Filmes

Entrevista

Omelete Entrevista: Marcus Nispel

O diretor de novo Sexta-Feira 13 conta como foi fazer o filme

17.02.2009, às 18H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H44

Egresso do mercado publicitário e dos clipes musicais, o alemão Marcus Nispel já havia mostrado que entende de terror em O Massacre da Serra Elétrica. Na sequência, errou a mão (e feio) em Desbravadores, mas agora volta por cima com o recordista histórico de abertura para o gênero, Sexta-Feira 13. Na entrevista ele dá uma verdadeira aula sobre o filme-de-maníaco e comenta os desafios da refilmagem, o novo Jason e muito mais. Confira!

Como modernizar um tema clássico como o de Sexta-Feira 13, o do matador em seu habitat?

Sexta-Feira 13

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Mais do que modernizar, esta é uma série que deve tudo a seus fãs. Então eles vieram em primeiro lugar. Temos que dar a eles o que eles querem, mas não o que esperam. Há uma razão porque todos os filmes acabam meio parecidos. É quase um culto, um ritual. Os fãs precisam ter uma idéia do que vai acontecer, mas ao mesmo tempo precisamos surpreendê-los com reviravoltas.

Lembro de ler sobre James Cameron discutindo como transformar um filme brilhante como Alien - O Oitavo Passageiro em uma série, extrair da idéia básica de um a premissa para cinco. No caso de Alien ele tinha as regras para um monstro: sangue ácido, o processo de reprodução, garras e mandíbulas. Então os fãs tinham uma expectativa, mas ele os surpreendeu em Aliens - O Resgate. Aqui em Sexta-Feira 13 também não reinventamos as regras básicas do monstro, mas fizemos pequenos ajustes nessas regras. Um dos mais gritantes foi a ausência de uma "scream queen" [a protagonista clássica, conhecida pelos berros de horror]. No lugar colocamos Jared Padalecki, ahahaha. Isso é quase uma aberração dentro do gênero, que é essencialmente feminino.

Quando terminei O Massacre da Serra Elétrica uma atriz me enviou um livro chamado Mulheres, Motosserras e os Homens Que Fazem os Filmes Com Elas, que discutia justamente isso, como o terror é o único gênero em que as mulheres dominam, o único em que elas se transformam sozinhas de pessoas frágeis, fadinhas, menininhas, em mulherões poderosos. Nas décadas de 1960 e 1970 as mulheres começaram a assumir um novo papel na sociedade e o cinema de horror dos anos 1980 espelhou isso, essa transformação de valores - o macho transformou-se na fêmea e vice-versa. De novo, pense em Alien. O monstro começa másculo, quase um falo, mas no final torna-se a "vagabunda" que luta contra Ripley, que começa fêmea mas termina durona, com sua arma fálica amarrada ao corpo. Ou O Silêncio dos Inocentes, Buffalo Bill... a pequena Clarice e suas ovelhinhas - ao final, poderosa, masculina, enquanto Bill faz sua dancinha capada. Mas os tempos mudaram de novo... então é hora de correr alguns riscos. Essa inversão, um macho como a proverbial "rainha do grito", foi a nossa maior ousadia, eu acho.

A "scream queen" está mais para o personagem Trent...

Sim! Muito bem... Essa é outra inversão. Sabe, os roteiristas jamais se referem a Jason como "o monstro", mas como o "anti-herói" do filme. É o personagem Trent (Travis Van Winkle) que todos chamam de monstro.

Você, claro, é alemão. Como você se sente sendo parte de uma tradição quase secular do horror em seu país?

Ahaha, bom, como você sabe, os alemães tradicionalmente entendem o gênero. Eu vejo o gênero da seguinte maneira: como uma válvula de escape, como um passeio de montanha russa. Em tempos como este, em que temos que aprender como lidar com o terror ficcional contra o terror real, que acontece lá fora, precisamos de alguma maneira de extravasar, pensar "graças a deus foi só um filme".

Não é por acidente que faço meus filmes com caras como Michael Bay, que entendem o "cinema de montanha russa" como ninguém. Também não é por acaso que meus filmes têm uma camada irreal, não são criados para parecer snuff movies ou o que convencionou-se chamar de torture porn hoje em dia [filmes como O Albergue e Jogos Mortais]. Eu quero que as pessoas vejam que meus filmes são apenas filmes. Elas têm que enxergar essa camada irreal.

