A “lendária e mais icônica vilã” da vez é Cruella. A descrição, que um dia poderia ter servido também para a divulgação de Malevóla, agora é associada à antagonista de 101 Dálmatas, e faz parte de uma releitura de personagens malvadas familiares, algo em alta hoje em dia. Em linha com o empoderamento feminino, faz sentido rever as atitudes de personagens como a vilã de Bela Adormecida ou até Arlequina, e o cinema sabe se aproveitar disso muito bem.
Desta vez, no entanto, o trabalho é mais delicado. Como transformar em um ícone feminista uma mulher que queria aniquilar 99 (filhotes!) dálmatas para fazer casacos? A Disney tem dois caminhos a seguir - abraçar a maldade e manter Cruella cruel, ou reescrever a história e tentar justificar a insanidade de De Vil como temporária, modificando a vilã para que se torne mais aceitável.
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Claro, é a Disney, e seria difícil de imaginar a Casa do Mickey distorcendo as mentes de pequenas crianças para que torçam para uma psicopata, ou mesmo fazendo uma análise pseudo-profunda e sombria da personagem, em uma jornada semelhante à de Coringa. Mas pelo que vimos do primeiro trailer do longa, o filme não parece querer tornar a vilã simpática, e sim embalar a personagem em um conceito punk só aparentemente amedrontador.
Mas a produção do filme, seus roteiristas e até as escolhas do trailer podem nos dar as primeiras pistas do que esperar do prelúdio. Confira abaixo tudo que sabemos sobre o filme de Cruella com Emma Stone.
A Favorita e Venom no roteiro?
Cruella tem uma equipe bem intrigante nos bastidores, a começar por um roteiro escrito por várias mãos. O roteirista de A Favorita (um dos recentes e mais aclamados trabalhos de Emma Stone) Tony McNamara é um dos responsáveis pelo script, o que apontaria para um humor ácido e sem dó, mas ele escreveu o roteiro ao lado de Dana Fox, nome por trás de comédias doces como Encontro de Casais e Como Ser Solteira.
Mas o roteiro de Cruella é ainda mais peculiar: McNamara e Fox desenvolveram-no a partir de uma história escrita pela showrunner de Crazy Ex-Girlfriend, Aline Brosh McKenna, em conjunto com a roteirista de Venom e 50 Tons de Cinza, Kelly Marcel, e com Steve Zissis, responsável pela série Togetherness. Claro que todos eles basearam a ideia no livro de Dodie Smith, autora de 101 Dálmatas, publicado em 1956.
Pode parecer uma salada mista bem esquisita, mas a primeira prévia de Cruella até que parece uma mistura disso tudo.
O diretor de Eu, Tonya
Outra escolha chamativa de Cruella está em sua direção, no nome de Craig Gillespie, cujo filme mais reconhecido é Eu, Tonya. A escolha é peculiar porque o filme de 2017 conta a história real da patinadora Tonya Harding, acusada de conspiração para quebrar o joelho de Nancy Kerrigan, uma de suas adversárias em 1994. Eu, Tonya escolhe focar na "vilã" para contar sua narrativa, estabelecendo uma história já pouco confiável, usando também a estrutura de mockumentary para apresentar o relato delicado e se aprofundar em humor sombrio.
A combinação parece perfeita para o estilo de Cruella. Para não alterar a personalidade de uma vilã decididamente vilã, o filme da Disney poderia apresentar uma narrativa pouco confiável, parcial, e apresentada pela protagonista.
Uma sinopse focada em moda e crime
A sinopse de Cruella não sugere absolutamente nada envolvendo dálmatas, o que aponta para uma vida de crimes menos intensa para o público, que aguenta qualquer coisa desde que não envolva o sofrimento de cachorros [via Deadline].
Segundo a descrição oficial, "Cruella é sobre os dias rebeldes de uma das mais notáveis e estilosas vilãs, a lendária Cruella de Vil. Ambientado em Londres de 1970, na cena da revolução do punk rock, o filme acompanha uma jovem vigarista chamada Estella, uma garota esperta e criativa determinada a construir uma reputação com seus designs. Ela faz amizade com dois jovens ladrões que apreciam seu apetite por travessuras e juntos eles podem construir uma vida nas ruas de Londres.
