A Teoria de Tudo é a cinebiografia de um dos maiores gênios da ciência moderna. Stephen Hawking está na história pela suas teses e pela luta que trava com a doença de Lou Gehrig. No meio desses feitos há o relacionamento com Jane Wide, usado pelo diretor Jason Marsh como fio condutor de um roteiro pouco preocupado com os questionamentos dos estudos do astrofísico. Dessa forma, e sustentado pela performance de Eddie Redmayne, o filme se torna um romance com poucas discussões existenciais, algo tão presente na vida de Hawkings.
Os primeiros passos da vida acadêmica do protagonista são retratados sem estrelismo. Há dúvida sobre as capacidades do futuro professor, mas fica clara a genialidade escondida por trás dos óculos sempre tortos. A Teoria de Tudo também é comedido ao mostrar a descoberta da doença que afeta Hawkings até hoje. A negação à vida, a progressão da perda de movimentos e todo o processo é desenvolvido sem exageros no texto ou na atuação dos protagonistas. Se por um lado isso faz o filme escapar da pieguice, por outro o torna pasteurizado. Tudo segue as regras de romances idealistas, independente da resolução, e acaba como uma história com um bom mocismo irreal.
A escolha de focar no romance entre Hawkings e Wide tem êxito pela química entre Felicity Jones e Redmayne. A primeira faz o papel da mulher batalhadora e entregue a uma tarefa, sem falhas de caráter e devota ao amor. Dentro dessa proposta politicamente correta, Jones entrega uma performance eficaz potencializada pelo companheiro de tela. Redmayne se transforma no cientista britânico antes de descobrir a esclerose. Da maquiagem ao tom de voz, o ator faz um trabalho corporal louvável e condizente com sua fonte de inspiração. É nos momentos mais sutis, sem fala e quase sem expressão, que ele prova a excelência da atuação, digna de todas as premiações recebeu. Tivesse uma exploração ainda maior do confronto pessoal entre religião e ciência, sugerido superficialmente, talvez Redmayne se tornasse mais memorável.
A fotografia lavada e cheia de luzes incandescentes de Benoît Delhomme conversa com a imaginação do protagonista, e ajuda a encorpar o clima de romance do filme. Assim, A Teoria de Tudo se intitula com a busca da vida de Hawkings mas prefere deixar isso em segundo plano para apresentar uma história de amor. É bonito, bem escrito e filmado, não há dúvida. O retrato da vida desse gênio, porém, tão rara e milagrosa quanto ele próprio define, poderia trazer mais dúvidas e menos certezas.
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