Seu filme sequer tem os litros de sangue que se jogam hoje em dia nas telonas. Não é tão sangrento. É mais elaborado.

Preciso fazer uma confissão aqui... As pessoas me dão crédito demais. Tem gente que diz até que meu cinema é sofisticado. Não é. Há uma razão simples para eu não gostar de tanto sangue em cena. Ele faz uma sujeira enorme! Suja tudo e os atores. Sabe, quando eu acordo de manhã levo cinco minutos para me trocar no máximo. Um ator de Hollywood leva 45 minutos no mínimo. Não adianta pedir para eles se apressarem. Não funciona. Então eu simplesmente tento não sujá-los para que eles não tenham que se trocar. Ahahaha. Uso muito pouco sangue. Se faltar, adicionamos depois por computador. Mas na verdade nunca precisei. Nem em Massacre da Serra Elétrica nem em Sexta-Feira 13. A quantidade que usamos no set funciona perfeitamente bem.

Você mencionou torture porn... como você se sente em relação a esse tipo de filme?

Eu não os assisto. Não gosto. E particularmente detesto quando a sexualidade é aliada à violência. Note que nos meus filmes eles ficam bem separados. A molecada transa, mas no acampamento!

É verdade. Acho que Jason pela primeira vez esperou o casal terminar de transar para matá-los.

Ahahahaha, exatamente!

Como foi sua transição dos comerciais de televisão para os filmes de horror?

Foi absolutamente lógica. As pessoas me perguntam: "por que você está fazendo filmes de terror?" - e eu respondo "eu fiz 200 videoclipes e mais de 2500 comerciais de TV. Nunca fiz muitas coisas sombrias". Antes de ser diretor eu era ilustrador - e nunca curti pintar fraldas ou garrafas de Coca-Cola. Eu gosto de coisas sombrias, como Rembrandt, e não é em uma comédia que eu conseguirei exercitar essas minhas preferências. Esses filmes que faço me permitem criar algo que eu aprecio, sem falar que adoro provocar reações no público, o que não acontece no mercado publicitário.

Quais as maiores diferenças entre este Jason e o original?

Várias coisas. É divertido ler os blogs e fóruns... "Jason não corre - BOICOTE!". Ahahahaha. Nosso Jason tinha que ser mais rápido, pois causa grandes danos em um curto espaço de tempo logo no começo. Então tivemos que mostrá-lo assim. Mas eu gosto da ideia de que Jason sempre foi rápido - ele apenas nunca foi mostrado correndo. Na nossa versão ele é mais um caçador que um maníaco clássico e tem toda aquela estrutura subterrânea que inclui depósitos e uma velha mina, que permite a ele chegar rapidamente aos lugares. E o caçador também se manifesta na floresta, quando ele se aproxima das vítimas em silêncio. Era importante para nosso filme que ele fosse assim.

Danny Boyle fez isso com os zumbis e veja só onde ele está agora! Concorrendo ao Oscar!

Ahahahahaha, é verdade! Na época também atormentaram o cara.

Por que você acha importante que filmes como esses sejam refilmados?

Me perguntaram isso na época de O Massacre da Serra Elétrica. "Por que refilmar o clássico de Tobe Hoper?" e eu respondi que não estava refazendo o filme dele, mas a história de João e Maria. É a mesma estrutura! O processo de refilmagem é fascinante. Quando aceitei dirigir Massacre nem sabia onde estava me metendo pois o filme foi um dos poucos proibidos na Alemanha. Nunca foi lançado por lá, ao lado de Laranja Mecânica. Aceitei meio de brincadeira, pois sou muito amigo do diretor de fotografia Danny Pearl, que trabalhou no original e na refilmagem, e eu queria que ele fizesse os dois, só de farra. Depois percebi que estava mexendo em um vespeiro... Acho que refazer Cidadão Kane ou Casablanca seria mais seguro! Ahahaha.

Em relação a Sexta-Feira 13 foi muito menos polêmico, já que o personagem já foi jogado pra lá e pra cá tantas vezes, então todo mundo quer que ele volte de maneira decente. A ideia de um remake parecia mais interessante para os fãs do que mais uma continuação.

Tudo sobre o filme no ESPECIAL Sexta-Feira 13

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