O caminho natural na indústria do entretenimento é o das adaptações. Faz todo o sentido. O material já está pronto, pode até fazer sucesso em outra mídia e, principalmente, já é conhecido do público. Esse caso se aplica também a musicais, que seguem por um caminho ou por outro - seja ganhar primeiro uma versão para os palcos e depois para o cinema, ou vice-versa. O problema é que nem sempre a grandiosidade e a empolgação de um espetáculo teatral imprime bem nas telonas.
Caminhos da Floresta (Into the Woods), foi criada em 1987 para os palcos. Com letra e música de Stephen Sondheim e libreto de James Lapine, o musical mistura um punhado de contos de fada em uma nova e simples história: os amaldiçoados Padeiro (no filme, James Corden) e Esposa do Padeiro (Emily Blunt) devem conseguir alguns itens para que a Bruxa (Meryl Streep, indicada ao Oscar pelo papel) retire o feitiço, conjurado quando Padeiro ainda era um bebê.
Rob Marshall, apesar de conhecido por seu envolvimento com produções musicais, acerta em Caminhos da Floresta naquilo que errou em Nine e se dedica ao desenvolvimento da trama em vez de criar intrincados números musicais. Aqui, canções fazem parte da narrativa e, com exceção da hilária "Agony", não contam com muitas sequências coreografadas, focando nos cenários e personagens que realmente importam.
O elenco, também acertado, exala afinidade e cumpre todas as promessas estabelecidas no início. Cheio de nomes conhecidos, mocinhos e vilões entram na trama como parte essencial dela - e até mesmo aqueles que têm menores participações, como o Lobo (Johnny Depp), a Mãe de Jack (Tracy Ullman), o Príncipe da Cinderela (Chris Pine) e o Príncipe da Rapunzel (Billy Magnussen), não deixam de ter a importância de Cinderela (Anna Kendrick) e do próprio Jack (Daniel Huttlestone). Cada um serve seu propósito de afetar o caminho de seu "protagonista" para que seja atingido o desfecho. Todos têm, também, um momento de êxito próprio, mesmo que esse dure apenas uma canção e, por vezes, indique até mesmo o fim de sua colaboração para a narrativa.
O filme, no entanto, lembra algo que já vimos no passado. As músicas têm sons que já foram tocados e remetem a outras obras de Sondheim, como Sweeney Todd; os cenários da floresta se repetem ao longo das cenas; os personagens nos levam a outras histórias previamente contadas... Acima de tudo, Caminhos da Floresta parece não caber na tela do cinema, passando a sensação de estar confinado naquele retângulo. A tridimensionalidade da história precisa de expansão e são poucas as vezes que o longa consegue transportar o espectador para o ambiente ou a situação retratada.
Por fim, o musical passa longe de desapontar, com inesperadas reviravoltas que surpreendem e divertem. Apesar de ligeiramente familiar, Caminhos da Floresta consegue ser atual, engraçado, tenso e, curiosamente, original.
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