Quando criou Star Wars, George Lucas misturou uma série de influências literárias e cinematográficas, que vão desde os filmes de samurai de Akira Kurosawa - destaque para A Fortaleza Escondida - aos Novos Deuses de Jack Kirby. Dentro desse panelão de referências, uma das mais presentes é Duna, livro que mudou a ficção científica e que inegavelmente serviu como base para o primeiro ato de Star Wars: Uma Nova Esperança. Expansão da franquia na TV, O Livro de Boba Fett chega ao seu segundo episódio explicitando mais do que nunca a inspiração no clássico de Frank Herbert.
No segundo capítulo da série, Boba (Temuera Morrison) recria alguns passos da jornada de Paul Atreides, incluindo uma caminhada pelo deserto sob a influência de psicotrópicos, um confronto com traficantes de especiaria e, é claro, sua relação com o povo nativo, por quem ele luta contra invasores portando uma tecnologia mais avançada. Assim como o livro de Herbert, o episódio traz um ritmo moderado, muito mais focado nos desdobramentos políticos da escolha do agora ex-caçador de recompensas de assumir o trono do submundo criminoso de Tatooine do que na ação ágil que os fãs de Star Wars se acostumaram a ver.
Embora não tenha o mesmo ritmo acelerado observado no restante da franquia, o episódio comandado por Steph Green (Watchmen) ajuda a entender a vontade de Boba de comandar seu território com base no respeito e não no medo. É nesse capítulo que Boba Fett começa a dissecar a influência que viver entre os tusken tem no clone mandaloriano, que se aproxima da figura mais solícita retratada no segundo ano de The Mandalorian.
Acolhido pelos nativos - que até agora eram mostrados apenas como trogloditas selvagens na franquia -, Fett aprende a ter mais empatia com os tusken, tratados com violência em seu próprio território por estrangeiros com interesse econômico no planeta-deserto. Continuando seu desenvolvimento apresentado na série original, o personagem mostra uma faceta protetora e compreensiva, mas sem perder o ar intimidador e impiedoso que conquistou os fãs em Star Wars: O Império Contra-Ataca.
Mais comedida, a trama do “presente” de Boba Fett é a que melhor retrata o lado ambicioso de seu personagem titular. Sempre ao lado de Fennec - que já seria intimidadora por si só graças a atuação de Ming-Na Wen -, Fett peita políticos, donos de negócios duvidosos, assassinos e outros gângsters que querem roubar seu recém-adquirido trono. Embora não entregue qual o grande plano que o clone tem para Tatooine, o segundo episódio da série deixa claro que ele precisará contar muito mais com sua inteligência do que com suas habilidades de luta se quiser manter o controle da região - e sua própria vida.
Seguindo a linha apresentada no capítulo de estreia, o segundo episódio de Boba Fett reforça a diferença de visões de Boba e Fennec, que, embora ainda não tenham tido nenhuma discussão mais acalorada, já dão indícios de um possível conflito causado por seus métodos opostos. Mesmo que feito sem estardalhaço, o desenvolvimento dos personagens já é perceptível ao final do segundo episódio, assim como o caminho que eles devem percorrer nos próximos capítulos.