Primeiro filme a chegar ao Brasil pelo Filmes do Mix, selo de distribuição especializado no nicho LGBT, o romance De Repente, Califórnia (Shelter, 2007) pode até ter algum apelo dentro de seu público-alvo, carente de produções que se destinem a ele. No entanto, como cinema, sua relevância é mínima.
De Repente, Califórnia
A produção independente tem boas soluções visuais, uma fotografia interessante e direção de arte caprichada, mas isso era esperado do diretor estreante Jonah Markowitz, já que cuidar das partes estéticas de filmes era sua função na indústria até a estreia como cineasta. É justamente no equilíbrio entre esse interesse pelo estilo e na necessidade de contar uma boa história que a produção se perde. As longas sequências com música alta, mostrando surfistas, skatistas ou mesmo cenas de cotidiano dão ao longa um tom de videoclipe, denunciando certa falta de assunto.
A trama é superficial. Não fosse o fato do romance envolver dois homens, um dos quais desconhecia seu interesse pelo mesmo sexo, De Repente, Califórnia não traz qualquer novidade ao típico e estruturado "homem conhece mulher - casal se apaixona - obstáculo surge entre eles - clímax de superação" conhecidíssimo do gênero.
A história acompanha o jovem Zach (Trevor Wright), artista urbano que coloca seus sonhos de lado para ajudar a família. Sua irmã, Jeanne (Tina Holmes), é mãe solteira de Cody (Jackson Wurth), criança que tem em Zach sua única figura paterna. A vida do rapaz muda quando surge o escritor Shaun (Brad Rowe) e a amizade casual que surge, inicialmente motivada pelo surf, se desdobra em intimidade.
Por mais que o filme traga algumas lições de tolerância
e responsabilidade, superficial como é, jamais conseguirá deixar
a esfera para a qual foi realizado. E, convenhamos, não é esse
o público que precisa ser convencido que "não há
nada de errado com isso", como diria Jerry Seinfeld.