que que pensa mais "fora da caixa" e quer ser mais experimental em sua abordagem aos sonhos de Riley, ser explorado como alguém meio egocêntrico e pedante tal como alguns cineastas mais jovens talvez passe batido por parte da audiência, que pode estar ali apenas pela possibilidade de explorar mais o universo de Divertida Mente.
Por outro lado, um dos grandes méritos de Produção de Sonhos é ser um spin-off dos filmes que funciona muito bem sozinho. Personagens como Alegria, Medo e Tristeza ainda estão ali, mas fazem pequenas participações especiais para que Paula e seu elenco de coadjuvantes tenham espaço o bastante para brilhar. Suas ações impactam diretamente a realidade de Riley, e é interessante ver como o roteiristas liderados ajudaram a expandir ainda mais o universo da franquia sem parecer forçado. Cada episódio é escrito por Mike Jones, e por mais que não haja tempo para construir alguns personagens de forma significativa, a série faz a escolha certa de se aprofundar no drama de Paula e sua conexão com a jovem, que no fim é o que a motiva a criar obras que sejam intensas o bastante para serem marcantes.
Com apenas quatro episódios, Produção de Sonhos não carrega a intensidade emocional dos filmes de Divertida Mente, mas nos apresenta um novo olhar agradável para dentro da franquia. Ser menos provocativa não é sinônimo de superficialidade, e a série tem elementos de sobra para conseguir reproduzir a mesma magia da Pixar vista nos cinemas.
