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Crítica: Hellboy II: O Exército Dourado

Del Toro não erra a mão, mas se distancia do personagem das HQs em novo filme

04.09.2008, às 18H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H39
Os quadrinhos de Hellboy

hellboy

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, criados por Mike Mignola
em 1993, não são exatamente um sucesso arrebatador de público. Claro, vendem bem para os padrões da Dark Horse , sua editora nos Estados Unidos, mas estão longe do patamar dos super-heróis da Marvel e DC Comics.

Numa analogia com o cinema, heróis dos quadrinhos como Batman, Homem-Aranha, X-Men e Superman, personagens das duas principais editoras dos EUA, são os filmes arrasa-quarteirão de verão (e, não por acaso, ganham adaptações desse gênero). Já Hellboy, com uma pegada mais autoral e artística, é algo que se aproxima de projetos como O Labirinto do Fauno. Faz um bom dinheiro ao seu criador, é reconhecido pela crítica, disputa (e ganha) prêmios, mas não vai brigar de igual pra igual com Batman. Não tem como.

É curioso então que no mundo bizarro de Hollywood exista uma sucessão tão grande de erros em torno da estratégia cinematográfica deste Hellboy II: O Exército Dourado (Hellboy II: The Golden Army), segundo filme da série.

Acompanhe: O diretor é justamente o mesmo de O Labirinto do Fauno, Guillermo del Toro, que trabalhou ombro a ombro com Mignola na criação desta série no cinema. O primeiro filme já não havia sido um sucesso tão grande, pois apostou numa transformação de Hellboy no super-herói que ele não é (não adianta, Hellboy é um demônio, não um adolescente colegial superpoderoso - a relação entre personagem e público é difícil). Então, por que repetir os mesmos erros? Por que tentar adequar uma série originalíssima a uma fórmula mais fácil, tentando transformar a série no próximo Homens de Preto? E, pior, colocá-la pra brigar com Batman nas bilheterias?

Hellboy funcionaria melhor um pouco mais contido. Mignola é conhecido pela construção de clima, não pelas grandes cenas épicas. Del Toro idem. Então parece que ambos ficaram um tanto iludidos com o potencial da série. E tome monstros colossais, mercados com centenas de criaturas, exércitos com 70 vezes 70 soldados, ação vertiginosa... Não precisava de tanto.

Claro, dá gosto ver o trabalho de Del Toro. O cineasta é um virtuoso visual desde os pequenos detalhes (observe a intrincada coroa do reino das fadas) às cuidadosamente orquestradas cenas de pancadaria. Nesse aspecto, Hellboy é irretocável. E se deixei Mignola de lado aqui é simplesmente porque o quadrinista ficou mesmo de escanteio nesta continuação. O design é todo Del Toro e se parece mais com o já citado O Labirinto do Fauno do que com o trabalho do ilustrador e roteirista.

Outro aspecto que acredito que poderia ser melhor trabalhado é o próprio Hellboy. A interpretação de Ron Perlman está ainda mais "indestrutível" que a do primeiro filme. É como se o herói estivesse ainda mais convencido e seguro de si - tanto fisica quanto psicologicamente. Ele ficou com a mocinha, Liz (Selma Blair) e encara monstros de qualquer tamanho. Faltam à versão do cinema alguns lados mais humanos do demônio (por mais estranha que esta frase tenha ficado), ainda que Del Toro tenha colocado no filme algumas cenas românticas divertidas, como a da bebedeira regada a Barry Manilow. Mas humanizar não é só colocar dores de amor. Felizmente, no terceiro ato esses aspectos começam a surgir, como o sentimento de inadequação e a dúvida do herói se ele está do lado certo. Esse é melhor momento do filme, um aspecto do longa até politizado e dentro de todas as discussões mais relevantes sobre meio-ambiente e sociedade - sem cair na chatice. Com o desfecho, a impressão clara é que o cineasta está guardando o melhor para o final, Hellboy III, que periga não acontecer já que o filme, como o primeiro, não foi um grande sucesso de bilheteria.

De qualquer maneira, minhas ressalvas são mera chatice de fã, admito. As falhas de Hellboy II: O Exército Dourado são defeitos apenas para quem conhece bem os quadrinhos. A tentativa de aproximá-lo do grande público é honesta, os valores de produção são altíssimos e a estrutura funciona dentro das pretensões da aventura. Os novos personagens, o ectoplásmico alívio cômico Johann Krauss (voz de Seth McFarlane) e o orgulhoso vilão Príncipe Nuada (Luke Goss) são ótimos e a trama, um ataque do mundo das fadas ao nosso, ainda que não tenha contraparte nos quadrinhos, é empolgante. Mesmo que seja uma versão mais brilhante e empolgada das HQs, Hellboy migra às telas muito acima da média das adaptações da nona arte. Só reclamo - e aqui cabe um desabafo - porque queria dar nota máxima ao filme. Hellboy merecia cinco ovos, não os quatro ali ao lado.

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Nota do Crítico
Ótimo