No ano em que Sandy & Junior decidiram se reunir para uma turnê comemorativa que foi – sem dúvida – uma dos mais disputados da história da música brasileira, a carreira deles como astros de uma série também fez aniversário. No último mês de abril, mais específicamente no dia 11, a série estrelada pelos dois (e dirigida por Paulo Silvestrini) fez impressionantes 20 anos. Sandy & Júnior, a série, teve quatro temporadas, se encerrou em 2002 e estabeleceu definitivamente a base de fãs da dupla, que reconhece o programa como uma de suas principais referências juvenis.
Para celebrarmos a volta da dupla aos palcos e os 20 anos da série, preparamos uma lista de itens inesquecíveis do universo criado para a produção. Vamos lá.
A trama
A trama de Sandy & Junior não era complicada, pelo contrário. Era, de fato, uma trama mais baseada na interação entre os tipos de personagens, que, como nas séries adolescentes americanas, eram apoiados em estereotipos. A série mostrava a rotina de Sandy e Junior (que viviam eles mesmos numa versão bem mais acessível) na escola onde estudavam, o Centro Educacional Mario de Andrade. Não havia um ponto de partida específico para essa história, nenhum nó dramático que precisasse se desenvolver no futuro. A estrutura dos episódios era procedural, com histórias surgindo e sendo resolvidas imediatamente. Os problemas típicos da adolescência eram tratados com cautela (uma vez que o programa era exibido na faixa entre 12 e 13 horas), mas sem simplismo. O texto era correto e mesmo com um elenco formado por atores inexperientes, o resultado final era muito competente.
Sandy
Conhecida por ter um personalidade tranquila, ética, gentil e conciliadora, Sandy viu tudo isso ser reforçado com a personagem reproduzida na série. Dadas as devidas proporções, Sandy & Junior eram os equivalentes a Brandon e Brenda na série Barrados no Baile. Eles estavam ali para serem – quase sempre – a voz da sensatez. É claro que por ser a estrela da dupla, os interesses românticos da cantora também foram grande parte do foco tanto das pessoas em geral quanto para os fãs da série. Os roteiros também nunca fugiram disso. Aos poucos, os criadores da série (Adriana Avellar, Sarah Lavigne e Thiago Marinho) foram dando para a "Sandy atriz" a chance de brincar mais em cena, como quando ela virou um clone má de si mesma ou como quando ela e Patty trocaram de corpo. As duas, inclusive, eram como Rory e Paris, de Gilmore Girls, sempre rivalizando, sempre oscilando entre cuidado e hostilidade; e por isso mesmo muito carismáticas para o universo do programa.
A metalinguagem
Um dos maiores atrativos do programa era o fato de Sandy & Junior viverem eles mesmos. É evidente que se tratava de uma versão romantizada da vida da dupla, que mesmo sendo famosa era acessível a todos. Nos EUA não é incomum usar esse mesmo tipo de recurso. Miley Cyrus também era chamada de Miley e contracenava com o próprio pai em Hanna Montana. Isso sem falar em comédias estreladas por personagens homônimos de seus intérpretes como Ellen, por exemplo. A proposta da série Sandy & Junior era não focar na vida célebre dos dois, mas, inevitavelmente, a fama da dupla era parte do enredo. A mãe dos dois, Noely, apareceu em alguns episódios, Chitãozinho e Xororó apareceram bem menos e volta e meia um ou outro enredo focava nas carreiras. Um exemplo foi o episódio em que Sandy foi convidada para cantar sozinha em um evento beneficiente e isso causava um estremecimento na relação dos irmãos. Outro foi quando Boca resolveu perseguir a dupla com câmeras escondidas para tentar vender a vida deles como um reality show.
As músicas
É claro que ser protagonizada por irmãos cantores foi uma vantagem para Sandy & Junior no quesito musical. A cada semana os episódios terminavam com um videoclipe, exclusivamente feito para o episódio, com algum hit da dupla. "A Lenda", "As Quatros Estações", "Vamo Pulá", "Imortal", "Inesquecível", foram só alguns dos sucessos que marcaram presença ao final das aventuras. Eventualmente, as músicas começaram a ter que ser reprisadas ou começaram a aparecer em forma de remixes. Tivemos também alguns covers, como o de "My Heart Will Go On" e algumas aparições célebres de músicos como Gilberto Gil. Na quarta e última temporada os irmãos estavam tentando carreira internacional e o repertório de canções em inglês e espanhol também ganhou espaço na atração. Até mesmo um DVD com os melhores clipes produzidos para a série foi lançado.
