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Crítica

Detroit em Rebelião | Crítica

Kathryn Bigelow cria clima de guerra em filme sobre tensão racial, mas perde a chance de explorar temas importantes

04.10.2017, às 18H36.
Atualizada em 04.10.2017, ÀS 20H04

Kathryn Bigelow especializou-se em criar filmes de guerra baseados em fatos. A diretora mostrou o terror do Iraque, a caçada a Osama Bin Laden no Oriente Médio e em Detroit – A Rebelião decidiu mostrar que houve uma batalha tão grande e devastadora no solo americano quanto qualquer outra. Porém, nessa batalha não haviam heróis ou bandidos, mas sim um conflito racial que explodiu no final dos anos 60 e causou um dos momentos mais sombrios da história do país.

Focado na onda de protestos realizada em Detroit, no ano de 1967 - quando a população local se revoltou com uma operação policial não autorizada – o filme tem seu ápice no incidente do Algiers Motel, onde policiais torturaram fisicamente e psicologicamente homens e mulheres negros. 

Para ressaltar ainda mais o clima de guerra, Bigelow planejou os cenários e a fotografia da mesma maneira que trabalhou em A Hora mais Escura e Guerra ao Terror, usando câmeras de mão para destacar a tensão do momento e tentando refletir na telona o sofrimento de um conflito racial. Em sua visão, uma guerra aconteceu nos EUA, mas o país não enfrentou nenhum país inimigo e, sim, foi entre sua própria população.

Delegacias ganham ares de campos de refugiados, onde pessoas são amontoadas e estão desesperadas por ajuda, tentando entender o motivo pelo qual estão ali; as ruas estão abandonadas e o clima é tenso a todo momento. Da mesma maneira que esse clima de conflito é o grande trunfo do filme, ele também é um dos grandes problemas estruturais da produção.

O longa tenta dar espaço para todos os envolvidos no Algires e, por conta disso, acaba se perdendo e tirando espaço de personagens que poderiam ter sido melhores desenvolvidos. O principal deles é o militar vivido por Anthony Mackie, que aparece pouco antes do incidente e, ao seu fim, some do filme. Isso também acontece com John Boyega, que vive um segurança que se vê do lado dos policiais preconceituosos. O ator entrega uma atuação sólida com o pouco espaço que teve, mas acabou entrando no amontoado de pessoas que aparecem no longa. 

O personagem que ganha mais espaço é o policial racista vivido por Will Poulter, que comanda a tortura no motel. O garoto mostra potencial para futuros vilões, mas fica claro que ele ainda tem um longo caminho pela frente. O personagem exige uma carga poderosa de sadismo – como, por exemplo, J.K. Simmons fez em Whiplash – e durante suas cenas principais ele deixa a desejar.

O filme também perde muita força no final. A cineasta perde a chance de discutir temas maiores ao focar no tribunal que inocentou os policiais ao invés de mostrar as feridas eternas que ficaram nas vítimas. A diretora decide mostrar apenas o que aconteceu com o músico interpretado por Algee Smith, porém o faz de uma maneira rasa e esquece de refletir sobre tudo o que aquelas pessoas perderam no incidente.

Bigelow tenta mostrar que os EUA não precisou viajar o mundo para entrar em guerra, mas deixa de se aprofundar em discussões maiores e entrega um filme interessante que acaba superficial. 

Nota do Crítico
Bom