Um dia, o talento de Estella chama a atenção da Baronesa von Helllman (Emma Thompson), uma lenda da moda. A relação das duas inicia uma cadeia de eventos e revelações que leva Estella a aceitar seu lado malvado e se tornar a vingativa Cruella".
Ícone feminista?
Não é porque Cruella é uma vilã que ela não pode ser uma ícone feminista, e pelo jeito como a primeira prévia retrata a protagonista, o filme da Disney pode muito bem tomar esse caminho. A primeira pista nesse sentido é o uso da frase "I am woman, hear me roar", retirada da música "I Am Woman", da australiana Helen Reddy.
Lançada em 1971, a faixa se tornou um dos hinos do movimento feminista na época da contracultura americana, e segue um dos grandes símbolos de empoderamento de mulheres até hoje. Seguindo o tema de curiosidades cinematográficas, esta é a música que o quarteto de Sex and the City canta junto no karaokê no segundo filme da franquia, e também serviu como trilha para o momento em que Kathryn Bigelow ganhou o Oscar de melhor direção, marcando a primeira vez que uma mulher levou a estatueta.
O figurino? Algo entre O Discurso do Rei e Mad Max
A responsável pelo figurino de Cruella, um dos elementos mais chamativos do trailer e provavelmente uma das maiores cartas na manga do longa, fica por conta de Jenny Beavan, vencedora de dois Oscar. As produções pelas quais ela levou a estatueta não poderiam ser mais diferentes: Uma Janela para o Amor, um romance inglês que se passa no começo de 1900, e Mad Max: Estrada da Fúria, o longa de ação pós-apocalíptico.
Surpreendentemente, isso também faz bastante sentido, julgando pelo visual que vimos na prévia. Beaver também esteve por trás de figurino de longas como O Discurso do Rei, Dollitle, O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos e o Sherlock Holmes com Robert Downey Jr.
De todo modo, também parece haver uma inspiração muito forte de uma personagem do mundo real: Vivienne Westwood, a estilista inglesa que levou o movimento punk para as passarelas nos anos 1970, com looks marcados pelas cores preto e vermelho, cheios de couro, correntes, rasgos e outros elementos transgressores.
Acalme-se, a Glenn Close está na produção
Se tem um elemento inesquecível no live-action de 101 Dálmatas, lançado em 1996 pela Disney, é a performance e estilo de Glenn Close como Cruella. Por isso, a Disney teria que enfrentar uma avalanche de dúvidas ao escalar uma outra atriz no papel.
Possivelmente para desviar os críticos - ou, quem sabe, por uma escolha que realmente tenha influência no filme - Cruella fez muito bem em colocar Close na produção do novo filme. Além dela, Emma Stone também tem créditos na produção executiva.
Emma Thompson e outros nomes no elenco
Apesar da nossa protagonista ser uma vilã em sua essência, a primeira prévia de Cruella indicou que a personagem de Stone será desafiada pela Baronesa von Helllman, personagem de Emma Thompson. Enquanto o visual de nossa suposta antagonista foi foco em algumas cenas do trailer, outros nomes aparecem apenas ao fundo, deixando fãs intrigados para conferir o resto do elenco.
Cruella trará Joel Fry e Paul Walter Hauser como Jasper e Horace, os capangas da protagonista (personagens vividos por Hugh Laurie e Mark Williams no longa de 1996). Enquanto Fry é conhecido por Yesterday e Game of Thrones, Hauser trabalhou com Gillespie em Eu, Tonya, e protagonizou O Caso Richard Jewell.
Mark Strong, que também pode ser visto no trailer, fará um personagem sem descrição revelada chamado Boris. Strong é conhecido por seus papeis em Shazam!, 1917 e Kingsman: Serviço Secreto.
Estreia nos cinemas?
Assim como muitas datas de lançamento nos dias de hoje, nada é 100% definido, mas a esperança é que Cruella seja lançado nos cinemas em maio. Apesar de ser apenas um boato até agora, circulam informações de que Cruella pode ser lançado diretamente no Disney+.
Por enquanto, não está claro se a Disney pretenderia seguir a mesma estratégia testada com Mulan, acessível por um valor adicional para assinantes da Disney+, ou se seguirá o lançamento tradicional de streaming, como fez com Soul.