Jamie Lee Curtis em Halloween

Créditos da imagem: Compass International Pictures/Divulgação

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31 personagens lendários do terror

Celebramos o Halloween com um nome diferente para cada dia de outubro

31.10.2021, às 17H58.

Finalmente entramos no melhor mês do ano, e com a chegada de outubro retomamos o que já é tradição aqui no Omelete: uma lista de terror, atualizada diariamente. Depois de selecionar os 31 filmes essenciais do terror e as 31 cenas inesquecíveis do gênero, em 2021 a vez é daquelas figuras que marcaram nossas vidas: os personagens - sejam vilões, vítimas, criaturas ou entidades. 

Depois de uma batalha árdua, selecionamos 31 papéis lendários dos filmes de terror, e claro que diversos nomes icônicos acabaram ficando de fora. De qualquer modo, defendemos nossas escolhas abaixo, e encorajamos discordâncias e batalhas pela lista perfeita. 

Confira abaixo a nossa lista dos 31 melhores personagens dos filmes de terror, atualizada diariamente com um novo item. 

01/10 - Laurie Strode (Halloween)

Jamie Lee Curtis em Halloween
Compass International Pictures/Divulgação

Começamos a nossa lista de personagens com a mais icônica das final girls, e uma das mais influentes sobreviventes do terror. Laurie Strode, vivida por Jamie Lee Curtis, tem uma trajetória curiosa em Halloween, indo de jovem inocente no filme de 1978 para mulher durona no renascimento da franquia em 2018. 

Marcando como o primeiro papel de Curtis nas telonas, Laurie Strode é a vítima eterna de Michael Myers, e estreia a nossa lista por conter todas as características que fazem uma personagem perfeita do gênero: ela tem a virgindade e pureza de uma final girl clássica mas com o desenvolvimento da franquia também tem a estratégia e habilidades de uma assassina de primeira. 

A Laurie Strode de Curtis também é simbólica quando se fala das reinvenções do terror. Ela apareceu na continuação direta Halloween II (1981), mas tanto este quanto suas duas próximas aparições - em Halloween H20: Vinte Anos Depois, (1998) e Halloween: Ressurreição (2002) - foram ignoradas e resetadas para o capítulo Halloween (2018). 

Onde assistir: Halloween está disponível em streaming na Netflix e Prime Video. O filme de 2018 está disponível para compra e aluguel no Claro Video, Google Play e Apple TV

02/10 - Pinhead (Hellraiser - Renascido do Inferno)

Pinhead em Hellraiser 3 - Inferno na Terra
Amazon Prime Video/Reprodução

Um padre infernal cujo deus é o intangível cume da união entre prazer e dor. Não bastasse essa descrição deliciosamente amaldiçoada, Pinhead tem ainda a seu favor um dos visuais mais memoráveis do cinema de horror: sua pele pálida recortada geometricamente por pregos fixados ao longo de toda a extensão de seu crânio (incluindo o rosto). Isso, sem mencionar as escaras permanentemente ensanguentadas em seu peito. Coisa fina!

Imortalizado na atuação do grande Doug Bradley, que pôde destrinchar em tela a história da criatura antes mesmo de seu mergulho nas profundezas do oculto (sim, ele já foi um humano!), Pinhead fascina por equilibrar com seu visual bestial uma imponência nobre, elegante e respeitosa. Quando, em Hellraiser - Renascido do Inferno (1987), Kirsty Cotton (Ashley Laurence) barganha por sua vida com o líder dos “Cenobitas”, entendemos que há mais ali do que só a maldade desenfreada: Pinhead é um líder, um analista e um estrategista. Da dor e do sofrimento, claro.

Mesmo com a queda vertiginosa de qualidade do filme original para suas muitas sequências, e com a despedida de Bradley do papel em Hellraiser 8 - O Mundo do Inferno (2005), o personagem segue relevante por ser o centro dessa saga que explora questões de sexualidade, perversão, hedonismo e muito mais; tudo pelo prisma do horror corporal e sobrenatural.

Onde assistir: Hellraiser está disponível em streaming no Prime Video, Looke e TNT Go, e para aluguel/compra na Google Play.

03/10 - Rosemary Woodhouse (O Bebê de Rosemary)

Mia Farrow em O Bebê de Rosemary
O Bebê de Rosemary/Paramount Pictures/Reprodução

Rosemary é vítima de uma das melhores tradições do terror: os maridos horríveis. Talvez o maior exemplo da longa lista de mulheres injustiçadas neste gênero, a protagonista de O Bebê de Rosemary engravida do demônio para que o seu marido tenha uma vida profissional confortável. Supostamente, claro.

A dúvida é exatamente porque O Bebê de Rosemary é contado totalmente pelos olhos de sua protagonista. Não só pela câmera de Roman Polanski, que constantemente retrata os acontecimentos a partir de seu olhar (incluindo a icônica cena do estupro demoníaco), mas toda jornada de Rosemary é traçada pelo testemunho da protagonista. Com isso, O Bebê de Rosemary se estabelece com um daqueles clássicos em que não temos certeza do que exatamente se passou, e as interpretações são diversas.

No desenvolvimento de sua história, Rosemary passa por uma montanha-russa de sentimentos que é difícil de testemunhar, tamanha a empatia que temos por ela.

Onde assistir: O Bebê de Rosemary está disponível em streaming no Telecine e para compra e aluguel na Microsoft Store

04/10 - R. J. MacReady (O Enigma de Outro Mundo)

Kurt Russell como R. J. MacReady em O Enigma de Outro Mundo (1982)
Universal Pictures/Divulgação

Não são poucos os personagens de filmes de terror que repetem clichês pouco aplicáveis ao mundo real, como entrar em casebres claramente sinistros sem qualquer proteção ou tentar raciocinar com criaturas claramente malignas. Este não é um deles.

Com pouca paciência, mas muitos recursos, Kurt Russell dá vida ao carismático R. J. MacReady. O protagonista do clássico de horror cósmico O Enigma de Outro Mundo (1982), de John Carpenter, pode ser um cínico alcoólatra, mas está sempre disposto a fazer o necessário para sobreviver e, se possível, garantir a sobrevivência de seus colegas.

