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Além da Escuridão - Star Trek | Crítica

A Jornada nas Estrelas que o mundo precisa, mas não a que a série merece

Omelete
5 min de leitura
13.06.2013, às 16H47.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

Além da Escuridão - Star Trek (Star Trek - Into Darkness) tem todas as qualidades esperadas de um filme de verão. Excelentes cenas de ação, ótimos diálogos, alívios cômicos nas horas certas, um elenco inspirado e um vilão memorável. J.J. Abrams é mestre em entregar esses elementos todos - e não é de hoje.

Melhor ainda... fez tudo isso em uma das mais celebradas e importantes franquias de ficção científica de todos os tempos, uma que não apenas é importante para o gênero, mas para a humanidade. A criação de Gene Roddenbery olha para a sociedade com um olhar crítico, mas esperançoso, como se dissesse "vejam do que seríamos capazes de alcançar se não fôssemos tão preocupados em sermos isso que somos".

Além da Escuridão - Star Trek

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Antes de Abrams, a Jornada nas Estrelas estava morrendo, seus fãs eram motivo de piada e não havia um horizonte para a série, até que a Paramount apostou nele para o trabalho, em 2009. A ressureição veio de forma brilhante, trouxe este segundo filme - e já se fala em um terceiro. Star Trek vive. E, por isso, o reboot merece todo o respeito possível.

Mas passada a empolgação inicial e deixando de lado o emocional, é hora de avaliar isoladamente Além da Escuridão - Star Trek. E, ainda que seja um entretenimento de fim de semana de primeira, o longa tem problemas demais para serem ignorados.

A premissa inicial vai ao encontro da Série Clássica em temática. Se os episódios do programa sempre preocuparam-se em debater problemas da sociedade através de raças alienígenas e civilizações exóticas, este filme não é diferente. Todo o subtexto do "ataque preventivo" e a conspiração bélica na Frota Estelar espelha a Guerra do Iraque, que segue assombrando os EUA. Mas quando John Harrison (Benedict Cumberbatch) entra na equação perde-se a força dessa ideia, que fica diluída em uma trama convencional de vingança.

Por mais que o lado fã vibre com a presença do personagem - e que Cumberbatch seja um dos atores mais interessantes desta geração -, fica difícil explicar certas decisões que o envolvem. Se ele era um perigoso boneco da Frota, por que era permitido que vagasse livremente pela Terra? Sua história pregressa e as Guerras Eugênicas (do cânone) também são esquecidas, e um erro grosseiro de roteiro acontece no momento em que o brilhante Dr. McCoy (Karl Urban) parece simplesmente ignorar que existem outras 72 fontes de sangue geneticamente modificado ao seu alcance antes de ordenar uma caçada ao vilão (note que ele até tira uma dessas fontes de seu "criotubo").

As repercussões dessa preguiçosa solução de roteiro também são sumariamente ignoradas. Basicamente, descobre-se a imortalidade e isso não se torna o tema central do filme - é mero recurso técnico. Em A Ira de Khan, quando Spock morre, é algo definitivo, que vai ser resolvido apenas no terceiro filme. Aqui, o drama de uma perda é minimizado para entregar a Enterprise limpinha para quem quer que assuma a série depois de Abrams, que prometeu continuar ligado à Frota, mas como produtor-executivo, já que seu corpo e mente agora estão focados em Star Wars, que ele vai dirigir.

Como essas, há diversas cenas que não sobrevivem ao escrutínio. Como a supernave secreta da Frota não tinha qualquer segurança em seu estaleiro? Qual a razão para Carol Marcus (Alice Eve) subir a bordo da Enterprise (se não mostrá-la de calcinha)? A novata na série poderia facilmente ser substituída na maioria de suas cenas por outro membro da tripulação, como os pouco empregados Chekov (Anton Yelchin) e Sulu (John Cho). A massificação dos teletransportes e da comunicação através da galáxia também estão ali apenas para servir às necessidades do roteiro. No cânone de Star Trek o isolamento é fundamental - e se você consegue agora teletransportar alguém a uma galáxia de distância e os comunicadores funcionam até em botecos do outro lado do universo, qual a real necessidade da exploração a bordo de uma nave, fato que estava no cerne da franquia?

São detalhes diversos que prejudicam a experiência, mas é tudo tão alucinante que mal há tempo para avaliar o que se está vendo. Enquanto diversão, esse Star Trek é perfeito. O tipo de fantasia escapista que é excelente de ver e rever, algo valorizado pelo elenco carismático, que torna seus os personagens clássicos e dá uma jovialidade às interações. Chris Pine já é o Capitão Kirk, assim como Zachary Quinto ocupou definitivamente seu lugar como Spock (falta espaço a Karl Urban e seu Doutor McCoy ainda, afinal eles são um trio central, não uma dupla). Tudo embalado pela trilha sonora inspiradíssima de Michael Giachino, que acrescenta novos temas às músicas originais, dando ao fã ainda mais o que reverenciar. E as sequências de ação são simplesmente boas demais, entre as melhores que o cinema produziu na última década, e com um 3D cristalino, imersivo e divertido, que fica melhor ainda no formatão IMAX.

Aprecio muito a existência de Além da Escuridão - Star Trek e torço pelo seu sucesso. O mundo precisa da Enterprise e o que ela representa, e este filme e equipe têm que ser exaltados por isso. Mas que o terceiro longa resgate um pouco mais que os personagens e situações clássicas - que traga de volta o que tornou Jornada nas Estrelas o que ela é: roteiros verdadeiramente inteligentes.

Nota do Crítico
Ótimo
Star Trek (2008)
Star Trek
Star Trek (2008)
Star Trek

Ano: 2008

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 126 min

Onde assistir:
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