O Menino Maluquinho

Créditos da imagem: O Menino Maluquinho/Netflix/Reprodução

Séries e TV

Entrevista

Como O Menino Maluquinho chega a uma nova geração no Brasil (e no mundo)

Os produtores Carina Schulze e Rodrigo Olaio revelam ao Omelete a essência do personagem, o envolvimento do Ziraldo e os bastidores da nova série da Netflix

Omelete
8 min de leitura
10.10.2022, às 06H00.
Atualizada em 19.10.2022, ÀS 12H26

Há gerações os leitores brasileiros se encantam com as aventuras de um garoto criativo que insiste em andar por aí com uma panela na cabeça — ou, como o próprio Ziraldo primeiro (e melhor) o descreveu, “um menino com o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés". Quer você o tenha conhecido primeiro pelo livro, pelas HQs ou pelos filmes, nos anos 1980, quando ele nasceu, ou já entrando no século XXI, é inegável que O Menino Maluquinho deixou uma marca com seu humor, seu espírito sonhador e sua inocência. Agora, uma nova geração de espectadores se prepara para conhecê-lo como o protagonista da mais nova animação na Netflix, a primeira do streaming aqui no Brasil.

Antes da estreia da série, marcada para o dia 12 de outubro, o Omelete conversou com a showrunner e produtora Carina Schulze e o produtor Rodrigo Olaio para entender como é o Menino Maluquinho que pretendem apresentar para crianças do Brasil e do mundo em 2022, o envolvimento do Ziraldo com o projeto e até se já pensam em uma segunda temporada depois destes primeiros 26 episódios; confira:

 

OMELETE: Dá para perceber que vocês fizeram essa animação com o coração. Queria começar, inclusive, por isso. Qual é a relação pessoal de vocês com a obra original? Vocês eram leitores?

CARINA SCHULZE: Sim, eu era muito! E é engraçado, porque eu tenho uma memória muito vívida de ter lido o livro na infância e acho que essa é a genialidade do Ziraldo, [porque] eu tenho as imagens cravadas na minha cabeça. Por mais que eu tenha ficado sei lá, uns 10 anos sem ver o livro, eu lembro das imagens, do texto... Então é muito especial. E é um livro que me incentivou muito a abraçar a minha imaginação, a ser criativa, a virar roteirista! Por isso que ele é muito importante para mim.

RODRIGO OLAIO: Também! É o primeiro livro de que eu tenho lembrança. Eu era muito fã. Tenho muita clareza daqueles macaquinhos da cabeça, daquele olho no meio das pernas, lembro daquela montagem... Quando a gente começou a falar da animação, foi um pouco emocionante e deu até um frio na espinha. Para todo mundo.

 

Então, como surgiu o projeto dessa animação?

CS: Como a gente já tinha esse desejo e essa paixão pelo livro, começamos a conversar com a Netflix. Conversa vem, conversa vai, a coisa começou a tomar forma. Foi um processo bastante demorado, né? A gente começou em 2017...

RO: Esse começo foi super trabalhoso, porque a gente teve que sentar com bastante gente para entender o que já estava sendo feito de Menino Maluquinho, organizar o projeto para que a gente conseguisse trabalhar no formato de franquia. E esse desenvolvimento antes de entrar em produção também demorou anos, porque precisamos mesmo desse tempo. A gente fez três diferentes desenvolvimentos tanto de história, quanto de visual, mas não completamente diferentes. A essência ali do que a Carina e o Arnaldo [Branco] criaram se manteve, mas a gente foi testando novas artes. Para o primeiro desenvolvimento de arte que a gente fez, a gente contratou seis artistas e falou "bom, faz o Menino Maluquinho que você quiser, a gente não vai se meter". A gente deu só uma sinopse do que seria esse nosso projeto. E veio de tudo! Vieram coisas respeitando muito a obra do Ziraldo e outras muito disruptivas, e a partir disso a gente começou a construir até a gente entrar em produção, ali em novembro de 2020.

 

Posso perguntar qual era a sinopse que vocês deram para eles?

RO: Você lembra, Ca? Era alguma coisa de que tinha a separação dos pais, né?

CS: É, acredito que foi isso mesmo. Esse elemento sempre foi muito importante para a gente. No livro, os pais do Maluquinho se separam, e eu sempre achei isso muito especial, muito [moderno] para a época... E, hoje, a gente achou que seria essencial, porque é a realidade de muita gente. As famílias hoje em dia tem várias configurações diferentes, então para as pessoas se sentirem representadas isso foi muito importante. Mas a gente também falou para os artistas trazerem seu Menino Maluquinho interior, e acho que esse foi um dos grandes desafios da série, porque cada pessoa tem uma memória afetiva específica do que é esse personagem e do que era esse livro. Todo mundo lembra uma coisa um pouquinho diferente, mas tem ali uma mesma essência, que é ser criança. E acho que é isso que está dentro de cada um de nós.