Preso em uma estação de pesquisa cercada por gelo e em busca de uma sanguinária criatura alienígena que pode assumir a forma de qualquer um, MacReady não para para pensar duas vezes antes de agir contra o menor sinal de perigo, muitas vezes soando como a única pessoa sã em uma discussão (e ecoando diretamente o pensamento do espectador). Tudo isso a despeito do risco em que coloca a própria vida. Um herói imperfeito, mas um grande herói.

Onde assistir:O Enigma de Outro Mundo pode ser assistido no Telecine, em streaming, ou alugado via Claro Video e Apple TV+.

05/10 - Damien Thorn (A Profecia)

Harvey Stephens em A Profecia de 1976 e Seamus Davey-Fitzpatrick em A Profecia de 2006
Twentieth Century Fox/Divulgação

Não é todo mundo que gosta do remake de A Profecia, de 2006, mas ninguém pode negar que ele soube manter o espírito da melhor coisa do original: o Damien. Por isso, no item de hoje da lista, temos dois filmes para o mesmo personagem, mas apenas esses - sem considerar as sequências que saíram do original de 1976, que acompanharam o crescimento do filho do Diabo. 

Damien, o pequeno anticristo, não apenas lidera a lista de crianças assustadoras do terror como serviu como padrão para qualquer demônio mirim desde então. Interpretado por Harvey Stephens no filme original e por Seamus Davey-Fitzpatrick no remake, Damien é um escalador social de primeira, cujo elemento mais assustador é a habilidade de testemunhar, incentivar e cometer atos terrivelmente cruéis sem alterar a expressão serena de seu rosto. 

Onde assistir: A Profecia original não está disponível em nenhuma plataforma digital, mas o remake de 2006 pode ser conferido no streaming Star+

06/10 - Jack Goodman (Um Lobisomem Americano em Londres)

Cena de Um Lobisomem Americano em Londres
Universal Pictures/Divulgação

O charme canastrão de David Naughton como o amaldiçoado turista americano David Kessler pode ser o coração do filme, mas quem rouba a cena para valer é Griffin Dunne. Como o melhor amigo que leva a pior e é morto por um lobisomem logo no início da história, o ator de Depois de Horas (1985) equilibra humor e ameaça a cada retorno, devidamente caracterizado como um morto-vivo em estágios crescentes de decomposição.

Desaparecer em meio ao trabalho primoroso de maquiagem de Rick Baker seria fácil para um intérprete menos talentoso, mas não é à toa que Dunne construiu uma sólida carreira no cinema e na TV ao longo de seus 66 anos de vida. A sua versatilidade brilha conforme Jack adota as mais diferentes estratégias para tentar convencer David, tornado lobisomem, de que ele precisa morrer. Se não para deixar de ferir terceiros, para ao menos libertar as almas daqueles que matou de um deprimente limbo.

Elemento vital de uma das adaptações mais ricas e divertidas da mitologia licana nas telonas, o personagem se apresenta então como o Grilo Feliz do lobisomem; o resto de razão humana manifesto em literais restos humanos. E embora seja razoável afirmar que mesmo sem a performance de Dunne, o filme seguiria relevante, é certo dizer que ele se tornaria muito menos interessante e cativante.

Onde assistir: Um Lobisomem Americano em Londres está disponível para assistir via aluguel no Microsoft Movies e Google Play e via aluguel e compra no Apple TV+.

07/10 - Sang-hwa (Invasão Zumbi)

Invasão Zumbi
Next Entertainment World/Divulgação

Um dos melhores filmes de zumbi das últimas décadas (senão o melhor), o sul-coreano Invasão Zumbi acha sua força em uma gama perfeita de personagens, que se complementa para exemplificar aquelas tradicionais passagens dos filmes do gênero: a importância do altruísmo, a crueldade do ser humano, a busca por sobrevivência. E naquele leque, por mais que o pai executivo e a grávida sejam mais protagonistas, existe um que não sai da memória: Yoon Sang-hwa, o marido de Seong-kyeong, interpretado por Ma Dong-seok (também conhecido como Don Lee).

No contexto do pânico no trem onde se passa a história, Sang-hwa é o homem comum, não o protagonista com um arco a ser completo, mas o sujeito preocupado com sua esposa, que acaba tomando o lugar de durão na equipe. Seu carisma imediato, complementado por seu desenvolvimento como personagem até entender as questões de cada um de seus companheiros e mais do que tudo - suas habilidades físicas - fizeram do personagem o lutador icônico de Invasão Zumbi. Não à toa, Dong-seok estourou após o lançamento do longa, com indicações em diversas premiações e até o convite para entrar para o Marvel Studios, no papel de Gilgamesh em Eternos

Onde assistir: Invasão Zumbi está disponível para streaming na Netflix e para compra e aluguel na Google Play e Apple TV+. 

08/10 - Candyman (O Mistério de Candyman)

Tony Todd em O Mistério de Candyman
Propaganda Films

Quando o diretor Bernard Rose optou por escalar Tony Todd como Candyman, ele abriu as portas para que o personagem se tornasse muito mais que um simples vilão de terror. Criado nas páginas de um conto de Clive Barker, essa entidade movida por lendas urbanas não era mais do que uma sombra misteriosa. A partir da colaboração de Rose e Todd, entretanto, se tornou uma ferramenta de denúncia social e de combate a estereótipos raciais. Além de um dos personagens mais fascinantes do gênero.

Nascido Daniel Robitaille, um homem negro livre nos Estados Unidos do século XIX, Candyman veio a ser o que é por meio do ódio racial. Atacado, torturado e morto por manter um relacionamento com uma jovem branca, ele encontrou na sobrevida de sua lenda uma forma de voltar à Terra e se vingar, promovendo dor análoga à que sofreu a todos aqueles que ousassem invocá-lo. Existindo no vácuo entre verdade e mentira, Candyman faz de seu agir um sinalizador das estruturas sociais injustas e desiguais que o vitimaram, ao mesmo tempo em que passou a confrontar diretamente os estereótipos reservados a vilões negros.