O elenco
Como toda boa série adolescente, Sandy & Junior também lançou para o mundo alguns nomes que estão por aí até hoje. Paulo Vilhena, que esteve no ar há pouco tempo na novela O Sétimo Guardião, talvez seja um dos que mais ficou na memória das pessoas. Ele viveu o interesse romântico de Sandy por alguns anos. Marcos Mion, Fernanda Paes Leme e Daniele Suzuki (essa só na última temporada), também estão em evidência até hoje. Sandy, inclusive, disse recentemente em uma entrevista que sonha em fazer um episódio especial da série mostrando como estariam todos nos dias de hoje.
Os coadjuvantes
Apesar de não contar com um elenco formado por rostos conhecidos do grande público, as escalações acabaram se provando acertadas com o tempo. Cada ator conseguiu imprimir bem o estereotipo para o qual foi designado. Em ficções desse tipo o estereotipo é um recurso positivo, usado para a construção de sentido das emissões necessárias para o público infanto-juvenil. Patty, por exemplo, era a menina rica criada longe dos pais e que acabava sendo má por isso. Beth era sua melhor amiga, meio tonta. Boca era o garoto problema, Basílio era o menino tímido e por aí vai. Com o tempo, esses estereotipos eram revistos, transgredidos, servindo como canais para que questões sobre bullying, popularidade, preconceito e generosidade ganhassem um espaço de discussão. Além disso, construções inesperadas como a relação de amizade entre Patty e Sandy (antes rivais) faziam toda a diferença e amadureciam a obra.
Os episódios especiais
Embora a estrutura dos episódios fosse bem simples – e com pouco tempo de duração – havia espaço para algumas ocasições especiais. Na segunda temporada os avós de Sandy & Junior fizeram uma participação especial como eles mesmos e foi a ocasição perfeita para que a canção "Maria Chiquinha" (o início de tudo) fosse executada. Também tivemos alguns bons episódios de Natal e até um episódio duplo que tratava de viagem no tempo. De fato, às vezes a realidade se flexibilizava demais, com episódios focados em russos, vampiros, extraterrestes e até lobisomens. Mas, mesmo assim o resultado era positivamente pueril.
Betty
Assim como a burrice de Joey era o charme de Blossom, a de Haley era o charme de Modern Family e a de Madalane e Louise eram o charme de Gilmore Girls e até a Drica era o charme de Caça-Talentos, a Beth de Sandy & Junior era maravilhosa em todas as cenas em que aparecia. Vivida por Karina Dohme, a personagem era quase uma Brittany (Glee) sem os mesmos talentos para a acrobacia e a matemática. Seguindo Patty, para onde quer que ela fosse, Beth era o soldado perfeito. Ela executava as maldades da amiga, mas sempre com certa inocência e pureza. Aos poucos, sua inteligência emocional foi se tornando notória e acabou conquistando absolutamente todos os outros personagens.
Junior
De certa forma, Junior sempre se acostumou a ser o coadjuvante na carreira da dupla. Ele sempre foi necessário, especial, mas boa parte de sua nobreza estava em reconhecer que Sandy tinha a estrela mais brilhante. Na série, contudo, os roteiros eram muito corretos ao darem a ele o mesmo espaço que a irmã. Junior tinha seus enredos semanalmente, teve vários interesses românticos no decorrer dos anos e já se envolvia com questões musicais ligadas às estruturas técnicas e criativas. Na série ele teve uma rádio de sucesso e no último ano, inclusive, liderou um importante projeto social ligado à música.
As curiosidades
Talvez a grande curiosidade acerca da série tenha sito o fato de ter sido filmada realmente dentro de um colégio, em Campinas (SP). O Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora serviu como cenário principal do programa por três anos, quando os personagens se formaram e passaram a morar num condomínio cenográfico construído no Projac. Outra curiosidade é que tudo começou com um especial de fim de ano em que Mariana Ximenes vivia uma aluna com poderes telecinéticos, tais quais os de Carrie, A Estranha. A audiência foi tão boa que a Globo decidiu produzir o seriado. Além disso, Sandy estrelou a novela Estrela-Guia e por algum tempo precisou fazer as duas coisas. Na época, seu atual marido Lucas Lima apareceu em um dos episódios da primeira temporada, vivendo um anjo.