A sétima temporada de The Walking Dead começou tirando o fôlego dos espectadores. Seu primeiro episódio, com Negan (Jeffrey Dean Morgan) usando um taco enrolado em arame farpado para explodir as cabeças de Glenn (Steven Yeun) e Abraham (Michael Cudlitz), foi um dos melhores de toda a história da série e a falta de pudores dos produtores da série levantou um longo debate na sociedade sobre os limites da violência na televisão. Ao longo de sete anos, a trajetória de Rick (Andrew Lincoln) se consolidou como um fenômeno pop, mas, infelizmente, sua última temporada não foi condizente com o seu legado. Poucos momentos entre o começo e o final foram realmente interessantes - cenas como Carl (Chandler Riggs) sendo obrigado a tirar o tapa-olho e cantar para Negan no sétimo episódio se tornaram pontos fora da curva dentro de uma narrativa monótona.
Entre "The Day Will Come When You Won't Be", primeiro episódio do sétimo ano, e "The First Day of the Rest of Your Life", Rick precisou lidar com novos traumas que serviram para salientar que o protagonista da série não é um super-herói. Não é a primeira vez, contudo, que The Walking Dead mostra o ex-policial perto de sucumbir às pressões do apocalipse zumbi: durante a terceira temporada, Rick ficou seriamente debilitado com a morte de Lori (Sarah Wayne Callies), sua esposa, chegando a ter alucinações com a mulher. Para quem acreditou que essa havia sido a prova de fogo para a sanidade mental do personagem, Negan desceu o bastão no psicológico dele e tivemos metade da temporada com um Rick acuado e sem esperanças.
A temporada mostrou a jornada de recuperação de homem quebrado, passando por todos os estágios do processo, desde o choque brutal da derrubada até a recuperação inabalável da sua autoconfiança. Uma premissa interessante, contudo, mal conduzida. Durante praticamente toda a segunda metade da temporada, episódios inteiros se arrastaram para que avanços em forma de migalhas fossem apresentados - não foi à toa que The Walking Dead perdeu, entre o episódio inicial e o penúltimo, 7 milhões de espectadores nos EUA, com uma de suas piores audiências desde a terceira temporada.
E não é como se nada tivesse acontecido na saga. A série abriu uma nova fase na reestruturação da sociedade ao apresentar novas comunidades e mostrar as interações entre elas. O Reino, Oceanside e o lixão foram frutos desta temporada e Hilltop e o Santuário foram mais bem trabalhadas como núcleos. Personagens como Glenn, Abraham e Sasha (Sonequa Martin-Green) se despediram da trama e outros, como Maggie (Lauren Cohan), Carol (Melissa McBride) e Morgan (Lennie James), passaram por profundas transformações. O problema não foi a história, mas a condução modorrenta da narrativa. O ritmo dos episódios foi tão lento que quase não deu para notar que tanta coisa evoluiu.
O último capítulo do sétimo ano mostra o sacrifício de Sasha e explica suas motivações. Em flashbacks, a moça lembra que, momentos antes da morte de Abraham, um pressentimento fez com que ela o pedisse para não ir junto de Rick naquele dia. O ex-militar disse que o dever deles era se colocar em perigo pelas outras pessoas - essa frase custou a vida de Abraham e, no fim das contas, de Sasha também. O terreno foi bem trabalhado para que a cena do zumbi da atiradora saindo do caixão fosse algo grandioso, servindo de distração para Carl disparar os primeiros tiros e iniciar o confronto.
Em entrevistas, Andrew Lincoln e Norman Reedus elevaram exaustivamente as expectativas acerca do final da temporada. De fato, o episódio final teve um grande momento: quando Negan coloca Rick e Carl de joelhos um ao lado do outro e começa mais um dos seus monólogos com cara de palestra do TEDx em especial de Halloween, vemos que Rick aprendeu na marra que aquilo que não mata, fortalece. Mesmo sob o risco de perder o filho ou as mãos, ele diz a Negan que nada vai o impedir de matá-lo. O ex-policial, o filho dele e Michonne transformaram a questão de "serem os que sobrevivem" em uma verdade absoluta e nada mais é capaz de abalar a fé deles. Para coroar a sequência, no momento em que Negan se prepara para dar o golpe fatal em Carl, o espectador é brindado com o ataque de Shiva abrindo a batalha que termina com Negan e Jadis (Pollyanna McIntosh) fugindo em meio a fumaça.
O produtor executivo Greg Nicotero chegou a dizer que esse foi um dos melhores roteiros já produzidos em termos de desenvolvimento de personagens. Uma tigresa na batalha é uma faísca de como The Walking Dead consegue alcançar situações perturbadoramente criativas, mas, tirando Shiva, a luta em si não apresentou ineditismo ou grandiosidade além do que já foi visto na série. Ao longo de 16 episódios, os produtores se preocuparam mais em alimentar a expectativa quanto ao início da guerra entre Negan e as comunidades exploradas pelos Salvadores do que em entregar capítulos de qualidade. Uma cena realmente épica do confronto, infelizmente, não veio. Mesmo sendo apenas preliminar, a luta que traria Alexandria, o Reino, Hilltop, o povo do lixão e os Salvadores para o campo de batalha não foi algo no nível do que era esperado.
"The First Day of the Rest of Your Life" é um episódio bom, mas não consegue redimir uma temporada inteira. The Walking Dead se tornou especialista em episódios finais e iniciais arrebatadores, mas, se não quiser perder mais espectadores, precisa reaprender a trabalhar o que acontece entre uma ponta e outra. O oitavo ano da série trará de fato a guerra e todas as suas possibilidades de manter a série viva o tempo todo, mas isso só será possível se os roteiristas resolverem abandonar o modelo que vem sendo aplicado nas últimas temporadas e que atingiu seu ápice na sétima. Se o caminho será voltar a fazer temporadas mais curtas, como as duas primeiras, ou condensar mais páginas dos quadrinhos por episódio, só o tempo dirá. Mas é preciso ter pressa, antes que, além de Negan e Jadis, Rick precise se preocupar com outro inimigo poderoso: a queda da audiência.
Criado por: Angela Kang, Frank Darabont
Duração: 11 temporadas