Além de contar com porquês satisfatórios para ser quem é e fazer o que faz, fugindo à desumanização típica reservada ao negro na ficção e fora dela, Candyman não se apresenta como um monstro. Tal qual o Drácula, ele é bonito, elegante, sedutor. Educado e articulado, tem no cerne de sua existência o que parece ser o anseio por um amor, ainda que não passe de um pretexto para manter viva a sua lenda. Como Nia DaCosta e Jordan Peele entenderam e fizeram valer em A Lenda de Candyman, o vilão é um símbolo poderoso e atemporal do terror socialmente engajado e consciente.

Onde assistir: O Mistério de Candyman pode ser visto no streaming, via TeleCine e Oi Play, alugado ou comprado via Google Play e Apple TV+.

09/10 - Black Phillip (A Bruxa)

Black Phillip em A Bruxa
A24/Divulgação

Pedimos perdão por SPOILERS DE A BRUXA abaixo, então se você não viu o filme, evite este item da lista (e vá assistir A Bruxa). 

O bode misterioso de A Bruxa, discreto acompanhante da família e causador do caos, é o primeiro (mas não o único) personagem de forma não-humana da nossa lista. Black Phillip é uma presença constante no longa, que apenas revela sua identidade satânica na reta final. Para Thomasin, protagonista do filme de Robert Eggers, Black Phillip significa algo perfeitamente simbólico. O pacto com o diabo, por mais que seja uma nova forma de fanatismo religioso, foi a saída de uma sociedade opressora, e uma forma de expressar sua busca por poder, independência e sexualidade. 

A Bruxa é um filme impecável, mas seu brilho maior chega no final, quando Black Phillip finalmente se comunica e apresenta para Thomasin uma saída. A escolha de deixar sua forma física final misteriosa, entregar-lhe uma voz sedutora, e as ofertas feitas por ele encerram a estreia de Eggers (e de Anya Taylor-Joy) de forma catártica. Por isso, por mais que cada um daqueles integrantes da família de A Bruxa sejam personagens muito bem construídos, saímos do filme com a voz de Phillip na cabeça: “você gostaria de viver deliciosamente?”

Onde assistir: A Bruxa está disponível para streaming no Telecine, Globoplay e Now, e para compra e aluguel no Claro Video, Google Play e Apple TV+

10/10 - Carrie (Carrie - A Estranha)

Sissy Spacek em Carrie
United Artists/Divulgação

Na raiz do horror de Carrie - A Estranha, está o doloroso processo de autoconhecimento e autoaceitação imposto a todos nós pela adolescência. Só que, tanto na obra de Stephen King, quanto no filme dirigido por Brian de Palma, esse processo universal é feito ainda mais denso por ser retratado pelo prisma da exclusão do diferente, além das adições temáticas do fanatismo religioso e do sobrenatural.

O que torna a jornada de Carrie ainda mais memorável, entretanto, é o quão simbiótica à personagem é a denúncia ao peso dobrado que recai sobre as mulheres em exercer sua simples existência, uma vez que confinada a uma realidade patriarcal; um mundo que vê, reforçada em suas estruturas sociais, religiosas e econômicas, a opressão sobre o feminino.

É por isso que permanece enraizado na mente de todo aquele que já assistiu ao filme a imagem de uma jovem garota, coberta de sangue, dominando o espaço ao seu redor com o poder de sua mente. A catarse da descoberta dos poderes paranormais de Carrie é a catarse da libertação de uma jovem adolescente até então reprimida e oprimida por todos à sua volta, intencional e estruturalmente.

Onde assistir: Carrie - A Estranha está disponível em streaming via Telecine (em breve, Globoplay), e para aluguel e venda no Google Play e no Apple TV+.

11/10 - Norman Bates (Psicose)

Anthony Perkins em Psicose
Shamley Productions

Não é à toa que a última cena de Psicose, um close no sorriso macabro de Norman Bates, tenha marcado a nossa lista de 31 cenas icônicas do terror. O momento encapsula tudo que o personagem tem de melhor, e representa exatamente como ele mudou o cinema: até então, assassinos, ameaças e antagonistas eram monstruosos (pelo menos no mainstream, claro). Com Psicose, Alfred Hitchcock mudou o jogo, trazendo em um simpático funcionário de hotel um psicopata de primeira. A ideia de que o perigo pudesse estar tão próximo - e tomar uma forma tão amigável - é o elemento que fez de Norman Bates um personagem tão histórico. 

Inspirado parcialmente pela história do assassino Ed Gein, e tirado dos livros de Robert Bloch, Bates for levado para as telas primeiramente pelo mestre do terror na pele de Anthony Perkins antes de ser desenvolvido em sequências e séries de TV. Em Psicose, foco do item da nossa lista, Norman Bates é um personagem ainda maior por ser dois em um. Quando falamos da intepretação marcante de Perkins, estamos falando do sujeito (spoilers históricos à parte) que incorporou Norman e Norma, incluindo em uma das cenas mais icônicas do cinema: a sequência do chuveiro, que acabou rotulando Psicose como o primeiro slasher da história.

Onde assistir: Psicose está disponível em streaming no Telecine e no OiPlay e para compra e aluguel no Claro Video e Apple TV+. 

12/10 - Red Miller (Mandy - Sede de Vingança)

Nicolas Cage como Red Miller em cena de Mandy
SpectreVision/Divulgação

Mandy é um filme estranho por natureza, misturando a estética de horror oitentista à beleza de um sonho de amor e à melancolia de uma tragédia clássica. No centro de tudo isso, Nicolas Cage habita de forma visceral o lenhador Red Miller, indo de 8 a 80 em sua atuação, mas sempre atento ao que pede a trama. É o coração de um dos lançamentos recentes mais fascinantes do gênero, pulsando rítmica e arritmicamente para dar vazão às ideias do cineasta Panos Cosmatos.

