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Crítica

Crítica: Sonhos Roubados

Três garotas entre problemas adultos e a vontade de ser menina

22.04.2010, às 16H40.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H01

Seis anos depois de Cazuza - o Tempo não Pára, a cineasta Sandra Werneck retorna à ficção nas telas com Sonhos Roubados (2009).

Sonhos Roubados

Sonhos Roubados

Sonhos Roubados

Inspirado no livro As Meninas da Esquina – Diários dos Sonhos, Dores e Aventuras de Seis Adolescentes do Brasil, de Eliane Trindade, o filme retoma um assunto já explorado por Werneck em seu documentário Meninas, de 2006: o difícil cotidiano das jovens de comunidades carentes.

A trama acompanha três dessas garotas, amigas inseparáveis de colégio que encontram na prostituição uma maneira de complementar o orçamento doméstico ou alcançar seus sonhos de consumo. A mais "esperta", Jéssica (Nanda Costa), se vira como pode para cuidar do avô Horácio (Nelson Xavier) e sua filha Britney. Já Daiane (Amanda Diniz) vive em busca do afeto de seu pai ausente, Seu Germano (Ângelo Antônio). Pra completar, Sabrina (Kika Farias), carente de afeto e atrás de um futuro melhor, se apaixona por um traficante da comunidade.

Ainda que um tanto previsível - histórias como as das três meninas existem aos montes, basta procurar ouvi-las -, Sonhos Roubados é bastante sensível em sua abordagem. A diretora não depende dos diálogos para mostrar o carinho que nutre pelas suas representativas personagens... ela o demonstra através de cenas sutis. A honestidade está na embalagem de shampoo que divide a profundidade de campo ou na cena em que uma das meninas passa batom usando o bule da pastelaria como espelho.

As protagonistas dividem seu tempo entre problemas adultos precoces e a vontade de ser menina. As histórias cruzadas são fortes tanto separadas como nos momentos em que elas se encontram, trocando confidências. Os diálogos, porém, mereciam um pouco mais de cuidado - são instáveis, problema talvez do excesso de roteiristas (são seis, Paulo Halm, Michelle Franz, Adriana Falcão, José Joffily, Mauricio Dias e a própria Werneck) -, mas nada que a qualidade das atuações não salve.

Daniel Dantas está excelente como o pedófilo Tio Peri, equilibradíssimo entre a ojeriza que o personagem causa e a naturalidade com que ele mesmo parece encarar seu desvio. Marieta Severo, um dos pontos altos de Cazuza, mais uma vez tem destaque em um filme de Werneck, agora como a cabelereira que serve como figura materna e amiga a Daiane. MV Bill, que interpreta um presidiário, só não rouba suas cenas porque todas elas envolvem a promissora Nanda Costa, o grande trunfo de Sonhos Roubados. As histórias de Daiane e Sabrina são interessantes, mas é Daiane, através de Nanda, que queremos ver... a garota arisca e atirada, que "rala muito pra ser gostosa", sabe usar o corpo e não vê qualquer problema em se prostituir. Aliás, sequer acredita que o que faz é prostituição, visão honesta que a diretora parece, de certa maneira, compartilhar, já que o filme - acertadamente - não trata o assunto com qualquer preconceito.

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Nota do Crítico
Bom