Extremamente populares na virada dos anos 1980 para os 1990, as Tartarugas Ninja amargaram um longo limbo de interesse depois de verdadeira overdose de produtos na última década do século 20 - desenhos animados, videogames, merchandising, filmes... mas retornam agora, em grande estilo depois de algumas tentativas frustradas de revival, num longa-metragem animado por computação gráfica.
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O projeto demorou pra decolar. Durante muito tempo cogitou-se um novo filme com atores dos quelônios mutantes - até John Woo esteve envolvido -, mas o mercado encampou uma idéia diferente: mostrar os personagens de maneira mais adulta, apostando em estilo e deixando de lado as piadas da TV, os bordões, as vozes engraçadas. É, na verdade, o "retorno ao ovo" do quarteto. Ele foi criado mais ou menos assim nas histórias em quadrinhos por Kevin Eastman e Peter Laird. Foi a televisão que os popularizou de maneira distinta, como diversão leve para crianças.
O resultado, As Tartarugas Ninja - O Retorno (TMNT), é um tremendo acerto da produtora Imagi International, sediada em Hong Kong. É como se as Tartarugas tivessem amadurecido com seu público.
Quase 15 anos se passaram desde que as Ninjas apareceram pela última vez no cinema e o filme se aproveita disso. Como um Superman - O Retorno (note que o título nacional não é por acaso), a animação não tenta contar novamente a origem e reapresentar heróis e vilões. Parte de uma certa consciência geral sobre as cascudas. Afinal, sabemos quem elas são, conhecemos o Ooze, Mestre Splinter e sabemos que o Destruidor, grande antagonista do passado, foi derrotado. Assim, a trama começa com Leonardo afastado, treinando nas selvas da América Central. A ausência do líder, porém, fez com que a família desmoronasse. Os combatentes do crime de outrora agora tentam se adequar ao mercado de trabalho. Todos menos o ressentido Raphael, que tem seus próprios segredos. É neste cenário que uma nova ameaça surge em Nova York, quando um antigo líder guerreiro imortal reúne seus generais, e os ninjas do Clã do Pé ressurgem, liderados por uma misteriosa garota.
A história é interessante, mas o grande atrativo do longa é mesmo a animação. O diretor e roteirista Kevin Munroe não esconde seu passado como diretor de videogames - e nem deveria, tem muitos jogos por aí que fazem os pipocões da semana passarem vergonha - e dá às cenas de ação um dinamismo comum aos vídeos de passagem de fase dos jogos eletrônicos. A seqüência da luta na chuva, por exemplo, parece extraída de um bom game: é carregada de atmosfera dramática e busca ângulos que só mesmo os jogos (ou filmes com essa estética) empregam. A diferença é o "processamento". Com o dinheiro de Hollywood, Munroe não poupou em efeitos, construção, fluidez e texturas. Além disso, todos os cenários e personagens são extremamente elaborados (há apenas uma ressalva aos personagens humanos, um tanto esquecidos) e, ainda melhor, têm estilo próprio, um "pé" no animê, mas sem os vícios do gênero, e não se parecem com trabalhos da Pixar, Dreamworks ou outras grandes do ocidente.
Mas não pense que a qualidade gráfica e o retorno às raízes distanciam o filme de seu público-alvo, as crianças. A história é bastante simples, nada violenta e, fora um ou outro conflito que tem mais apelo aos adultos, é totalmente acessível aos pequenos.
Um excelente recomeço para Leonardo, Raphael, Michelângelo e Donatelo, portanto. Que elas vivam mais 150 anos, como suas contrapartes do mundo real.