Não sabemos muito sobre o passado de Miller, mas entendemos pelo desdobrar inicial da trama que ele e Mandy (Andrea Riseborough) encontraram um no outro o refúgio de dolorosas cicatrizes do passado. Quando essa paz é interrompida pelo fanatismo religioso dos seguidores do falso profeta Jeremiah Sand (Linus Roache), entretanto, o protagonista revela o que vinha guardando em si. Aos poucos, Miller se torna uma versão menos monstruosa de Jason Vorhees, movida apenas por vingança e ácido.

O que faz de Miller tão fascinante quanto o filme que habita, entretanto, é que mesmo envolto em ódio, sangue e drogas que alteram seu estado mental, ele permanece vulnerável e consciente da espiral infernal na qual mergulha. Sempre humano, independente do quão desumano tenha de se tornar para vingar o amor que o fez completo.

Onde assistir: Mandy - Sede de Vingança está disponível para aluguel no Claro Video e para aluguel e compra no Google Play.

13/10 - Tubarão (Tubarão)

Tubarão de Tubarão
Universal Pictures

Assim como grande parte dos filmes de Steven Spielberg, Tubarão é recheado de ótimos personagens, desde o biólogo de Richard Dreyfuss até o caçador interpretado por Robert Shaw (e quem sabe até aquele marcante xerife). Mas quem entra na nossa lista hoje é o personagem que menos aparece na tela. Aqui estamos novamente com mais um personagem não-humano na nossa lista (e não, ainda não é o último). Mas o tubarão de Tubarão é quase humano, na realidade. 

Toda a perspicácia de Spielberg foi entregar à criatura ameaçadora do filme de 1975 uma personalidade perfeitamente vilanistica. Não estamos falando de um simples tubarão. O antagonista de Tubarão é vingativo, metódico, e tem sede de carne humana. Isso, e o fato de que Spielberg sabe esconder e revelar o seu vilão de modos tão geniais, fazem do tubarão do filme uma criatura tão marcante.

Este comportamento teve seus efeitos na sociedade: não apenas a ida à praia diminuiu em 1975 como há relatos de uma relação entre matança de tubarões e o filme de Spielberg. Claro que esta não era a intenção, mas os efeitos ficaram conhecidos como o Jaws effect, algo que o autor do livro que inspirou o filme, Peter Benchley, certamente lamentou. Amante de tubarões, Benchley lutou pela conservação destes animais, explicando que "não existe um tubarão isolado que desenvolve o gosto pela carne humana". Este, infelizmente, foi o grande apelo da criatura que entra hoje na nossa lista.

Onde assistir: Tubarão está disponível para streaming na maioria das plataformas digitais: Netflix, Prime Video, Star+, Paramount+, Telecine, Now e Oi Play.

14/10 - Zé do Caixão (À Meia-Noite Levarei Sua Alma)

José Mojica Marins como Zé do Caixão em À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964)
Belas Artes à La Carte/Divulgação

Não é à toa que José Mojica Marins é considerado o pai do cinema de terror brasileiro. Quando o audiovisual nacional caminhava às duras penas em meio à Ditadura Militar, esse resiliente, ambicioso e visionário cineasta fez das tripas coração para criar uma das figuras mais memoráveis do imaginário popular brasileiro, o sádico coveiro Zé do Caixão, e provar de maneira definitiva que nosso país é capaz de criar cinema de gênero de qualidade.

Apresentado em À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), o personagem é um narcisista desiludido com a fé que tornou-se um cético amoral. Movido apenas pela crença em prolongar sua vida por meio de um filho gerado por uma “mulher superior”, Zé do Caixão mente e mata em sua busca por uma herança de sangue, inadvertidamente mergulhando-se em contextos verdadeiramente diabólicos. Ainda assim, a figura nefasta, de unhas longas e vestes pretas, permanece duramente resoluta quanto à inexistência de Deus e o Diabo – mesmo que viva assolado por pesadelos de tom sobrenatural.

Essas incoerências natas e a fé cênica inabalável que Marins (que não encontrou outro ator disposto a dar vida à sua criação) imprime em Zé do Caixão, fizeram do personagem um ícone tão impactante que tornou-se mais celebrado internacionalmente do que no Brasil. Não à toa, o “Coffin Joe” será repensado em reboots de origens norte-americana e mexicana pela SpectreVision, bem antes de ser resgatado em nova versão no seu país de origem. Ainda assim, o fã brasileiro deve dormir tranquilo: o Zé do Caixão original só nós tivemos, mesmo que não o tenhamos valorizado como deveríamos.

Onde assistir: À Meia-Noite Levarei Sua Alma está disponível em streaming no Looke, Telecine, Globoplay, Belas Artes à La Carte e Now.

15/10 - Esther (A Orfã)

 Isabelle Fuhrman em A Orfã
Dark Castle Entertainment

Retornemos às figuras infantis dos filmes de terror com uma das mais marcantes delas - por mais que ela não seja realmente “infantil”, e por mais nova que ela seja no cenário de terror. Esther, a protagonista de A Orfã, pode ser uma surpresa para alguns na nossa lista, mas ela é tão maléfica - e mais do que isso, tão ousada - que a personagem interpretada por Isabelle Fuhrman encontrou o seu lugar entre os icônicos. 

Uma aparente criança inocente (claro), Esther é adotada pela família de Kate (Vera Farmiga) e John (Peter Sarsgaard) e não demora para que torne a vida do casal infernal. Suas ações - que até lembram outro clássico pequeno demônio, de O Anjo Malvado - têm consequências fatais, que vão desde sacrifícios imperdoáveis de pássaros até o assassinato de parentes. 

Isso tudo porque A Orfã tem uma das melhores revelações e reviravoltas finais, precisamente ousadas pela escalação da jovem atriz no papel. Fuhrman, que tinha 10 anos na época da produção, tem cenas terríveis, cheias de palavrões, choros intensos e uma inesquecível e chocante cena em que seduz o seu pai adotivo. Completa pela atuação de Fuhrman, A Orfã ganha seu lugar merecido na lista. 

