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Árido Movie | Crítica

Árido movie

13.04.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H19

Árido Movie
Brasil, 2004
Drama - 118 min

Direção: Lírio Ferreira
Roteiro: Hilton Lacerda

Elenco: Giulia Gam, Guilherme Weber, Selton Melo, Gustavo Falcão, Aramis Trindade, Matheus Nachtergaele

O melhor cinema feito hoje no Brasil está fora de Rio de Janeiro e São Paulo. O cearense Karim Ainouz (Madame Satã), o baiano Sérgio Machado (Cidade Baixa), os pernambucanos Cláudio Assis (Amarelo manga) e Marcelo Gomes (Cinema, aspirina e urubus) dividem entre si a responsabilidade de colocar o Nordeste no novo mapa da cinematografia nacional. Mas são, em maior ou menor grau, cineastas de temas universais - inquietude, amor, solidão, incomunicabilidade, desesperança, inadequação.

O pernambucano Lírio Ferreira, que apresenta agora Árido Movie (2004), talvez seja o mais "nordestino" desse grupo, no sentido em que o regionalismo de certo modo define os temas de que ele trata. O cangaço, a seca, o coronelismo, o messianismo, o folclore, o manguebit, o compêndio secular do sertão, o recifense com um pé na modernidade e o outro pé fundo no mangue, tudo isso pontua a obra do diretor - desde seu primeiro longa, co-dirigido por Paulo Caldas, Baile Perfumado (1997), até este árido filme solo.

O ator curitibano Guilherme Weber, revelado nas peças da Sutil Companhia até chegar às novelas globais, interpreta Jonas, filho de um grande proprietário de terras na vila sertaneja de Rocha, Lázaro (Paulo César Pereio). Jonas mal conheceu o pai, logo se mudou para o Sudeste. Em compensação, a família que ficou em Rocha vê Jonas todas as noites, pela televisão, na hora em que o filho-pródigo apresenta a previsão do tempo no jornal. Uma reunião ao vivo, porém, está para acontecer. Depois do assassinato de Lázaro, Jonas é forçado a voltar ao Pernambuco para enterrá-lo.

Essa premissa enxuta remete ao clássico tema do eterno retorno e já sugere um filme de estrada. Mas é aconselhável não confiar em sinopse. No meio do caminho o espectador encontrará não apenas uma leva de bons coadjuvantes (Selton Mello, José Dumont, Matheus Nachtergaele, Giulia Gam, Luis Carlos Vasconcelos) e pontas especiais (Cláudio Assis, Xico Sá, Zé Celso, Lira Paes) como uma torrente de abstrações. Quem imagina um minimalismo à Marcelo Gomes pode se surpreender com o caos que desponta no imaginário do Vale do Rocha.

Forquilhas, pregadores de estrada, chá de índio, plantações de maconha, night club, vingança, barbas brancas, ares de Canudos... Já reparou que desde o começo este texto enfileira um monte de coisas soltas que não parecem ter relação entre si? Assim é Árido Movie, um filme com tantos argumentos que mal põe de pé uma única tese consistente. É difícil escapar da síndrome do segundo filme, e Ferreira parece entender que o antídoto para essa doença é negar a narrativa. Quando uma passagem engrena na dramaturgia, ela é quebrada por outra, descompromissada. O problema é que sobram apenas fragmentos, como numa viagem de erva em que jorram idéias efêmeras e sobrepostas.

O diretor não é desconhecedor da linguagem do cinema. Domina o ritmo, o momento certo de fazer silêncio: incluir uma panorâmica devastora do sertão em contraponto à cena fechada no conflito dos personagens, por exemplo. Há um elemento no filme que serve de fio a essas idéias, a água, da primeira à última tomada. E há também questões referentes a identidade, ao tempo, à validação do homem no espaço ao seu redor - a Montanha do Cachorro já era conhecida assim antes do ser humano nomear o animal de cachorro? Quem são esses alienígenas recifenses que chegam a bordo de uma nave conversível como se as pessoas de Rocha não fossem conterrâneas do sertão, mas gente de outro planeta?

Existe material para debate em Árido Movie, sim, mas tentar entender quais as mensagens submersas ali está perto de ser um esforço irrecompensável.

Nota do Crítico
Bom