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Crítica

House of Cards - 5ª Temporada | Crítica

Novo ano foca na onipresença megalomaníaca de Frank e destaca poder de Claire

30.05.2017, às 15H40.
Atualizada em 30.05.2017, ÀS 19H38

Quando Frank Underwood (Kevin Spacey) se despediu da quarta temporada de House of Cards com a frase "nós não nos submetemos ao terror, nós fazemos o terror", ele não estava brincando. O quinto ano da série política da Netflix abre com os Underwood insuflando medo no psicológico de cada eleitor americano, transformando o assassinato de Jim Miller no mais cômodo palanque político possível. Além disso, a última cena, com Claire (Robin Wright) quebrando pela primeira vez a quarta parede ao lado do marido também não é gratuita: é um prelúdio para o ano em que, finalmente, a personagem se tornou tão poderosa quanto o marido.

[Cuidado com possíveis spoilers!]

Havia uma atmosfera de preocupação entre os fãs de House of Cards com Beau Willimon, criador da série, saindo para dar lugar a Melissa James Gibson e Frank Pugliese. Contudo, a dupla que já trabalhava na atração manteve o padrão narrativo anterior com coerência - o quinto ano se conecta perfeitamente com os eventos passados ao mesmo tempo em que evolui a história sem que a trama soe artificial, exagerada ou mesmo atropelada. Gibson e Pugliese, inclusive, assinam em parceria o roteiro dos intensos dois episódios finais, ambos dirigidos com maestria por Wright.

A nova temporada mostra que tentar adivinhar o que vem a seguir é perda de tempo para o espectador da série: House of Cards dá suas próprias cartas. Muita gente, por exemplo, esperava que a nova remessa de episódios estivesse subjugada à janela temporal das eleições, já que o ano anterior termina sem entregar os resultados, e é curioso ver que a série não fica presa a isso. O que embala a trama do primeiro ao último episódio, na verdade, são os movimentos de Frank em busca de sair ileso das acusações recebidas - e, para isso, ele não espera nem a metade dos capítulos para simplesmente sabotar o processo eleitoral.

O quinto ano, na verdade, soa como se Frank estivesse cada vez mais enrolado em um novelo de problemas que acumulou ao longo dos quatro anos anteriores. A impressão inicial é que enquanto Frank segue a temporada arrastando um armário cheio de esqueletos, Claire consegue trilhar com mais facilidade seu caminho rumo ao poder, desobstruído pelo acúmulo de problemas do marido. O erro dessa percepção é subestimar Frank: aos 45 do segundo tempo fica claro que o sucesso dela faz parte da planejada salvação do marido. "No final, não me interessa que me amem ou me odeiem, desde que eu ganhe" é a frase que Frank usa para anunciar sua renúncia ao cargo de Presidente e salvar a própria pele, tudo milimetricamente orquestrado para que ele estivesse no controle de tudo.

Frank estar sempre um passo à frente faz com que todas as investidas de personagens como Will Conway (Joel Kinnaman), Alex Romero (James Martinez) e Hammerschmidt (Boris McGiver) cada vez mais soem com esforços em vão. Os inimigos de Frank precisariam se adiantar muito para conseguir derrubar o habilidoso político, e, no ponto em que a trama encerra, aparentemente, só há uma pessoa capaz de chegar perto disso: Claire.

Ao ser vítima passiva dos planos mirabolantes do marido, Claire acaba sendo elevada ao posto de presidente dos Estados Unidos. É intressante ver o desenvolvimento da personagem de Wright desde a primeira temporada até seu ápice. Lá no começo, seria improvável pensar na esposa Underwood ocupando a presidência, mas a narrativa fez com que isso acontecesse de forma absolutamente plausível - ponto para o time de roteiristas. Dentro da estratégia de Frank, a ascensão da esposa seria algo crucial para que ele tivesse todos os crimes perdoados e para que, junto a Claire, dominasse as principais esferas de poder dentro e fora da Casa Branca. Contudo, Frank fez sua jogada mais arriscada até agora ao se colocar inteiramente vulnerável perante a esposa, logo após tratá-la como um peão de tabuleiro.

"Nós dois somos iguais agora" é a frase que Claire diz ao marido no último episódio. Assim como no início da temporada, o plano de Frank era manipular o medo para tirar o foco das turbulências políticas - Claire finalmente declararia guerra e, em seguida, concederia perdão a todos os possíveis crimes cometidos por ele durante o mandato presidencial. Contudo, a mulher mais poderosa dos Estados Unidos resolve seguir por outro caminho. Será curioso acompanhar esse novo estágio da relação do casal no próximo ano - e, ainda que Claire acredite estar em posição de equidade em relação a Frank, é perigoso descartar possíveis cartas na manga do ex-presidente, em especial após os últimos eventos.

A atuação de Michael Kelly como Doug merece destaque e sua relação com a LeAnn Harvey de Neve Campbell é muito interessante. Doug é testado ao limite máximo de sua fidelidade em uma temporada em que Frank e Claire se empenham em cortar todas as pontas que deixaram soltas, como Thomas Yates (Paul Sparks) e, até segunda ordem, Catherine Durant (Jayne Atkinson). 

Curiosamente, para uma nova temporada, o principal inimigo da série é o próprio mundo real. As temporadas iniciais impressionavam por usar os bastidores obscuros do mundo político para criar tramas que desafiavam a realidade por meio das próprias estruturas governamentais. Nos últimos episódios, o espectador foi brindado com uma narrativa onde absolutamente tudo tinha ares de teoria da conspiração, mas, levando em conta o pano de fundo do noticiário contemporâneo, House of Cards passou a soar mais como um docudrama palpável. Será uma tarefa exigente para os roteiristas da série exercitarem a criatividade a ponto de criar situações mais absurdas que o cotidiano nos próximos passos da trama - a quarta parede nunca esteve tão derrubada quanto agora.

Nota do Crítico
Ótimo

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