Onde assistir: A Orfã está disponível para compra e aluguel no Google Play, Microsoft Store e Apple TV+

16/10 - Jigsaw/John Kramer (Jogos Mortais)

Tobin Bell como John Kramer
Lionsgate/Divulgação

O assassino serial criado por James Wan e Leigh Whannell como estopim e também principal reviravolta do primeiro filme da saga Jogos Mortais se manteve vital a toda ação da saga por anos por um motivo simples: é um personagem incrível. Homem amargurado por tragédias e dono de uma visão deturpada do mundo, ele crê fazer o bem ao colocar pessoas autodestrutivas em situações de vida ou morte. Seu objetivo é fazê-las entenderem o valor da sua existência, o que, segundo ele, o exime da alcunha de assassino.

Um engenheiro brilhante, é com enorme criatividade que o homem antes conhecido como John Kramer (vivido de forma icônica por Tobin Bell) coloca em prática essas “lições”, desenvolvendo armadilhas mortais mais e mais engenhosas capazes de levarem ao limite seus “escolhidos”. Além disso, é de se louvar o brilhantismo de Jigsaw em construir toda uma mitologia para seus crimes, indo desde o sinistro boneco Billy the Puppet até a horrenda máscara de javali que usa quando precisa ir até suas vítimas.

Tudo isso é só perfumaria, entretanto, diante do que realmente faz de Jigsaw um personagem digno de estar na lista: seu código moral. Por mais maligno e maquiavélico que o vilão seja, é possível compreender os caminhos de vida que o levaram a fazer o que faz; e é louvável o quão coeso ele é para com suas filosofias doentias. A forma como a franquia passou a explorar isso, inclusive (contrapondo as ações de Kramer às de imitadores) é um ponto alto de Jogos Mortais.

Onde assistir: Jogos Mortais (2004) está disponível em streaming no Amazon Prime Video e no Telecine, para aluguel no <a

17/10 - Ripley (Alien - O 8º Passageiro)

Sigourney Weaver como Ripley em Alien
Fox/Divulgação

A personagem de Ripley em Alien - O 8º Passageiro é lendária por diversos motivos. Não só o papel de Sigourney Weaver é um marco no cinema por trazer uma mulher como protagonista de ação em um filme de terror e ficção científica, como a indicação da atriz no Oscar pelo filme de Ridley Scott também mudou as expectativas para produções do gênero. Mas mais do que as proporções que Alien tomou para além da tela, Ripley é uma personagem fantástica - e uma protagonista feminina simplesmente inesquecível.

Um dos elementos mais lindos de Ripley é que ela fica ainda melhor com o tempo, e principalmente recentemente, já que logo no começo de Alien a personagem é a única da tripulação da Nostromo a defender a quarentena. Infelizmente, Ripley é desobedecida e o mundo se torna um caos, com ela se tornando a única sobrevivente contra o xenomorfo.

Onde assistir: Alien - O 8º Passageiro está disponível para streaming no Star+.

18/10 - Ben (A Noite dos Mortos-Vivos)

Duane Jones como Ben em A Noite dos Mortos-Vivos
Mubi/Reprodução

Embora George A. Romero garanta que não tinha em mente um poderoso comentário sobre a dinâmica racial nos Estados Unidos, quando escreveu seu clássico filme de zumbis, a existência de Ben como protagonista da história é em si emblemática. Um homem destemido, focado, líder e cheio de recursos, que além de tudo se impõe em situações de tensão extrema frente a rivais brancos; tudo isso na tela grande, em pleno 1968. Icônico.

Seja interpretado por Duane Jones no filme original ou por Tony Todd no remake de 1990, Ben é sempre o herói de A Noite dos Mortos-Vivos. Mais do que isso, é sempre um personagem humano, com profundidade, humanidade e propósitos evidentes, preenchendo uma lacuna ainda muito grande e infeliz do cinema, para além do gênero do horror.

Onde assistir: A Noite dos Mortos Vivos, de 1968, pode ser visto no streaming via Looke, Mubi, Belas Artes à la Carte e NET Now. Já o remake de 1990 está disponível em streaming na HBO Max, para aluguel na Claro Video e para aluguel e compra no Google Play.

19/10 - Gerry Lane (Guerra Mundial Z)

Brad Pitt em Guerra Mundial Z
Paramount Pictures/Divulgação

Sim, aceitamos controvérsias de braços abertos, porque há quem diga que Guerra Mundial Z não é filme que se elogie. Mas por baixo da bagunça e inconsistência, o filme de zumbis liderado por Brad Pitt tem diversas pérolas, e a principal delas é exatamente esta: o Brad Pitt.

Não é exatamente o currículo impressionante e o talento de Pitt que lideram Guerra Mundial Z, mas o fato de que ele interpreta um personagem raro de filmes de zumbi: um protagonista que faz tudo certo. Tudo bem, excluindo a cena em que ele esquece de deixar o celular no silencioso e acidentalmente causa a morte de várias pessoas.

Mas isso é precisamente uma das inconsistências de Guerra Mundial Z, porque Gerry Lane é um soldado perfeito para o apocalipse. Ele é um ótimo lutador, perfeito em artes de defesa pessoal, sabe se armar, pensa rápido, faz decisões ótimas em questões de segundos, tudo isso além de ser um ótimo marido e pai - que inclusive até adota um filho durante o processo de resolver a pandemia de zumbi, 100% solucionada por mérito seu.

Sim, é questionável, mas Gerry é um personagem irresistível, principalmente em um gênero em que estamos acostumados a ver protagonistas cometerem erros atrás de erros.

Onde assistir: Guerra Mundial Z está disponível em streaming no Prime Video, Paramount+, HBO Max, Telecine e Oi Play.

20/10 - Leatherface (O Massacre da Serra Elétrica)

O Massacre da Serra Elétrica
Vortex/Divulgação

Os anos 1970 marcaram uma revolução para o cinema de horror, com o gênero fazendo transição para temas mais contemporâneos e paranoias cotidianas. Uma das que mais ganhou força na década foi a dos assassinos seriais, um conceito ainda novo para a época que levaria ao desenvolvimento do slasher como o conhecemos hoje com Halloween (1978). Quatro anos antes, entretanto, O Massacre da Serra Elétrica (1974) prepararia o terreno para a obra de John Carpenter.

