O terceiro dia do São Paulo Trip marcou a escalação de duas bandas que mantém sua formação desde muito tempo. Claro, quase ninguém se compara ao Aerosmith, que continua com o mesmo line-up quase desde sua fundação em 1970. Mas o Def Leppard, que abriu a noite, conta com os mesmos músicos desde 1992. O resultado disso foram dois shows que chamaram menos atenção pela empolgação e mais pelo entrosamento dos membros em apresentações em que todos têm grande importância, com um destaque maior para a extravagância do frontman do Aerosmith, Steven Tyler. Seu conjunto veio ao São Paulo Trip com a turnê Aero-Vederci, que sugere o fim de atividades da tão duradoura banda, mas nem os fãs nem o grupo parecem realmente acreditar na promessa.
O Def Leppard abriu a noite com uma performance absolutamente oitentista do começo ao fim. O espetáculo de luzes, projeções coloridas e brilho em todo canto do palco remetia à década de auge de sucesso da banda, que esbanjava orgulho de ser um dos grandes representantes da New Wave Of British Heavy Metal. A bandeira britânica, aliás, estava em todo o canto do palco, da bateria às camisetas e o telão.
O show pertenceu a todos os membros, mas o que falava mais alto eram as guitarras de Phil Collen e Vivian Campbell. O vocalista Joe Elliott apresentava cada um dos integrantes, levava-os pela passarela do palco e serviu como maestro para a banda e seus instrumentistas de primeiro nível. A estrela maior era o baterista Rick Allen, que, sem o braço esquerdo, toca com muito estilo. Os momentos em que o músico fazia solos de bateria arrancavam alegria do público, que curtiu um espetáculo sem vergonha de ser brega, com muitos solos e belos sucessos, como “Pour Some Sugar On Me” e “Rock Of Ages”, que botou o estádio para cantar. Foi uma apresentação boa, sem grandes surpresas, mas simpática e nostálgica do melhor jeito possível.
Os “bad boys from Boston” já marcaram o São Paulo Trip por serem os primeiros a não subir ao palco na hora. Desde o primeiro dia do festival, um dos grandes pontos positivos foi a pontualidade de todos, mas ninguém aproveita o estrelato como Steven Tyler e companhia. Com uma bela meia hora de atraso, o Aerosmith subiu ao palco com “Let The Music Do the Talking” e agradou de cara os fãs, que rapidamente esqueceram a demora. A banda seguiu com “Love in an Elevator” e “Cryin’” e segurou bem a resposta do público.
No show, o Aerosmith se reúne ao redor do baterista, principalmente nas longas passagens instrumentais, quando Tyler chega a fazer brincadeiras com o pedestal ou dançar como um rockstar. Mas o ponto baixo da performance talvez tenha sido este; em momentos que o conjunto se segura no instrumental, Tyler passou boa parte do show de costas para o povo, mantendo contato com o baterista Joey Kramer. Por vezes a plateia ficou assistindo e esperando algo a mais do vocalista e da banda, e isso acabou gerando certo desinteresse. Além disso, por vezes sentiu-se um certo estranhamento entre Tyler e o guitarrista Joe Perry, a outra estrela da banda. Enquanto o frontman buscava dividir o microfone com Perry, o músico parecia não muito interessado em fazer cena, e focou na sua guitarra.
Tudo isso fez com que o auge do Aerosmith viesse só no bis. Depois de passar por hits como “Crazy”, “I Don’t Wanna Miss a Thing” e um cover de “Come Together” dos Beatles, a performance chegava ao fim, tendo contado com cantoria e até fã que subiu no palco, mas a empolgação foi sempre contida. No entanto, depois que saiu e voltou para o bis, a banda retornou mais potente e gerou o que foi, possivelmente, o ápice do show: “Dream On” com Steven Tyler em um piano branco e Joe Perry em cima do instrumento tocando guitarra. Com nuvens de fumaça e chuva de confete, o momento foi emocionante. Foram 16 músicas da carreira antes de se despedir, com “Walk This Way” e muita mão para cima. Nada de menção à última turnê ou despedidas. O Aerosmith deixou o palco com o sentimento de que o conjunto ainda tem energia para voltar no futuro.