 

Nesse sentido, O Menino Maluquinho é um personagem que foi passado de geração em geração. Então queria entender com vocês como foi equilibrar a essência de um personagem criado nos anos 1980, mas se comunicando com esses novos espectadores?

CS: A gente estudou muito. Lemos o livro e as HQs, vimos os filmes, estudamos o Ziraldo... Fizemos um super trabalho para buscar qual era a essência do Menino Maluquinho, e a gente descobriu que era isso: alguém que realmente tem uma imaginação sem limites, uma criança. E como o Menino Maluquinho do livro é muito doido, ele tem asas nos pés, a gente trouxe essa mesma energia para o personagem de hoje. Mas aí, sim, a gente teve todo um processo para fazer uma série de animação para esse público. Porque o ritmo é diferente, as piadas... A gente trabalhou com uma equipe de roteiristas que também são comediantes, então tem muita piada e muita piada atual, com memes e com o Brasil. [A série] tem uma identidade brasileira muito forte, né? Por conta da pandemia, a gente também pode trabalhar com pessoas do Norte ao Sul do país. Então todo mundo trouxe um pouquinho de si para dentro da série, na roupa, no estilo, nas falas... E se a gente fez nosso trabalho bem feito, o que eu acredito que sim [risos], a gente tem essa pluralidade que vai conversar com o público brasileiro de hoje.

 

Falando nisso, o fato de O Menino Maluquinho sair na Netflix significa que ela não é só para as crianças brasileiras. A gente está falando de praticamente o mundo inteiro tendo acesso a esse personagem. Então, o que era importante para vocês traduzir dessa brasilidade?

RO: Entre 2017 e 2020, ou seja, antes da série entrar em produção, tiveram vários momentos desse processo criativo. Foi curioso, porque óbvio que a gente sempre soube que essa seria uma série brasileira, mas a gente também tinha dúvidas do que viaja bem, né? Tanto é que a gente contou com a ajuda de duas pessoas: um consultor de arte chamado Craig Kelman, um ilustrador muito famoso que ajudou a trazer outro ponto de vista; e a Jenny [Keene], roteirista de Os Vizinhos Green e Phineas e Ferb, que também trabalhou com a gente discutindo alguns materiais. Além do próprio time da Netflix, que metade era gringo, né? A gente teve uma reunião específica para falar um pouco de cenário e cenas, e trouxemos alguns memes brasileiros. Tinha um executivo que era indiano, um produtor da Netflix que era da Armênia, e todo mundo se identificou muito com aquele cachorro vira-lata, com aquelas crianças brincando na rua, com aqueles mascotes de qualidade estética duvidosa [risos]... Então, assim, foi muito legal ver que quanto mais a gente abrasileirava a série, mais funcionava também para o mercado internacional. E, com a Netflix, a gente também entendeu que o mercado internacional não era necessariamente os Estados Unidos e o Canadá. Então a gente focou muito na brasilidade também para fazer sucesso internacionalmente.

O Menino Maluquinho
O Menino Maluquinho/Netflix/Reprodução

O Ziraldo esteve envolvido desde o começo do projeto? Ou ele deu a benção e vocês foram daí?

RO: Desde o começo. Ele é o dono do Menino Maluquinho, né? A gente não negociou com ninguém, a gente negociou com o Ziraldo [risos]. É óbvio que a gente tinha os nossos interesses, e a gente foi diversas vezes lá na casa dele no Rio para sentar e discutir. E ele falava "isso para mim é razoável, isso não". E no processo de animação também tem isso: a gente tem um envolvimento muito grande com o processo criativo no começo, quando você aprova os primeiros roteiros, a bíblia [da série], o design dos personagens principais... Quando começa a animar, aí é um ano disso. Então, ele e a família estiveram muito mais envolvidos no começo do projeto, nessas estruturações de tom de humor e tipo de direção, e mais para o fim eles assistiram aos episódios prontos. A gente teve o Antônio Pinto [filho do Ziraldo] que fez a música também! Então a família estava envolvida para trazer essa perspectiva deles.

 

A animação ainda não foi lançada, mas vocês já pensam em uma segunda temporada?

RO: A gente pensa na segunda temporada desde que a gente começou... A gente tem, sei lá, 10 temporadas pensadas! [risos] Mas a gente tem que esperar lançar, né? Não temos nem cabeça para isso. Igual jogador de futebol: tem que ganhar esse jogo, e depois a gente vai para o próximo.

 

Hipoteticamente, o que vocês gostariam de fazer?

CS: Tem alguns personagens que estão na série, tipo o Lúcio, a Carol, a Shirley Valéria... A gente ama muito esses personagens, mas, como são 26 episódios divididos em três blocos, a gente não teve ainda chance de mergulhar tanto em todos eles. Então, seria muito legal expandir o universo e entrar mais nesses personagens, porque eles são maravilhosos e acho que as pessoas iam amar também!

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