Vendido como sendo inspirado em fatos para criticar o cenário político norte-americano da época, o filme de Tobe Hooper se inspirava nos crimes do serial killer real Ed Gein, que criava máscaras com a pele de suas vítimas, para apresentar o monstruoso assassino Leatherface. Filho de uma família de canibais, ele tinha seus problemas psicológicos explorados por seus pais para servir como o braço na caça por jovens turistas que passavam pela cidade que o clã dominava. Era absolutamente assustador.

Ao longo dos anos, O Massacre da Serra Elétrica deu frutos de pretensões e qualidades variadas, com altos e baixos bem marcados. Como constante, só Leatherface permaneceu, se diferenciando de assassinos similares como Michael Myers e Jason Voorhees pela sua inocência quase infantil e brutalidade rural. E, claro, pelas máscaras feitas com pele humana, não vamos esquecer.

Onde assistir: O Massacre da Serra Elétrica está disponível em streaming no Looke, Netmovies e OldFlix. 

21/10 - Annie (Hereditário)

Toni Collette em Hereditário
A24/Divulgação

Entenda: Hereditário é um filme que vai estar em toda lista nossa que elogia filmes de terror, seja de filmes essenciais, seja a de cenas icônicas, ou a deste ano, de personagens. E enquanto a escolha foi até disputada - afinal, a família Graham é recheada de ótimos papeis - a decisão acabou com a nossa protagonista, vivida pela atriz injustiçada nas premiações: Toni Collette como Annie.

Um dos motivos que faz Hereditário tão presente nas nossas listas é o simples fato de que o filme de estreia de Ari Aster é difícil de esquecer. Sua combinação de trauma com horror é tão certeira que é difícil não sair impactado pelo filme. E um dos motivos para isso é precisamente o trabalho de Collette. A mãe que precisa se recuperar da morte de um de seus filhos enquanto tenta não responsabilizar o outro pelo ocorrido é um papel pesado demais, que acaba definindo a intenção de Aster por trás de Hereditário: um filme sofrido sobre o sofrimento. No fim das contas Annie é a alma de todo o filme, e se as premiações decidiram ignorá-la, o erro é delas. Aqui Toni Collette tem seu lugar, sempre. 

Onde assistir: Hereditário está disponível em streaming na HBO Max e para compra e aluguel no Apple TV+, Claro Video, Looke e Google Play

22/10 - Dr. Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes)

Anthony Hopkins como Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes
Orion Pictures/Divulgação

Para viver o Dr. Hannibal Lecter, Anthony Hopkins se inspirou não só no personagem dos livros de Thomas Harris, mas no comportamento físico de grandes predadores. Incorporando a linguagem corporal de cobras, aranhas e crocodilos, o ator britânico construiu uma interpretação tão igualmente ameaçadora e magnética que conquistou o Oscar de melhor ator mesmo tendo só 24 minutos em cena.

Desde o momento em que é apresentado em O Silêncio dos Inocentes (1992), Lecter está aprisionado, conversando com Clarice Starling (Jodie Foster) de dentro de uma caixa de acrílico. O público é apresentado por alto à vilania e monstruosidade do personagem, só para encontrar um homem educado que, apesar de inquietante, parece a antítese dos demônios que dizem acompanhá-lo. É só no desenrolar dos eventos do filme que a verdadeira faceta do assassino canibal se revela, culminando em um rompante de brutalidade que leva o filme do horror predominantemente psicológico às vias de fato do gênero.

Para além do filme original, Hopkins pôde revisitar o personagem outras duas vezes, em Hannibal (2001) e Dragão Vermelho (2002), sempre conferindo ao nem tão bom doutor doses equilibradas de dignidade e animalidade. Embora o papel tenha desde então visitado as inseguras mãos de Gaspard Ulliel e as surpreendentemente capacitadas de Mads Mikkelsen, é mais que certo afirmar que nenhum deles jamais degustou um fígado humano com frijoles e um bom vinho Chianti com tanto desejo quanto a versão de 1992.

Onde assistir: O Silêncio dos Inocentes está disponível em streaming no Telecine e no Now e para compra e aluguel no Apple TV+ e no Google Play.

23/10 - Christine (O Carro Assassino)

Christine, o Carro Assassino
Delphi Premier Productions/Divulgação

Christine é uma das assassinas mais cruéis da nossa lista, e mais do isso, uma das mais inventivas. Apesar de ser “apenas” um veículo, a protagonista do filme de 1983 baseado no livro de Stephen King é capaz de sufocar, mutilar e massacrar pessoas, sem falar nos assassinatos mais tradicionais e esperados da sua lista, que incluem atropelamentos e explosões. Mas mais do que tudo isso, Christine é um carro incrivelmente carismático (e rock n’ roll), uma Plymouth Fury vermelha que faz questão de escolher uma boa trilha sonora pra tocar no rádio enquanto elimina suas vitimas.

Tudo isso nas mãos de John Carpenter faz da história de Christine é um terror bizarramente simpático, que apesar de críticas medianas na época se tornou um clássico cult. Enquanto um carro possa parecer uma escolha curiosa na nossa lista de personagens, Christine tem todos os atributos de um personagem de terror de primeira: um alvo específico, uma lenda por trás, e aquele famoso costume dos melhores assassinos: ela insistentemente resiste à morte.

Onde assistir: Christine - O Carro Assassino está disponível para compra e aluguel no Google Play e Apple TV+.

24/10 - Ash Williams (Uma Noite Alucinante)

Bruce Campbell como Ash Williams em Ash vs. Evil Dead
Netflix/Reprodução

Acompanhar a evolução de Ash Williams como personagem é também acompanhar a evolução de Bruce Campbell como ator; e que ator ele se tornou! De amigo do diretor Sam Raimi escolhido para estrelar Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (1981) até protagonista da série Ash vs. Evil Dead (2015-2017), Campbell foi além de sua pecha nata de canastrão para virar um craque no equilíbrio de comédia, ação e do horror. Flertando na medida certa com o ridículo e o bizarro, ele elevou Ash de um raro final boy para um dos mais celebrados anti-heróis do gênero.

