Como o círculo de giz que sempre é exigido em rituais de magia, Lovecraft Country se viu na obrigação autoimposta de fechar todas as suas pontas no seu décimo episódio, o último da primeira temporada, apropriadamente intitulado “Full Circle”. Houve episódios antes que não perdiam tempo e apostavam no frenesi, mas nada se compara a este finale, cuja ação inclusive é montada com cortes rápidos da cena da porradaria justamente para impor esse senso de urgência, dentro das opções de estilo de entretenimento barato que já fazem parte do léxico da série (socos de impacto, arremessos, sangueira, berros, vísceras).
Mas é mesmo um senso de urgência ou seria mais uma pressa de encerrar logo? No geral o finale soou deslocado porque ao longo da temporada a série adotou um formato quase de antologia, priorizando personagens e gêneros individualmente, e retornar ao molde tradicional do arco de temporada, com um encerramento protocolar (que não pode deixar perguntas sem respostas mas pode, e deve, sugerir ganchos para uma eventual renovação), tirou um pouco da graça de Lovecraft Country. Não que faltem outras graças (tem até vingadores biônicos com sidekick agora), mas a amarração parece menos orgânica que o normal.
De certa forma, Lovecraft Country arrumou um problema para si porque, ao se organizar em episódios que têm uma entrega dramática muito forte individualmente, a expectativa pelo finale se diluiu entre pequenos clímaxes ao longo da temporada - uma expectativa afinal difícil de superar depois de episódios fortes como aqueles focados em Dee e Ruby. Como um clarividente que antecipa o futuro ao tocar nos personagens, o espectador já sabia mais ou menos o que esperar do confronto final no equinócio do outono, e até aqui uma das principais armas de Lovecraft Country havia sido justamente a imprevisibilidade com que encadeia gêneros de fantasia, horror e scifi sem aviso.
Ao final essa imprevisibilidade se desfez, e para isso contribuiu demais o fato de conflitos serem resolvidos na pressa e de forma muito mecânica, como o encontro de Tic e Ji-ah no hotel. Lovecraft Country não sofreu da sina de Game of Thrones, em que personagens tomam atitudes finais de forma inconsistente por uma conveniência de roteiro, mas foi quase isso. A quantidade de efeitos visuais e a necessidade de um desfecho bombástico tomaram toda a atenção dos realizadores (pelo menos o shoggoth terminou a série mais “bonito” e bem acabado do que no episódio de estreia, depois de semanas de renderização de CGI).