Quando foi revelado como a nova promessa do terror, com Alta Tensão (2003) - parte de uma geração celebrada de novos autores franceses do gênero - Alexandre Aja não achava que ainda estaria dirigindo histórias aterrorizantes duas décadas depois. Falando ao Omelete sobre o seu novo projeto, Não Solte!, ele arriscou uma teoria sobre o sucesso comercial surpreendente do cinema de horror nos últimos anos.
“Quando fiz Alta Tensão e Viagem Maldita [2006], nós éramos um grupo de diretores de todos os cantos do mundo que só queriam trazer o horror de volta para a tela grande. O horror de verdade, como gostávamos de assistir, coisas realmente assustadoras”, lembrou ele. “Tivemos muito sucesso, mas não achei que eu sobreviveria nesta indústria por tanto tempo, e muito menos neste gênero em específico. E eu acho que você está certo quando diz que o cinema de terror nunca teve uma época tão rica quanto a atual, especialmente por ser o único produzindo histórias originais que são bem-sucedidas nos cinemas”.
Aja ainda apontou que, mais do que todos os outros gêneros cinematográficos, o terror precisa “se reinventar o tempo todo”: “As pessoas chegam para estes filmes com uma bagagem imensa de tudo o que viram antes - elas conhecem os truques que você quer pregar nelas, sabem que quando a música aumenta vai vir um susto, esse tipo de coisa. Então todos nós, cineastas de horror, precisamos nos reinventar o tempo todo, e talvez essa criatividade seja o que atraia as pessoas”.
“Por outro lado, fico me perguntando se não tem algo um pouco mais profundo aí também”, continuou o cineasta. “Acho que estamos vivendo em uma época muito mais incerta do que todas as anteriores - e, nesse clima, ir ao cinema para ver algo como Não Solte! pode ser uma forma de exercitar este medo que sentimos do mundo real. Penso nesse filme como um conto de fadas sombrio, e acho que a função dos contos de fadas também é essa: confrontar quem somos, o que estamos sentindo, em um contexto ficcional”.
Em Não Solte!, Halle Berry interpreta uma mãe solteira que precisa cuidar de dois filhos em um cenário apocalíptico, onde nenhum deles pode se afastar da casa onde moram sozinho, nem desviar dos caminhos que já conhecem. Quando um dos meninos começa a duvidar do perigo que os cerca, no entanto, estas forças misteriosas que provocaram o fim do mundo se aproximam cada vez mais da família.
“Eu amo filmes de terror”, admitiu Berry, também produtora do título, em entrevista ao Omelete. “Foi um dos motivos pelos quais eu realmente quis ajudar a tirar esse roteiro do papel. Embora a história tenha elementos de um thriller psicológico, acho que Alexandre trouxe muito de sua experiência no terror, e os fãs do gênero não ficarão desapontados”.
Não Solte! já está em cartaz nos cinemas brasileiros.