O que faz do personagem um ícone tão marcante e cativante não é diferente do que faz do Homem-Aranha o maior herói da Marvel nos quadrinhos: Ash é tão capaz de ser um fracassado medíocre quanto um herói “descolado” (tradução de “groovy” que não faz jus ao quão incrível soa a palavra, quando falada por Campbell). Logo, toda a franquia Evil Dead pode ser interpretada como uma ode à resiliência humana perante a presença do mal – uma força tão poderosa que faz um imbecil como o personagem se tornar um admirável guerreiro sob as circunstâncias certas. E claro que ter uma motosserra no lugar da mão não atrapalha em nada esse processo de engrandecimento.

Onde assistir: Uma Noite Alucinante, o filme original de Evil Dead, pode ser assistido via streaming na HBO Max e no NET Now. O filme também pode ser alugado no Google Play. Já a série de TV Ash vs. Evil Dead tem suas três temporadas disponíveis no catálogo da Netflix.

25/10 - Annie Wilkes (Louca Obsessão)

Kathy Bates em Louca Obsessão
MGM/Divulgação

Em 1990, Rob Reiner lançou uma das adaptações mais caprichadas - e mais bem aceitas - dos trabalhos de Stephen King. Com Louca Obsessão, o diretor até então mais conhecido por filmes leves e comédias românticas acertou em cheio ao escalar Kathy Bates no papel de Annie Wilkes, uma fã que sequestra, prende e tortura seu escritor favorito, Paul Sheldon (vivido por James Caan), para que ele escreva um novo livro e corrija o destino de uma querida personagem em uma saga literária. Se em 1990 a história já era aterrorizante, Louca Obsessão se tornou ainda mais assustador com o tempo, e o crescimento de fandoms tóxicos ao redor do mundo.

A inicialmente dócil Annie é uma antagonista perfeita, uma que provoca empatia ao mesmo tempo que amedronta, capaz das ações mais crueis e calculistas (quem poderia esquecer aquela angustiante cena de tortura com um martelo?). Combinada com a performance de Bates - que se tornou a primeira atriz a levar o Oscar principal por uma atuação em filme de terror - e o fato de que o próprio Stephen King considera Annie sua personagem favorita em toda sua obra, a vilã de 1990 não poderia ficar fora da lista.

Onde assistir: Louca Obsessão está disponível para compra e aluguel no Apple TV+. 

26/10 - Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo)

Cena de A Hora do Pesadelo, de Wes Craven
New Line Cinema/Divulgação

Freddy pode não ser o seu slasher favorito, mas é difícil argumentar que ele não é o mais criativo de todos. Quando Wes Craven viu a oportunidade de fazer um filme com algum orçamento (depois dos questionáveis Bênção Mortal, de 1981, e Monstro do Pântano, de 1982), ele recorreu a memórias traumáticas de infância para construir um assassino que não fosse mais um brutamontes silencioso à imagem e semelhança de Michael Myers – desculpa aí, Jason Voorhees. O resultado foi a colagem de um homem queimado vivo, um chapéu sinistro e o nome de um valentão do colégio. Mas o que faria dele um vilão realmente único?

A resposta veio por meio de uma reportagem do Los Angeles Times, sobre mortes misteriosas ocorridas durante o sono em uma comunidade da América Latina. Logo, Freddy Krueger tomou forma como um demônio do sonho, feito ainda mais único pela sua arma de escolha (uma luva equipada com quatro lâminas afiadíssimas) e o fato de que seu intérprete não seria um dublê, mas sim um ator. Canastrão no nível certo e interessado em deixar de ser procurado apenas para papéis como caipiras e nerds, Robert Englund lutou pelo papel e o conseguiu, imortalizando o personagem que até hoje não encontrou sucesso em outras mãos. Sua interpretação é ácida, mas altamente carismática, fazendo de Freddy um canalha de ímpar grandeza mas igualmente divertido de ver.

Falando em sucesso, aliás, o filme introdutório do monstro, A Hora do Pesadelo (1984), foi dos maiores! Orçado em US$1.1 milhão, rendeu US$57 milhões e garantiu que a New Line Cinema se consolidasse no mercado como uma produtora respeitável. Icônico como poucos, Freddy ainda daria as caras chamuscadas em seis sequências, uma série de TV, um crossover com Sexta-Feira 13, além de um remake, lançado em 2010. Para um ser que habita os pesadelos, dá para dizer que o homem do chapéu proporcionou a realização de muitos sonhos em todos esses anos.

Onde assistir: A Hora do Pesadelo está disponível para aluguel e compra no Microsoft Movies e no Apple TV+.

27/10 - Chucky (Brinquedo Assassino)

Brinquedo Assassino
MGM/Divulgação

Com uma nova série saindo do forno este ano, Chucky é um ícone do terror que, assim como os melhores, simplesmente se recusa a ir embora. Lançado em 1988 com o clássico Brinquedo Assassino, o boneco não foi o primeiro da categoria a protagonizar um filme de terror, mas ele trouxe algo inédito nos filmes de brinquedos malignos: um visual inocente e infantil. Isso acabou sendo exatamente o seu apelo. Chucky é simplesmente bizarro, e muito disso vem de sua voz, eternizada por Brad Dourif.

Com seu visual quase sagrado (que é sim modificado de vez em quando, mas precisa ser um um boneco animatrônico), Chucky é como Freddy Krueger quando se trata de lendas do terror reconhecíveis até por quem nem gosta do gênero. Criado por Don Mancini e protagonista de uma das franquias mais duradouras do terror, Chucky equilibra perfeitamente humor e horror, o símbolo do assassino assustador e ridículo ao mesmo tempo.

Onde assistir: Brinquedo Assassino está disponível para compra e aluguel no Apple TV+. 

28/10 - Dick Halloran (O Iluminado)

Scatman Crothers em O Iluminado
Warner Bros/Divulgação

Em um dos filmes mais lendários de terror, O Iluminado, só existem, basicamente, quatro personagens. Jack (Jack Nicholson), Wendy (Shelley Duvall), Danny (Danny Lloyd) e Dick Halloran (Scatman Crothers). São quatro ótimos papeis, interpretados por atores maravilhosamente afiados, levados à exaustão pela famosa teimosia de Stanley Kubrick. Enquanto cada um desses poderia ganhar um espaço na nossa lista, hoje damos lugar para o injustiçado do filme de Kubrick. O cozinheiro chefe do Hotel Overlook.

Além de representar, basicamente, a alma do livro de Stephen King - por ser o responsável por explicar o "brilho" e os poderes sobrenaturais de Danny - Halloran é o herói pouco reconhecido de O Iluminado, um que tem uma morte surpreendente e - sejamos sinceros - gratuita. Enquanto no livro de King, Dick chega ao hotel pelo chamado de Danny e salva a mãe e o filho de Jack, no filme de Kubrick a ida de Halloran até tem um próposito - fornecer um veículo para a fuga da dupla -, mas seu corpo é deixado para trás após uma morte triste nas mãos do escritor.

O Iluminado não é um filme de se botar defeito. Ele é uma realização impressionante em todos os aspectos, e até a morte de Halloran é uma cena cinematograficamente impecável. Mas a injustiça ao personagem é chamativa. Rendendo ainda uma cena maravilhosa de telepatia entre ele e Danny, o personagem de Halloran é mais que digno da nossa lista.

Onde assistir: O Iluminado está disponível para streaming na HBO Max, Telecine, Globoplay e Now

29/10 - Pamela Voorhees (Sexta-Feira 13

Cena de Sexta-Feira 13
HBO Max/Divulgação

Jason pode ser o rosto da franquia Sexta-Feira 13, mas é sua mãe a verdadeira alma da matança que move a saga. À parte da brilhante reviravolta que a coloca como a verdadeira assassina do filme original, de 1980, a vingativa e psicótica matriarca permanece como a figura central da mente decadente de seu filho morto-vivo ao longo de basicamente todos os filmes da franquia. Cada vez que o brutamontes com máscara de hóquei ergue seu facão para fazer uma nova vítima, é por e para honrar a memória de Pamela.

Interpretada por diferentes atrizes ao longo dos anos, a assassina permanece imortalizada na performance original e definitiva de Betsy Palmer; seu olhar distante, preso à memória do filho se afogando em Crystal Lake, e sua boca gradativamente indo de uma expressão de dor a um sorriso sádico de quem prova o sabor da vingança. Icônica, do primeiro ao último segundo em que aparece em tela.

Onde assistir: O Sexta-Feira 13 original pode ser visto, em streaming, na HBO Max, ou via aluguel e compra na Apple TV+ e no Google Play Videos.

30/10 - Sidney Prescott (Pânico)

Neve Campbell como Sidney
Paramount Pictures/Divulgação

A reta final da nossa lista não poderia ficar sem uma final girl. E são muitas que poderiam entrar no corte, mas talvez ninguém seja um exemplo melhor de última garota sobrevivente do que Sidney Prescott. Além de carregar uma franquia de 25 anos nas costas, a personagem de Neve Campbell em Pânico é brilhante por tanto exemplificar quanto contrariar as regras do gênero. Como a propria franquia, Sidney veio para colocar as regras com todas as palavras, apenas para depois subverte-las.

Sidney começa questionando filmes de terror e a inteligência de suas protagonistas mas logo se torna uma, e se vê subindo as escadas antes de sair pela porta. Mas ao confrontar Ghostface, desde a primeira vez, Sidney se mostra mais forte do que o esperado, e com as continuações só foi ficando mais resistente, cada vez mais ciente do seu papel. A personagem foi da sobrevivente que realmente chama a polícia, no primeiro filme, para a protagonista que dita as regras de remake no quarto filme, deixando bem claro: “não mexa com os originais".

Não foi uma escolha fácil. Quando se fala em Pânico, poderia ser argumentado a favor de Randy, um personagem que representa toda a metalinguagem da saga, ou Gale Weathers, uma sobrevivente que não é A final girl. Mas no fim das contas Pânico é Sidney, e nossa lista não seria digna sem ela.

Onde assistir: Pânico está disponível para streaming no Now e para compra e aluguel no Google Play, Microsoft Store e Apple TV+.

31/10 - Michael Myers, A Forma (Halloween)

Michael Myers em Halloween, de 2018 (Universal Pictures/Divulgação)
Universal Pictures/Divulgação

O maior trunfo de Michael Myers, o personagem que definiu as regras do slashers moderno e consequentemente deu origem a milhares de cópias e subversões (incluindo Jason Voorhees e Freddy Krueger), é a simplicidade. Desde que assassinou sua irmã mais velha, ainda quando criança, ele aparece, observa e mata, apenas. Sua predileção pela "data mais assustadora do ano", o Halloween, é só um detalhe. O que realmente o torna assustador é a aparente aleatoriedade de suas ações - mesmo que ela não exista de fato.

Veja, como o Dr. Samuel Loomis (Donald Pleasence) insistentemente brada noite clássico de 1978 dirigido por John Carpenter, Myers é o mal encarnado. Entender seus crimes sanguinários como obra do acaso é falhar em compreender que eles têm uma razão clara de ser: atender à natureza de um ser que nada mais é do que um símbolo da imprevisibilidade da morte. Uma certeza que, a despeito dos esforços humanos em racionaliza-la, não atende a qualquer confinamento lógico: inocente ou culpado, jovem ou velho, saudável ou doente, todos estamos à mercê dela, até quando ela sobre nós repousar.

É por isso que a escolha pela máscara descaracterizada de Capitão Jane T. Kirk, seguindo as feições de William Shatner, deixa para trás qualquer máscara de hóquei estilizada e qualquer protético de queimaduras. Aquela expressão vazia, quase um simulacro mal-feito de humanidade, é nada menos que a veste perfeita para a escara que caminha ao lado de todos nós; a chaga da violência, da injustiça, da dor e do medo.

Onde assistir: Halloween (1978) está disponível em streaming na Netflix, no Amazon Prime Video, no Looke e no NET Now

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